SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Profissionais de saúde que se voluntariaram no atendimento aos feridos na Barra do Sahy, área mais atingida pelos deslizamentos em São Sebastião (SP), tiveram que improvisar curativos com pedaços de madeira e materiais descartáveis em meio à falta de insumos.

Médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, técnicos de enfermagem, psicólogos e outros profissionais que estavam no bairro trabalharam de forma independente durante horas no domingo (19) até que as primeiras equipes de socorristas conseguissem chegar ao local, acessível apenas por barco e helicópteros devido aos deslizamentos. Estavam lá a passeio, em muitos casos, e se tornaram a linha de frente do socorro à tragédia.

Foi o caso da médica Ana Kober, 36. Ao chegar por volta das 14h ao Instituto Verdescola, que serviu de base para o atendimento das vítimas, ela encontrou feridos espalhados em salas de aula e sobre as mesas escolares. Os insumos médicos eram escassos, e os voluntários estavam desorientados, sem nenhuma autoridade local à vista para organizar a triagem das vítimas.

"As pessoas precisaram imobilizar as fraturas com o que tinha, com bambu ou com madeira, e só depois, aos poucos, começaram a chegar os insumos", conta Kober. "Eu troquei uma imobilização feita com uma madeira e um isopor, porque à tarde já tínhamos materiais mais adequados, como soro e talas. Mas nos primeiros atendimentos precisaram lavar os ferimentos com água e usar o que tinha."

A essa altura, no início da tarde, ao menos três vítimas com ferimentos mais graves já haviam sido levadas por helicópteros para unidades de saúde. Em solo, os voluntários tentavam separar os pacientes de acordo com o grau de emergência e formar uma fila de prioridade para a retirada dos feridos.

O uso do Instituto Verdescola como uma base de atendimento médico parece ter sido organizado de forma independente pelos próprios moradores, diz Kober. Ao menos dez voluntários da área da saúde chegaram a prestar atendimento. "Ali estavam desabrigados e feridos e era uma situação de caos. Não tinha nenhuma presença minimamente oficial, que eu tenha visto."

A própria comunicação sobre a gravidade do deslizamento a quem estava no local foi dificultada pela falta de energia e do sinal de celular no local. A médica ficou sabendo que atendimento médico aos moradores de Vila Sahy era necessária horas depois da tragédia.

À tarde, uma passagem por terra chegou a ser liberada para a chegada das primeiras ambulâncias. As equipes de socorristas chegaram ao Verdescola próximo ao anoitecer, após o trabalho dos voluntários ter começado pela manhã.

No dia seguinte, segunda-feira (20), os socorristas pediram reforços novamente ao grupo de voluntários. As vítimas com ferimentos mais graves já haviam sido retirados do Sahy, mas moradores mais velhos e com doenças crônicas, diabéticos e hipertensos sofriam com a falta de remédios.

Nesta quinta (23), o número de mortos em decorrência das chuvas que atingiram o litoral paulista no último final de semana subiu para 50 ?são 49 vítimas em São Sebastião (SP) e uma em Ubatuba.

Ao todo, 38 corpos já foram identificados e liberados para sepultamento. São 13 homens, 12 mulheres e 13 crianças.

O total de pessoas fora de casa chega a 4.066. São 2.251 desalojados e 1.815 desabrigados. Há, ainda, dezenas de desaparecidos, e o trabalho de buscas continua.


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