SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Cansadas de ver como as mulheres eram uma força invisível de trabalho e sem reconhecimento, um grupo de senhoras católicas decidiu, em 1923, se organizar para apoiar umas às outras. Cem anos depois, a organização se mantém viva e em transformação, sempre sob gestão feminina, para até hoje atender às necessidades das mulheres.

A Liga das Senhoras Católicas de São Paulo completa, nesta sexta-feira (10), cem anos de existência com mudanças que foram acompanhando as dificuldades enfrentadas pelas mulheres. A ONG, criada inicialmente para ensinar sobre economia doméstica, com aulas de bordado e de como limpar a casa, hoje tem cursos que vão de gastronomia a hidráulica e elétrica.

"A Liga foi formada por um grupo de mulheres, que mesmo vindas de famílias da elite, estavam indignadas com a conjuntura da época, com a falta de reconhecimento e apoio que as mulheres recebiam para dar conta de tudo dentro e fora de casa", conta Rosalu Ferraz Queiroz, presidente voluntária da ONG, que nos anos 2000 passou a ser chamada de Liga Solidária.

Para Rosalu, a união das mulheres naquela época demonstra ousadia e força já que, naquele ano, elas sequer tinham direito ao voto -que só foi garantido em 1932. "Não nos era permitido fazer nada, imagine o desafio que foi essa organização de mulheres buscando apoio uma nas outras."

O principal objetivo da Liga naquele momento era oferecer cursos de economia doméstica. Para as mulheres de baixa renda, era ensinado como cuidar das casas mais ricas, com aulas de limpeza, culinária e como cuidar de crianças. Para as da elite, se ensinava como "cobrar" os serviços realizados pelas empregadas domésticas e administrar bem o lar.

"Por mais absurdo que isso soe hoje, para a época era um tipo de apoio. Mas logo elas perceberam que só esses cursos não eram suficientes", diz Rosalu.

Em 1926, a Liga abriu um restaurante embaixo do Viaduto do Chá, no centro de São Paulo, apenas para atender apenas mulheres que estavam começando a conquistar espaço no mercado de trabalho. "Elas passaram a ocupar outros postos, não só os empregos domésticos. Trabalhavam como secretárias, telefonistas."

"Naquele contexto machista e hostil às mulheres, até mesmo almoçar sozinhas era um risco. Por isso, surgiu o restaurante. Era um local que elas podiam ir em segurança, sem ser importunadas e com preço acessível, já que o salário delas era, como ainda hoje, muito menor do que o dos homens", conta Rosalu.

O Restaurante Feminino Liga das Senhoras Católicas funcionou no mesmo endereço até 2001, mas já havia deixado de ser exclusivo para mulheres.

Na década de 1930, a Liga também passou a abrigar crianças orfãs ou que os pais não conseguiam cuidar. Inicialmente, o abrigo funcionou em uma casa na Freguesia do Ó, na zona norte da cidade, e depois foi instalado em um sítio. O local chegou a abrigar simultaneamente 800 crianças.

Com as mudanças na legislação, especialmente após a promulgação do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), a Liga deixou de manter o abrigo e passou a oferecer apenas outros serviços, como creches e cursos profissionalizantes para jovens e mulheres.

Atualmente, a ONG atende cerca de 2.000 crianças em creches conveniadas com a Prefeitura de São Paulo e mais de 1.000 adolescentes em atividades de contraturno. Também oferta cursos profissionalizantes, priorizando o atendimento de mulheres, com aulas de gastronomia, administração, manicure, cabeleireira, hidráulica, elétrica e azulejista.

"Muito mudou nesse período, a atuação da Liga foi se adaptando às novas demandas. O que nunca mudou foi a ajuda mútua entre mulheres, o entendimento de que juntas somos mais fortes", diz Rosalu.


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