SÃO CARLOS, SP (FOLHAPRESS) - Grande parte dos projetos de reintrodução de grandes carnívoros na natureza tem sido um sucesso nas últimas décadas, revela um estudo internacional. Segundo o levantamento, que abrange dados de 22 países em todos os continentes habitados por esses bichos, 66% dessas iniciativas funcionaram. A taxa de êxito é ainda melhor na América do Sul, superando os 90% em reintroduções realizadas no Brasil e no Paraguai.

Os resultados animadores sobre o retorno à natureza de animais como onças, lobos-guarás, tigres e ursos-pretos acabam de ser publicados na revista científica Biological Conservation. A equipe de cientistas usou como parâmetro de sucesso a sobrevivência dos bichos reintroduzidos em seu ambiente natural por mais de seis meses. Segundo essa métrica, outra boa notícia é que a proporção de reintroduções bem-sucedidas está aumentando --era de 50% antes de 2007, ano em que começam as análises do grupo, as quais abrangem dados até 2021.

A equipe do trabalho foi coordenada por Seth Thomas, da Universidade de Oxford, e incluiu também o brasileiro William Douglas Carvalho, pesquisador de pós-doutorado da Universidade Autônoma de Madri. Eles coletaram dados da literatura científica a respeito da soltura de quase 300 animais de diferentes espécies, que vão desde jaguatiricas (os menores a caberem na definição de "grandes carnívoros") até ursos-pardos.

Além de quantificar as taxas de sucesso, o grupo também buscou mapear as características de cada projeto que parecem aumentar as chances de a reintrodução funcionar. O impacto das variáveis não parece ser avassalador, mas algumas coisas ajudam um pouco.

Animais nascidos em cativeiro, por exemplo, têm mais dificuldade para se virar após a reintrodução do que os que nasceram na natureza, por exemplo. Carnívoros mais jovens também se saem melhor nesses projetos, bem como os que passaram por um período de aclimatação antes de ficarem totalmente à mercê das condições naturais. Curiosamente, eles também verificaram que é pior cercar a área em que os animais reintroduzidos vão ser soltos --trechos não cercados de habitat parecem ser o ideal.

Os melhores resultados no processo de soltura aconteceram com lobos-guarás, jaguatiricas e onças-pardas, com 100% de sucesso (embora com um número relativamente pequeno de indivíduos). O processo parece ser mais difícil, por outro lado, com espécies como leões, linces e lobos.

A proporção de casos em que os pesquisadores verificaram diretamente que os bichos libertados conseguiram um parceiro sexual e/ou começaram a criar seus próprios filhotes são menos comuns --por volta de 40%. Essa, no entanto, pode ser uma estimativa bastante inferior ao número real, já que nem sempre é fácil detectar o comportamento reprodutivo dessas espécies.

"Nos últimos 15 anos, conseguimos mais sucesso na tarefa de reintroduzir carnívoros de grande porte. Isso permite que fiquemos otimistas com o futuro da reconstrução de ecossistemas danificados mundo afora", disse Seth Thomas em comunicado. "Mas precisamos lembrar que é sempre mais importante proteger grandes populações de carnívoros onde elas estão agora, antes que as percamos."

Os grandes predadores são fundamentais para a saúde dos ecossistemas. Sua presença impede a superpopulação de herbívoros e de predadores menores, permitindo que a vegetação seja mais diversa e saudável e afetando até a qualidade do solo e da água.

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