SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os professores precisam receber cursos de maneira continuada para colocar em prática o novo ensino médio, na opinião da diretora de formação de docentes do Ministério da Educação.

Cybele Amado, 55, que assumiu no MEC a função de atuar em políticas de capacitação dos educadores, é reconhecida por ter realizado um projeto de formação continuada de professores e gestores da rede pública na Chapada Diamantina, na Bahia. O programa teve início nos anos 1990, recebeu prêmios e se tornou referência.

Para Amado, a formação continuada é essencial para que os professores estejam aptos a atuar no novo ensino médio, que está em vigor no país desde o ano passado e vem enfrentando uma série de críticas por meios de educadores e estudantes.

Aprovado em 2017, durante o governo Temer, o novo modelo reorganiza a grade curricular. Agora, os alunos têm uma formação básica comum e optam por um currículo específico, os itinerários formativos. Essa parte ocupa 40% da grade e traz cinco opções: ciências da natureza; linguagens; ciências humanas e sociais; matemática; e formação técnica e profissional.

A política tem despertado críticas, como as de que o modelo ignora a falta de professores e de estrutura do ensino público no país. A pressão de estudantes e professores fez o governo Lula (PT) decidir suspender o prazo para a implementação da medida. A portaria, que deve ser publicada nos próximos dias, visa acalmar os ânimos e evitar maiores impactos à imagem do governo e do presidente.

Amado afirma entender que sejam necessários ajustes ao formato, mas defende que "a reforma é importante".

"Não podemos manter o antigo ensino médio com os resultados que ele nos trouxe", afirma a pedagoga à reportagem. "Mas é fundamental que haja formação continuada dos professores para os avanços do ensino médio e de suas novas propostas."

Nascida em Salvador, a pedagoga tornou-se uma grande defensora da necessidade de se oferecer formação continuada para os educadores. "A formação continuada é um direito do professor e um dever do Estado, e seu papel é manter a reflexão cotidiana dos temas contemporâneos", afirma.

Em 2019, assumiu, na Bahia, a diretoria do Instituto Anísio Teixeira, órgão ligado à Secretaria de Educação do Estado que é responsável por cursos de formação para professores. Foi quando desenvolveu um programa de capacitação que integrou docentes da rede estadual e das escolas municipais.

A experiência serve de base a dois dos principais objetivos de Amado no MEC: o de fomentar a criação de órgãos específicos para a formação continuada de professores, ligados às secretarias estaduais de educação, e o desenvolvimento de programas que integrem professores e gestores das redes estaduais e municipais de ensino.

"Quando fizemos essa integração na Bahia, ficou evidente como não faz sentido deixar de somar os saberes da rede estadual e das redes municipais", ela diz. "Uma professora nos contou que trabalhava em uma escola estadual e que havia uma municipal na frente. Apesar dessa proximidade, as equipes de uma e de outra não trocavam experiências."

Além de se voltar ao novo ensino médio, os programas de formação continuada no país devem, na avaliação de Amado, ter como uma das prioridades a alfabetização, especialmente considerando os prejuízos à essa fase da educação causados pelo prolongado fechamento das escolas na pandemia. Para isso, na opinião da diretora do MEC, é preciso mapear boas experiências de recuperação da alfabetização que já existem no país, de forma localizada, e atuar para que sejam disseminadas.

Amado também acredita que a formação continuada seja importante para desenvolver nos docentes a capacidade de trabalhar com a educação midiática. O termo diz respeito a práticas que levem os alunos a manter uma relação saudável com os meios digitais, com uma leitura crítica desse universo, capaz, por exemplo, de detectar e de combater as fake news. Para ela, as faculdades que formam professores no país ainda não os preparam para atuar nessa que se tornou uma das frentes prioritárias da educação, inclusive por determinação da BNCC (Base Nacional Comum Curricular).

"É preciso fornecer aos educadores as ferramentas para que ajudem seus alunos a desenvolver uma relação saudável e ética com a internet, a entender o poder dos algoritmos, a força das redes sociais, a reconhecer e a combater a desinformação."

ENTENDA O NOVO ENSINO MÉDIO

**O que é**

Política aprovada em 2017, por medida provisória, durante Temer (MDB), definiu que parte da carga horária seria escolhida pelos estudantes para que pudessem aprofundar os conhecimentos na área de maior interesse.

**Estrutura**

Ampliou o número de horas de aulas anuais obrigatórias para a etapa, passando de 800 para ao menos 1.000. Assim, a carga horária total do ensino médio foi ampliada em 25%, de 2.400 para 3.000 horas, sendo:

60% da carga horária comum com as disciplinas regulares

40% formados por optativas dentro de cinco grandes áreas do conhecimento, os chamados itinerários formativos

**Limitações**

Ao longo dos três anos da etapa, o tempo dedicado às disciplinas tradicionais não pode ultrapassar 1.800 horas. Como antes as escolas tinham 2.400 horas para distribuir as aulas das matérias comuns, na prática, o teto reduziu o tempo dedicado exclusivamente para disciplinas como matemática, português, história e geografia

**Definição de itinerários e disciplinas**

A lei diz que as redes de ensino têm liberdade para definir quais itinerários e disciplinas querem criar desde que estejam dentro de uma das cinco áreas do conhecimento: ciências da natureza; linguagens; ciências humanas e sociais; matemática e formação técnica e profissional

**Para quem vale**

Todas as escolas públicas e privadas do país. Cerca de 7 milhões de estudantes foram impactados com a política, a maioria deles (cerca de 85%) estão matriculados em escolas das redes estaduais de ensino

**Prazos**

A lei estabeleceu um prazo de cinco anos para as redes de ensino se prepararem, seguindo o seguinte cronograma: 1º ano do ensino médio em 2022, 2º ano em 2023 e os três anos da etapa até 2024. Muitas redes, no entanto, começaram a implementação antes, como a rede estadual paulista, que iniciou o processo em 2021


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