SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Moradores do centro de São Paulo mudaram a rotina diante da alta da violência desde o início do ano. Dados oficiais sustentam essa sensação de insegurança, com aumento de 35,7% nos furtos e 18,5% nos roubos no primeiro bimestre de 2023, na comparação com o mesmo período do ano passado.
Os percentuais se referem aos números de boletins de ocorrência registrados nas dez delegacias que atendem os bairros da região.
Entre janeiro e fevereiro deste ano, foram 11,6 mil furtos registrados no centro, contra 8,6 mil no ano anterior. Em ritmo menor, mas em tendência de alta, o número de roubos foi 4,9 mil ante 4,2 mil em 2022.
O 3º distrito policial (de Campos Elíseos) é o recordista de furtos (2.429) e de roubos (1.526), seguido pelo 1ª distrito policial (Liberdade) que teve 1.967 boletins de ocorrência por furtos e 956 por roubos nos dois primeiros meses do ano. Em comum, as duas delegacias atendem áreas problemáticas da cidade, como a cracolândia e a praça da Sé.
Na sequência, a região atendida pelo 4º distrito policial (Consolação) praticamente dobrou o número de furtos registrados no início deste ano em comparação com o ano anterior ?a alta foi de 85%. A delegacia atende parte da avenida Paulista onde atua a chamada gangue da bicicleta com foco em roubos de celulares.
Moradores e comerciantes relatam aumento da violência no centro, principalmente, a partir de maio do ano passado, quando prefeitura e governo de São Paulo iniciaram uma série de ações que culminaram na dispersão da cracolândia.
O aposentado Edison Dantas Barbosa, 65, conta que o prédio onde mora, nos Campos Elíseos, ficou sem luz na última quarta-feira (12) após três homens terem escalado o portão e roubado os fios de eletricidade.
"Acordei de madrugada e percebei que estava sem energia. Pela manhã, vimos pelas câmeras de segurança que os fios tinham sido cortados", diz ele, que articula com vizinhos a contratação de segurança particular e a instalação de uma grade em volta da ligação de energia com o poste da rua. "Moro aqui há 23 anos e nunca tive medo de andar na rua como tenho hoje."
Na avenida São João, o vigilante Severino Soares, 58, aguardava com a filha a chegada do transporte escolar no início da tarde de terça-feira (18) em frente ao prédio onde mora. Ele preferiu sair de casa com os bolsos vazios, precaução que adota desde que foi roubado no ano passado. "Tinha acabado de me mudar para cá quando fui assaltado nessa esquina por uns dez caras armados com estiletes. Levaram tudo: carteira, relógio, celular."
Há menos de duas semanas, ele foi vítima de outro crime parecido. "Estava acompanhando meu filho no ponto de ônibus da Duque de Caixas, por volta das 6h da manhã, quando um grupo fez um arrastão. Como eu não tinha nada, fui poupado, mas as outras pessoas, até alguns idosos, tiveram os pertences levados".
Questionada, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) disse que ampliou a presença policial na região, com o reforço de 120 PMs e 50 policiais civis. Ainda segundo a pasta, "entre os dias 3 e 9 de abril 43 pessoas foram presas em flagrante, sendo destes 18 por furto e 8 por roubo".
Diante do aumento do índice de criminalidade na região central, a prefeitura instalou grades em volta de canteiros na praça da Sé. O 1º distrito policial, que inclui a Sé, registrou no primeiro bimestre do ano a maior quantidade de roubos da série histórica, iniciada em 2002.
Para o membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Guaracy Mingardi, o medo da violência é impulsionado pelo maior conhecimento de casos por meio de compartilhamento de imagens de assaltos em redes sociais e grupos de mensagens. "A sensação de insegurança depende do que você sabe e como você sabe", diz ele.
Em frente ao edifício Andraus, a poucos metros da praça, o vigilante Edson Francisco de Oliveira, 50, orienta a população. "Sempre que vejo alguém distraído eu dou um toque, falo para guardar o celular. Aqui, se você não anda alerta, a chance de ser furtado é grande", disse o profissional de segurança, que trabalha no local há 5 meses.
A sensação de insegurança tem feito parte da população evitar a região, especialmente durante a noite, mesmo com presença policial reforçada nos últimos meses. "Viatura tenho até visto mais, só que ainda assim dá medo. De noite, depois das sete horas, eu não piso mais aqui", disse o técnico em manutenção João Pereira de Souza, 55.
Os moradores têm relatado maior policiamento nas ruas do centro nas últimas semanas, mas o pesquisador Mingardi critica a prioridade dada pela Polícia Militar às rondas em carros. "A viatura dá para ver de longe e o ladrão foge e vai roubar na rua ao lado", diz. "No centro, o policiamento tem que ser feito a pé, senão apenas espanta o ladrão de um lado para o outro", continua.
Natural de Ubaí, no norte de Minas Gerais, ele veio morar em São Paulo ainda jovem, e diz que não reconhece mais o centro da cidade. "Antes o centro tinha tudo, as pessoas vinham muito para cá para se encontrar, atrás de lazer. A violência sempre teve também, mas tem multiplicado demais", disse.
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