SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Via Varejo, dona da rede de lojas Casas Bahia, está desocupando os 14 andares do edifício João Brícola, em frente ao Theatro Municipal ?célebre por ter sediado as lojas de departamento Mappin na região central de São Paulo.
A loja que ocupava quase todo o andar térreo fechou na última sexta-feira (3) e os outros pavimentos do prédio estão sendo esvaziados aos poucos.
O esvaziamento do prédio histórico ocorre em meio à degradação da região central nos últimos três anos, com o crescimento da população de moradores de rua e fuga de comércios durante a pandemia. O mesmo quarteirão do edifício João Brícola e as ruas do entorno estão repletos de lojas fechadas e faixas com o anúncio "aluga-se".
Proprietária do edifício, a empresa São Carlos conversa com empresas do varejo, saúde e educação para definir o destino do imóvel. Ela ainda não sabe se o andar térreo será alugado para apenas um locatário ou se será dividido entre mais de um estabelecimento comercial.
O mesmo vale para os demais andares do prédio, que até agora era ocupado apenas pela empresa que controla a Casas Bahia. Segundo a proprietária do imóvel, a Via Varejo comunicou a intenção de deixar o local em meados de 2022.
O preço do aluguel no local é de R$ 200 por metro quadrado no andar térreo, o que faz com que a locação de todo o pavimento saia por R$ 200 mil.
Na manhã desta segunda-feira (6), clientes desavisados deparavam-se com o portão fechado da loja e deixavam o local frustrados. Cartazes no portão informavam que o fechamento é temporário e orientam os clientes a procurar atendimento em uma loja no Shopping Metrô Santa Cruz, a mais de seis quilômetros de distância.
A doméstica Lindinalva Margarida, 50, vai mensalmente ao local para emitir um boleto da rede varejista, que costuma pagar no mesmo dia do vencimento. Ela mora em Pirituba, na zona norte da capital, trabalha no centro e vai à loja sempre nos intervalos de almoço. Surpresa com o fechamento, Margarida já calculava um prejuízo financeiro por causa da mudança.
"Amanhã eu pago atrasado, mas também pago um juro danado por causa disso", reclamou, justificando que nunca conseguiu fazer esse pagamento pela internet.
A situação de abandono da região, com dezenas de estabelecimentos fechados no entorno do edifício, ocorre em meio ao aumento da violência no centro de São Paulo. De janeiro a outubro do ano passado, a região da Sé teve 5.800 roubos registrados, um aumento de 82% em relação ao mesmo período do ano anterior. O mesmo ocorre nos bairros de Campos Elíseos e Santa Cecília, também na região central.
Um dos símbolos da verticalização da capital paulista, o edifício foi projetado na década de 1930 pelo arquiteto Elisário Bahiana, o mesmo que desenhou o viaduto do Chá, que conecta a praça Ramos de Azevedo à praça do Patriarca. O plano era que o edifício sediasse o banco Banespa, mas acabou preterido pela construção do que se tornou um dos maiores arranha-céus do país, o Altino Arantes.
O Mappin inaugurou uma megaloja no edifício em 1939 e ali ficou por 60 anos. A Casas Bahia alugava o local há 19 anos.
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