SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um adolescente de 13 anos foi responsável pela morte de uma professora da escola estadual Thomazia Montoro, na zona oeste de São Paulo, nesta segunda-feira (27). Além da docente, o estudante feriu outras três professoras e dois colegas com golpes de faca.
O caso alerta para o aumento da violência nas escolas, com casos de agressão física se tornando mais comuns desde o retorno presencial, após a pandemia. No ano passado, ataques com armas e múltiplas vítimas foram registrados em ao menos 4 estados.
As ações são traumáticas para os alunos, os funcionários, o corpo docente e outros estudantes que souberam do atentado por meio de notícias ou redes sociais. Pode ser necessária ajuda profissional e institucional para lidar com o medo, luto e retornar às atividades.
Gabriela Gramkow, doutora em Psicologia Social e professora da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), ressalta que, no Brasil, esse tipo de ataque geralmente está vinculado a algum problema anterior. "É natural que existam conflitos no ambiente escolar, a grande questão é como lidar com eles", diz.
Medidas como a criação de espaços de acolhimento em casa e na escola ajudam os envolvidos a elaborar o luto após o ataque e a evitar novos casos. Além disso, auxiliam aqueles que não foram vítimas do atentado, mas sentem medo ou insegurança em decorrência das notícias sobre o acontecimento.
Esses espaços de escuta não precisam ser organizados apenas por profissionais de saúde mental externos ao ambiente escolar, mas sim pelo próprio educador. "A escola pode e precisa manejar as suas relações educacionais", aponta Gramkow.
Apesar disso, a psicóloga ressalta a importância de intervenções especializadas nessas situações. Na capital paulista, o Naapa (Núcleo de Apoio e Acompanhamento para a Aprendizagem), da prefeitura de São Paulo, atende jovens em sofrimento psíquico.
O núcleo é composto por profissionais de diversas áreas que atendem as escolas da rede municipal de ensino conforme demanda, e pode auxiliar em casos de ataques.
Iniciativas coletivas e institucionais são importantes para referenciar o luto e compreender o trauma dentro da própria comunidade escolar. Após uma experiência traumática, é importante que os indivíduos, vítimas ou expectadores distantes, falem sobre a experiência. É preciso, porém, respeitar o tempo de cada estudante e do próprio corpo docente.
"Silenciar o luto é continuar o ciclo da violência", afirma Gramkow.
Nos primeiros dias, é natural que as atividades da escola sejam interrompidas e que muitos não se sintam confortáveis para retornar à rotina.
Gramkow indica que "quando o acontecimento é muito recente, não faz sentido pensarmos em tempo de luto. É necessário um tempo de processamento".
Contudo, pode haver casos em que o jovem da escola envolvida ou de outras instituições tenha mais dificuldade de voltar às aulas. Nessas ocasiões, a instituição de ensino pode organizar um processo de busca ativa para acolher o estudante e incentivar o seu retorno.
Sinais de paralisia, negação, falta de vontade de se alimentar ou realizar atividades são preocupantes, segundo a especialista. Locais como o Caps-IJ (Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil) podem oferecer auxílio.
A professora ressalta, porém, que nos primeiros momentos após o trauma, é preciso acolher as demandas dos estudantes, buscando entender o que elas representam, e enfrentar estratégias de evitação. "É preciso viver esse luto."
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