SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Pessoas em situação de rua na Praça da Sé, no centro de São Paulo, têm reclamado da dificuldade para beber água durante a noite. Muitas delas optam por fontes que foram instaladas durante a fase mais restritiva da pandemia para higienização, cuja água não é própria para consumo.
Parte se recusa a deixar o local para ir a albergues no período noturno, com medo de deixar os pertences ou de se afastar de amigos e parentes.
Durante o dia, a região central conta com nove núcleos de convivência, segundo a Prefeitura de São Paulo, com capacidade total para 2.700 pessoas, acompanhadas ou não pelos filhos. Na Sé, estão os núcleos Dom Orione, Prates, Boracéa, Núcleo Sé, Casa Franciscana, Rodrigo Silva e Chá do Padre.
A gestão Ricardo Nunes (MDB) diz que, além dos núcleos de convivência, mantém 47 serviços de acolhimento no centro, com 6.150 vagas e serviços de água potável, alimentação e higienização.
Segundo integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, que fazem distribuição de marmitas na praça, os pedidos por água ficaram mais frequentes com o calor no início do ano. A reportagem acompanhou uma ação do movimento a cerca de dez metros de uma base da Guarda Civil Metropolitana.
Na ocasião, além de pessoas que ficam na Sé, transeuntes também bebiam a água do equipamento instalado na pandemia. Há outra fonte de frente para o Pateo do Collegio, a cinco minutos dali.
"A população que se alimenta das marmitas da Cozinha Solidária sempre pede água. Infelizmente não conseguimos entregar na maior parte dos dias, dependemos de doação, assim como eles", diz Ana Paula Perles, coordenadora do projeto.
Um homem, que não quis se identificar, tomava banho e lavava uma camiseta usando a água da fonte. Para ele, é complicado beber água à noite na região.
A observação é a mesma de Nany, 43, que afirma que as fontes na região da Sé costumam secar à noite, e que se não encher uma garrafa até as seis da tarde, só no dia seguinte.
Ela prefere não ir para albergues porque as vans passam para mapear o público local e oferecem a ida, mas a volta precisa ser percorrida a pé. Por isso, prefere ficar na praça. "Às vezes falam que tem água no Parque Dom Pedro, mas muita gente não tem condição de ir até lá procurar", conta.
"No Chá do Padre é cheio, você tem que chegar até umas 17h30, ou não consegue tomar banho, lavar roupa e jantar", diz Nany. No local, que atende cerca de 700 pessoas por dia, os pedidos por água potável ou garrafas para armazenamento são frequentes.
Em outra visita ao local, após as 18h, a reportagem constatou que a fonte da Sé funcionava, mas pessoas que bebiam a água afirmavam que o serviço é intermitente, e que levam garrafas para garantir a água para a noite.
De acordo com a Sabesp, os pontos de água potável são recomendados para higienização das mãos, e as condições dos bebedouros podem influenciar na qualidade da água. Sobre a intermitência, a companhia diz que adota, desde os anos 1990, um controle no fornecimento de acordo com a demanda.
"Quando há menos consumo, reduz-se a pressão nas redes a fim de evitar perdas por vazamentos e rompimentos. Quando o uso é retomado, a pressão é reajustada."
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