SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Prefeitura de São Paulo interditou um quarteirão inteiro formado por 55 casarões da antiga cracolândia com risco de desabamento, na região central da capital paulista.

Há um projeto para a construção de unidades de habitação social no espaço, mas para dar início às obras, parte dos casarões precisa ser demolido -o que ainda não tem previsão de início.

Para impedir que os escombros atinjam pedestres e veículos, há cerca de três meses, a prefeitura mantém uma fileira de cavaletes que interdita parcialmente a rua Helvétia, entre as alamedas Barão de Piracicaba e Dino Bueno, e o largo Coração de Jesus, onde estão localizados os imóveis condenados.

A medida foi determinação da Defesa Civil e ocorreu em fevereiro, quando um muro caiu sobre um carro e deixou três pessoas feridas, segundo a gestão municipal.

De acordo com a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), no quarteirão há 20 imóveis tombados -que serão preservados no projeto que irá construir 190 unidades de habitação social.

Para dar prosseguimento ao processo de demolição, ainda falta obter na Justiça mandados de imissão de posse de dois imóveis. "A demolição é realizada após uma avaliação para evitar danos nas estruturas tombadas", informou a gestão em nota. As obras estão em andamento, segundo a prefeitura.

Os casarões antigos foram abandonados pelos proprietários desde quando a cracolândia se instalou no entorno e os imóveis passaram a ser usados como esconderijo para traficantes, segundo investigações da Polícia Civil.

Agora, destoam da paisagem porque ficam no quarteirão em frente ao Hospital da Mulher, recém-inaugurado. Funcionários contam que evitam passar pelo quarteirão e dão a volta para chegar até a estação da Luz, que fica a poucos metros de distância.

Parte do estado de degradação, segundo vizinhos dos casarões abandonados, foi causada pela ação de dependentes químicos que invadiram os imóveis para destruir a alvenaria e retirar as estruturas de ferro, além das portas e janelas de madeira. Os materiais são bem avaliados nos ferros-velhos próximos.

Moradores flagraram a ação em vídeos que mostram pessoas em cima dos telhados com marretas para quebrar tijolos e rebocos de parede. As sequências são compartilhadas com frequência em grupos de mensagens.

O agravamento da situação ocorreu mais de um ano após os casarões terem sido desocupados e lacrados pela prefeitura em uma ação de despejo em outubro de 2021, após determinação da Polícia Civil que atrelou o uso dos imóveis ao tráfico de drogas.

Alguns endereços funcionaram por décadas como pensões e hotéis de alta rotatividade e, para impedir a invasão, as portas dos imóveis foram emparedadas. Cadastro feito em 2018 contabilizou 190 famílias e 387 pessoas que moravam nos casarões deteriorados.

Na ocasião, a Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo instaurou uma ação civil pública para obrigar o poder público a atender a demanda habitacional das famílias que foram despejadas. Mais recentemente, uma nova ação foi aberta para preservar o patrimônio tombado. "Temos cinco ações civis públicas abertas só para aquele quarteirão", diz o promotor Marcus Vinicius Monteiro dos Santos.

Cerca de cinco anos antes, em maio de 2017, o local foi alvo de outra atuação da promotoria quando a gestão do então prefeito João Doria (PSDB) deu início à demolição de uma pensão na alameda Dino Bueno que ainda estava ocupada por moradores. Três pessoas ficaram feridas.

Na época, a prefeitura afirmou ter avisado os moradores de que haveria a demolição e que o imóvel deveria ser desocupado. Com a ação do Ministério Público, a ação foi paralisada.

Outro entrave para a intervenção no quarteirão foi a falta de um conselho gestor, formado por moradores do local e membros da administração municipal, conforme previsto no Plano Diretor Estratégico, por se tratar de uma área de zoneamento especial com imóveis deteriorados em locais de interesse público com concentração de serviços e transporte público.


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