SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A maioria das publicações sobre violência contra a mulher nas redes sociais é feita por homens. No Brasil, eles respondem por 56% dos posts, e elas, por 44%, segundo estudo realizado pela Ipsos Brasil com a ONU Mulheres, divulgado nesta quarta-feira (22).

O dado tem como base em mais de 67 mil autores de publicações cujo gênero foi possível identificar entre 2021 e 2022. Além de maior parte das publicações ser de usuários homens, a maioria tem entre 25 e 34 anos (63%) e eles demonstram, principalmente, sentimentos de pena, raiva e tristeza.

Coordenadora da pesquisa no Brasil, Helena Junqueira aponta que muitos casos terem gerado repercussão, especialmente envolvendo crianças, o que causa revolta e comoção na população como um todo.

Para aumentar o engajamento das mulheres, diz ela, é preciso que essa pauta seja mais estimulada, que haja informação sendo divulgada constantemente na internet. "Isso não só ajuda na conscientização como também dá espaço para as mulheres falarem sobre suas próprias experiências", afirma.

Este é um dos resultados da pesquisa que analisou três milhões publicações feitas em 2021 e 2022 em cinco países da América Latina: Brasil, México, Guatemala, El Salvador e Honduras. Entre as postagens analisadas estão notícias, além de posts como Twitter, Instagram, Facebook, YouTube, blogs e também em fóruns de opinião.

Em comum, todos abordavam violência contra a mulher ?os dados foram analisados a partir de uma metodologia que utiliza inteligência artificial para decodificar os temas e emoções das publicações.

A pesquisa mostra que, em geral, o volume de publicações nas redes sobre a violência contra a mulher caiu gradativamente nos últimos anos no Brasil. Em 2019, foram 1,1 milhões de posts. Já o pico aconteceu em 2020, o primeiro ano da pandemia, atingiu 2,6 milhões. Em 2021 foram 860 mil e, no passado, 752 mil.

Junqueira afirma que foi na pandemia e somado às notícias do aumento de violência contra mulher que as pessoas começaram a falar mais sobre o tema nas redes sociais. Além disso, o ano de 2020 foi marcado por casos que geraram muita repercussão, como o da influencer Mariana Ferrer, ofendida em audiência sobre denúncia de estupro, e a mobilização contra o aborto de uma criança de 10 anos.

"As pessoas estão falando menos [sobre violência contra mulher], mas engajando mais. Há debate quando tem casos que geram repercussão, mas falta o debate estimulado de forma contínua", diz Junqueira.

Para a coordenadora da pesquisa, a comparação com o engajamento ?comentários, compartilhamentos e curtidas, por exemplo? mostra que não há falta de interesse na população brasileira diante do assunto, mas talvez de repertório. "Quando essa conversa é estimulada, há muito engajamento."

Entre os cinco países, o Brasil é o país que mais produz conteúdos sobre violência contra mulher e o México fica em segundo lugar. Porém, ao comparar o número de posts sobre o total de feminicídios em cada país, o México é a nação que mais prioriza a discussão.

Outro ponto abordado na pesquisa é como a cultura de massa se mostra um forte condutor para conversa sobre violências contra a mulher. Em reality shows, como "Big Brother Brasil" e "A Fazenda", quando há casos de violência, o público se reconhece neles.

"A discussão é estimulada porque é a violência na nossa cara e acaba abrindo espaços para outras pessoas contarem que já passaram por uma situação semelhante', diz Junqueira.

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