SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Dois anos após o ex-governador de São Paulo, João Doria (então no PSDB), ter anunciado a vacina Butanvac contra o coronavírus, o imunizante ainda não completou a fase de testes iniciais em humanos.

O potencial imunizante, que foi anunciada como o primeiro "100% brasileiro", tem tecnologia produzida no Hospital de Mount Sinai, em Nova York, conforme revelou a Folha de S.Paulo.

À época, Doria disse que a Butanvac estaria pronta para vacinar os brasileiros em setembro de 2021, apenas seis meses após o anúncio do início dos estudos. Na ocasião, o então governador disse que também havia encomendado a fabricação de 18 milhões de doses ao instituto paulista.

Sem serem utilizadas, as doses correm risco de ter o prazo de validade vencido.

Atualmente, a vacina iniciou a fase 2 de testes em humanos no país, quando o imunizante em estudo é aplicado em centenas de pessoas saudáveis para avaliar sua segurança e capacidade de gerar resposta imunológica.

A expectativa agora é de utilizar o potencial imunizante como reforço vacinal, uma vez que não há mais quase voluntários que possam ser incluídos no estudo que não se vacinaram contra a Covid atualmente. Na fase 2, serão testadas 400 pessoas.

Em nota, o Instituto Butantan disse que a Butanvac está na fase de estudos clínicos, momento em que a vacina é testada em humanos para avaliação e definição de dose, além de avaliação de segurança e de imunogenicidade. A atual etapa, de fase 2, tem prazo estimado de 12 meses, mas em seis meses os resultados preliminares poderão ser apresentados à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Os testes agora ocorrem em 400 participantes, com idade entre 18 e 59 anos que receberam até quatro doses de qualquer vacina contra Covid, sendo a última dose recebida de 120 a 240 dias antes da data da entrada no estudo.

Informou ainda que, uma vez terminada a etapa 2, terá início a fase 3 -mas isso depende do andamento e dos resultados, assim como da evolução das variantes de Sars-CoV-2.

Por fim, disse que o IFA (ingrediente farmacêutico ativo) produzido até o momento está sendo utilizado no desenvolvimento da candidata à vacina, e que não houve descarte de imunizantes.

Segundo o diretor do Butantan, o médico infectologista Esper Kallás, o primeiro indivíduo foi vacinado no início de março, e o atraso se deu pela dificuldade em encontrar participantes. "Não há mais 'virgens' [também chamados de "naïves"] de vacina. Praticamente todas as pessoas já tiveram Covid ou já foram vacinadas", disse.

O imunizante é produzido com o vírus da doença de Newcastle, um tipo de vírus que acomete aves, modificado para apresentar a proteína S do Spike (ou espícula, o gancho molecular usado pelo coronavírus para infectar as células). Além do Brasil, a vacina é testada também nos Estados Unidos, México, Tailândia e Vietnã. O Mount Sinai disse ser o detentor da tecnologia e responsável pelos testes pré-clínicos em animais.

Existem duas formulações atualmente em testes: a atenuada, em que o vírus de Newcastle tem sua infectividade reduzida até não conseguir mais causar infecção, atualmente testada nos EUA e Vietnã, e a vacina inativada, nos demais países.

No Brasil, o ensaio clínico e a produção do imunizante focam a formulação inativada, que poderia ser facilmente fabricada em ovos embrionados, da mesma forma como é feita hoje a vacina contra a gripe no instituto.

Porém, o prazo de conclusão da fase 2 ainda está em aberto. Após essa fase, uma terceira etapa, com mais 4.000 pessoas, vai avaliar a eficácia do imunizante para, só então, apresentar os resultados finais da vacina e, a depender deles, solicitar a aprovação à Anvisa.

Resultado da fase 1 não foi divulgado O ensaio clínico de fase 1, feito também no Brasil pelo Butantan, não teve ainda os resultados divulgados. Conclusões de estudos combinados de fase 1/2 na Tailândia publicados no último mês na revista Science Translational Medicine mostraram que a vacina, cujo nome na realidade é NDV-HXP-S (sigla de vírus da doença de Newcastle-hexapro-proteína S) induziu a produção de anticorpos neutralizantes e anticorpos anti-RBD (domínio de ligação com o receptor, em inglês, que é a área onde o vírus se liga às células) comparáveis à vacina da Pfizer 14 dias após a aplicação.

De acordo com os autores, a vacina teve um bom perfil de imunogenicidade com duas doses na dosagem mais alta (10 microgramas, o mesmo que a dose utilizada na Pfizer), sendo assim uma boa opção para os países de baixa e média renda devido a sua facilidade de produção (em ovos, e não utilizando a tecnologia de mRNA) e armazenamento (refrigerado).

Para o diretor de produção de vacinas do instituto, Ricardo Oliveira, o instituto agora "aposta" no candidato a imunizante como uma opção futura de reforço por ser produzida a partir de ovos embrionados, tecnologia já dominada pelo instituto para a fabricação do imunizante contra gripe.

Com um cenário de reforços anuais, conforme tem sido o caso desde o surgimento de novas variantes, a produção de uma vacina nacional para as campanhas anuais contra Covid pode ser uma vantagem importante, e nesse caso o Butantan se coloca como um protagonista com a Butanvac, uma vez que o acordo com a farmacêutica chinesa Sinovac para outra vacina produzida pelo instituto (a Coronavac) não prevê a transferência de tecnologia.

Também passados dois anos desde o anúncio dos resultados preliminares de eficácia, a Coronavac ainda não teve os dados completos publicados em uma revista científica com revisão por pares e reconhecimento científico. Atualmente, os contratos com o Ministério da Saúde para fornecimento do imunizante preveem só a vacinação em crianças de 3 a 5 anos.

Como estão outras vacinas contra a Covid em estudo no Brasil SpiN-Tec

Desenvolvedor: CT Vacinas (Centro Nacional de Vacinas) da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais)

Fase: ensaios 1 e 2 já iniciados

Quantidade de pessoas: 432 nesta etapa + 4.000 a 5.000 na próxima fase

Tecnologia: proteínas similares ao vírus (VLPs), que imitam a proteína S do Sars-CoV-2

Parceiros: MCTI (Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação)

Versamune

Desenvolvedor: Farmacore, PDS Biotechnology (EUA) e Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto

Fase: ensaios 1 e 2 recrutando voluntários

Quantidade de pessoas: 90 (fase 1) + 300 (fase 2)

Tecnologia: proteínas similares ao vírus (VLPs)

Parceiros: MCTI (Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação)

Spray nasal

Desenvolvedor: Laboratório de Imunologia do InCor (Instituto do Coração) da USP

Fase: aprovada para testes, aguardando início dos ensaios em humanos

Quantidade de pessoas: ainda não definido

Tecnologia: nanopartículas contendo proteínas do vírus

Parceiros: Fapesp, Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e de diferentes unidades da USP: a Faculdade de Medicina, o Instituto de Ciências Biomédicas e a Faculdade de Ciências Farmacêuticas


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