Um grupo de criminosos invadiu uma das aldeias do povo Kanamari, no Vale do Javari, Amazonas, no domingo (16). Segundo informações do Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI), divulgadas nesta quarta-feira (19), lideranças registraram boletim de ocorrência na delegacia de Atalaia do Norte, relatando que os invasores estavam armados com fuzis e fizeram ameaças de morte a um líder da aldeia.

O ataque acontece apenas dois meses após a reunião de povos indígenas com representantes do governo federal, que buscou sinalizar o fortalecimento da presença do Estado na região.

Ainda conforme denúncia da OPI, os criminosos chegaram ao local a bordo de um bote de alumínio e se comunicavam em espanhol. A entidade também destacou que agentes da Polícia Federal (PF) se deslocaram até o local, guiados por indígenas.

Por meio da OPI, sabe-se que os Kanamari enviaram uma carta à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), em que fazem um apelo pela presença urgente de equipes da PF, da Funai e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Na mensagem, as lideranças dizem que estão cansadas de avisar ao governo sobre a chegada de invasores, que praticam atividades ilegais de extração de madeira e pesca dentro das aldeias dos Kanamari, tornando-os "reféns do medo".

O observatório informa, ainda, que, em outubro de 2022, um líder Kanamari já havia recebido ameaças de morte por pescadores ilegais, quando navegava na mesma região em que o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips, do The Guardian, foram assassinados, em junho do mesmo ano.

"A Comissão Interamericana de Direitos Humanos determinou, também em 2022, medidas cautelares para proteger 11 pessoas ameaçadas na região. Após o ataque aos Kanamari, a Justiça Federal do Amazonas atendeu pedido da Defensoria Pública da União (DPU) e determinou a realização de operação conjunta com Funai, Ibama, Força Nacional e Forças Armadas, para coibir os criminosos que seguem ameaçando a vida de indígenas e servidores públicos na região", disse a organização.

A Agência Brasil procurou a Funai, a PF e o Ibama e aguarda retorno.

Julgamento

Na segunda-feira (17), a Justiça Federal do Amazonas deveria ter encerrado a coleta de depoimentos das testemunhas do assassinato do indigenista e do jornalista, em audiências que definirá se vão a júri popular os acusados pelo crime Amarildo da Costa Oliveira, Oseney Costa de Oliveira e Jeferson da Silva Lima, detidos em presídios federais. Estavam previstos três depoimentos, mas a última testemunha foi dispensada pela defesa.

Os três réus também começariam a ser ouvidos na mesma data, mas houve adiamento, por decisão do juiz Fabiano Verli. Em nota, a Subseção Judiciária de Tabatinga, município onde as audiências estão sendo realizadas, esclareceu que o magistrado atendeu a uma solicitação da defesa, que entendeu que haveria prejuízo se o interrogatório dos réus acontecesse naquele dia e apresentou um pedido habeas corpus. O juiz remarcou o interrogatório para o dia 8 de maio. Caso o habeas corpus seja deferido, pode haver novo adiamento.

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