JUAZEIRO DO NORTE, CE (FOLHAPRESS) - Amanda, José, Albertina, Gabriel. Os nomes dos fiéis que pedem por bênçãos preenchem as paredes de capelas na Colina do Horto em Juazeiro do Norte, no sertão do Ceará, onde fica a estátua do padre Cícero Romão Batista. Nesta Sexta da Paixão, o local foi destino de fiéis que se deslocam clamando pela remissão de seus pecados e pagando promessas.
Homens, mulheres e crianças percorrem anualmente o caminho até a estátua do religioso, cartão postal do município, a 531 km de Fortaleza. A estimativa é que neste ano o local receba aproximadamente 150 mil fiéis até domingo (9).
O caminho até lá é feito pela tradicional ladeira do horto, espaço que acolhe monumentos com as estações da Via-Sacra, representando o caminho que Jesus teria feito até o Calvário.
São aproximadamente 2,5 km de chão. A movimentação, que inicia na madrugada, se intensifica às 6h, quando padres de diferentes paróquias da cidade se reúnem junto a população para fazer o percurso.
"Hoje nós repetimos os passos feitos por Jesus e também o caminho feito pelo Padre Cícero, quando ele saia do centro da cidade até a Colina do Horto a pé para fazer suas preces", conta o reitor da basílica Casa da Mãe das Dores, padre Cícero José.
A construção imaginária do espaço da Colina é carregada de simbologias. O local, que compreende as rochas mais antigas da região do Cariri cearense, originadas no interior da Terra há aproximadamente 650 milhões de anos, abriga também o Santo Sepulcro, lugar considerado sagrado pelos devotos.
Não é coincidência seu nome ser o mesmo do templo cristão localizado na Cidade Antiga de Jerusalém, onde Jesus teria sido crucificado, sepultado e, ao terceiro dia, ressuscitado. O memorialista Renato Dantas explica que o batismo do lugar como Santo Sepulcro é uma consequência da relação entre a geografia da Colina do Horto com a estrutura existente na Palestina.
"O Horto é o Horto das Oliveiras, no Santo Sepulcro tem pedras que representam a gruta onde Jesus teria sido sepultado, o Rio Salgadinho que corta a cidade seria o rio Jordão", conta Renato. A analogia foi feita no fim do século 19, através de escrituras e fotografias pelos beatos Palmeira e Manoel João, estando o último enterrado em túmulo no Santo Sepulcro.
Composto por sete capelas centenárias, é marcado por quem passa através dos nomes escritos nas paredes, fitas coloridas, velas e imagens de santos.
São muitas as expressões de fé que envolvem o espaço. Fiéis carregam pedras representando seus pecados, sobem de joelhos as escadas até a estátua do padre Cícero, fazem o percurso descalços ou mesmo prometem sair de longas distâncias até o local na madrugada.
O comerciante Airton Macedo, realiza a caminhada há mais de 20 anos. Saindo do Sítio Lagoa Rasa em Crato (CE), mobiliza a comunidade e junto de um grupo de aproximadamente 30 pessoas, percorre 24 km a pé até a colina.
"Até hoje, eu me sinto realizado quando chego aqui aos pés do meu padrinho [Cícero] e olho pra minha vida, só tenho a agradecer", conta com emoção. Nos anos 1990, passando por dificuldades financeiras, pediu prosperidade e prometeu fazer o trajeto anualmente enquanto tiver saúde.
Junto dele, caminha Luiz Herculano, que há 12 anos sofreu um acidente que o deixou impossibilitado de andar. "Pedi a Deus e ao meu Padim Ciço, que se eu conseguisse caminhar e andar a cavalo, eu vinha aqui todo ano pedir a bênção. Já faz dez anos que venho", conta.
De Barbalha, cidade vizinha, um grupo de amigos saiu à 1h da madrugada. "Nós chegamos aqui por volta das 5h, é um momento de muita fé. Estamos cansados, estafados, tomando uma cajuína, um vinhozinho agora na reta final, mas felizes por estarmos aqui", conta o psicólogo José André.
Para o comércio, o dia também começa cedo. Beatriz Evangelista é natural de Juazeiro do Norte e moradora da ladeira do Horto, desde criança acorda com a movimentação do local e tem uma banca onde vende milho na quinta e Sexta-feira Santa.
"Aqui não para, desde ontem que é gente subindo e descendo. Desde às 5h que eu tô de pé e espero vender essa saca aqui todinha".
Por outro lado, jovens buscam por diversão e fazem da data uma festa. Descem e sobem a ladeira com caixinhas de som em um ritual à parte. Alan Arraes conta que mesmo pela brincadeira, também pedem pelo perdão de seus pecados.
"Já subimos e voltamos, não vamos até o Santo Sepulcro, pois é muito longe, mas chegamos eram 4h, vamos na brincadeira, mas também pedimos perdão por sermos pecadoras demais. Uns fazem promessas, outros vêm pela bebedeira".
De bicicleta até a entrada da Ladeira do Horto, Otacílio Ramos já realiza a caminhada há 29 anos. Chegou em Juazeiro por amor. Em 1979 encontrou sua esposa em São Paulo, fixando moradia na cidade do Padre Cícero em 1993. Desde então, não perde uma caminhada.
"Eu já venho do Santo Sepulcro, às 5h30 eu já estava por lá. Agora já tô de volta pra casa". Na despedida, com olhos carinhosos me desejou boa sorte e um bom trabalho.
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