SÃO SEBASTIÃO, SP (FOLHAPRESS) - Duas semanas após as chuvas que destruíram parte de São Sebastião, moradores de áreas afetadas pela tragédia começam a dar os primeiros passos para retomar a vida normal e ajudar na reconstrução da cidade -Isso apesar de muitos deles não saberem onde vão morar daqui um mês.
"Para onde vamos depois? Essa é a preocupação. Ninguém me deu resposta", diz a dona de casa Josefa Cristina enquanto amamenta seu bebê, que ainda não tem um mês de vida.
Ela e os três filhos estão hospedados desde quinta-feira (2) em um hostel em Camburi, praia de São Sebastião. A hospedagem integra um programa de acolhimento das vítimas em hotéis e pousadas da cidade, mas o contrato é de um mês. Depois disso, os moradores dizem que não sabem o que vai acontecer.
"O que eu queria era uma moradia que tivesse dentro tudo o que eu perdi. Tenho muito medo de não fazerem nada e irmos para a rua", desabafa Josefa. Sua casa foi destruída pela água.
O hostel hospeda outras 47 pessoas e os proprietários também estão tentando encontrar respostas e lidar da melhor maneira com a situação. "Contratamos a senhora que vendia pastel aqui ao lado como cozinheira e estamos buscando recreadores para entreter as crianças", conta o dono, Patrick Moll.
"Estão todos abalados. Ninguém sabe muito, então vamos dar as mãos", completa sua mulher, Naomi Moll, que pouco antes estava com o bebê de Josefa no colo para ajudar.
"Me perguntam todo dia: Já tem uma resposta? Já tem uma resposta? Mas nós também não sabemos", relata Artur Dutra da Silva Neto, supervisor de duas pousadas em Camburi que hospedam as vítimas. Na primeira, estão 46 pessoas e, na segunda, 91.
"Ainda estamos conhecendo todo mundo e tentando entender o que vai acontecer no mês que vem. Também estamos com medo por eles", diz.
O Governo de São Paulo anunciou que planeja construir casas pré-moldadas de madeira com metragens de 35 e 48 metros quadrados. As primeiras unidades devem ser entregues em até seis meses.
Outra medida anunciada pelo governo foi a ocupação provisória de 300 unidades habitacionais entregues na quinta (2), na cidade vizinha de Bertioga.
Enquanto nos hotéis a dúvida diz respeito ao próximo mês, nas ruas a questão é mais imediata. "Estamos há três semanas na casa do meu patrão", conta Mariane Vieira enquanto caminha apressada com integrantes da sua família carregando pertences pela rua.
Como ela, quem estava abrigado na casa de amigos e patrões não entrou no cadastro para hospedagem em pousadas e hotéis.
"Eu estava no Instituto Verdescola, mas meu pai faleceu e fui para São Paulo cuidar do enterro. Não saí porque quis. Agora estamos na casa de amigos, mas eles não vão querer a gente por muito mais tempo", diz a doméstica Edna Mara da Silva.
A casa dela e do marido, o pedreiro Hélio dos Santos Silva, fica na Vila Sahy, na rua mais atingida pelos deslizamentos. Por fora, não há sinalização se o imóvel foi avaliado como de desocupação imediata ou em análise. Consta na parede apenas uma pequena placa com o logo da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo).
"Colocaram essas placas e não explicaram nada", reclama a cozinheira Maria de Jesus Silva, moradora da rua ao lado. Ela afirma que foi ao CRAS (Centro de Referência da Assistência Social) em Boiçucanga, mas também não tinham respostas ou orientações.
"Estou ficando na casa da minha sobrinha, mas meu marido não quer sair daqui. Estou perdida. É muita falta de informação, eles têm que esclarecer", cobra.
Nas unidades de ensino, o sábado (4) foi de faxina e retirada das doações remanescentes. Moradores em busca de garrafas de água mineral eram orientados a procurar outros pontos de apoio. As aulas retornaram na maior parte do município nesta segunda (6) -por isso, as pessoas que estavam abrigadas em escolas foram transferidas para hotéis.
"Estão todos muito vulneráveis", avaliam as psicólogas Sandra Quero e Márcia Muassab, que integram um grupo de voluntários que oferecerá atendimento presencial e online às vítimas.
Elas explicam que, no primeiro mês após uma tragédia como a observada na cidade, muitos podem desenvolver transtorno de estresse agudo. As vítimas também podem desenvolver estresse pós-traumáticos, chegando a perder a capacidade de viverem sozinhas, e estresse pós-traumático tardio, com os sintomas aparecendo até um ano após o evento.
"Sabemos que daqui a pouco vai parar de sair na mídia, mas as pessoas vão continuar precisando de apoio."
Respostas da administração municipal A Prefeitura de São Sebastião informa que todas as famílias afetadas devem procurar o CRAS para se inscrever em programas sociais e terem seus direitos assegurados, e diz que o governo estadual estuda a implantação de vilas de passagem.
Quanto às famílias que estão em hotéis e pousadas, a administração reforça a cessão de 300 unidades habitacionais no Condomínio Quaresmeira, em Bertioga. "[Elas] serão disponibilizadas pelo período de oito meses às vítimas das chuvas que atingiram o litoral norte. A medida foi tomada em caráter emergencial e deve beneficiar cerca de 1.200 pessoas", diz o município.
Em relação à sinalização das casas, a prefeitura alega que os imóveis estão recebendo os adesivos desde a última quinta. "Nove casas na rua Antônio Tenorio, avaliadas com alerta vermelho já estão sendo desmontadas, bem como outras 70 na Vila Sahy."
Sobre as escolas, o município explica que as unidades de ensino já foram reorganizadas para as aulas presenciais a partir desta segunda, com algumas exceções: a Escola Municipal Profª Nair Ribeiro de Almeida, em Juquehy; a creche Sonho de Criança, no Sahy; e a EMEI de Maresias.
Os três espaços precisam passar por reformas e, por isso, não vão reabrir agora. Os alunos da Nair Ribeiro terão aulas online; as 150 crianças da creche devem retornar no dia 13 de março e os estudantes de Maresias serão transferidos para uma unidade ainda não divulgada.
A prefeitura afirma que os veículos do transporte escolar vão passar em todos os hotéis e pousadas onde os alunos estão abrigados até que seja concluído o mapeamento para a nova rota.
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