SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Na noite de domingo (19), a Barra do Sahy parecia um "cenário de guerra", segundo o médico Juan Lambert. Diretor da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Centro, anexa ao Hospital de Clínicas de São Sebastião, ele diz ter sido uma das primeiras pessoas que chegaram ao local para atuar no resgate de vítimas do deslizamento de terra que destruiu o local.
"O começo foi muito triste porque, quando aconteceu a tragédia, no domingo de manhã, a gente não tinha noção (da gravidade)", relata ele. "O prefeito mandou uma mensagem no sábado à noite e falou 'olha a chuva aumentou, o índice pluviométrico aumentou, fica de stand-by, que vai chover muito'. Ele deixou todo mundo de prontidão."
"Às 4h, aconteceram os desmoronamentos mais graves e, quando amanheceu no domingo, tinha perdido a comunicação com o sul de São Sebastião", diz Lambert.
Um helicóptero da Polícia Militar levou dois médicos que estavam de plantão para o Instituto Verdescola, uma ONG que atua na região.
Lambert seguiu para a Barra do Sahy à noite em um helicóptero do Exército. "Deixaram-me no meio do nada, eu saí andando no escuro, no meio da chuva, procurando a unidade (instituto). Fui me guiando pelos berros, muita gente berrando, chamando pai, chamando mãe. Cenário de guerra. Muita gente machucada, chorando. Os mais graves tinham saído (de helicóptero) com os médicos que foram pela manhã."
O médico permaneceu no local para atender a um paciente com traumatismo craniano e, também, para iniciar a remoção de corpos das vítimas para o centro da cidade.
Inicialmente, os corpos eram levados por moradores da região e por bombeiros para o Instituto Verdescola, que fica na Barra do Sahy. Lá, eram mantidos de forma improvisada, enrolados em cobertores e lençóis, dentro de uma sala de aula.
Foi nesse local que o médico disse ter visto uma das cenas mais chocantes. Segundo ele, na parede havia desenhos feitos por crianças em folha sulfite e, quando se olhava para o chão, havia 19 corpos.
"Essa cena me marcou muito. Tinha um bebezinho de meses, muito sangue no chão. Não tinha luz, só a minha lanterna. Foi bem tensa e bem triste a situação."
Depois, os corpos eram transportados em helicópteros para o centro da cidade. A rua Capitão Luiz Soares, onde fica o Hospital de Clínicas de São Sebastião, foi fechada. Ali duas tendas foram montadas ali para que o IML (Instituto Médico-Legal) pudesse trabalhar e os familiares, reconhecer os corpos o mais rápido possível.
Outra cena chocante, lembra o médico, foi acompanhar as perícias no IML nessas tendas no centro, devido ao estado dos corpos das vítimas. "Nunca mais vou acompanhar uma perícia na minha vida, nunca vou esquecer o que vi ali."
De acordo com ele, policiais militares faziam a segurança da rua para que os curiosos não se aproximassem e vissem os trabalhos dos peritos do IML.
O médico cita ainda que "os voluntários, equipes de saúde, polícia, bombeiro, todo mundo que está no meio dessa enchente" estão desenvolvendo quadros de diarreia e vômitos.
Segunda e terça-feira, de acordo com ele, foram os dias com mais casos -o número exato não foi divulgado. O médico diz que a situação tem melhorado e que os envolvidos querem se curar rápido para voltar aos trabalhos.
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