LISBOA, PORTUGAL (FOLHAPRESS) - Além de provocar uma crise sanitária de proporções inéditas, a pandemia da Covid-19 teve profundas implicações políticas e econômicas em boa parte da Europa, com consequências que ainda reverberam neste ano vivendo com o Sars-CoV-2.

Embora a França tenha sido o primeiro país do continente a registrar oficialmente um caso do novo coronavírus, identificado em 24 de janeiro de 2020 em uma pessoa que havia viajado para a China, a Itália foi a primeira nação europeia a vivenciar suas consequências devastadoras.

Nesta sexta-feira (5), após mais de três anos e quase 7 milhões de mortes, a OMS (Organização Mundial de Saúde) declarou que a Covid-19 não é mais uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (Espii).

Cerca de uma semana após o primeiro diagnóstico confirmado em território italiano, em 20 de fevereiro de 2020, o país já acumulava 17 mortes e 650 infecções, concentradas sobretudo no Norte do país.

Autoridades da região começaram então, por conta própria, a adotar medidas de controle de circulação. Dizendo-se publicamente contra o "alarmismo" e os efeitos negativos na já abalada economia italiana, o então primeiro-ministro, Giuseppe Conte, foi inicialmente contra as restrições. O Executivo chegou a recorrer aos tribunais para derrubar decisões locais. Não demorou para que a situação saísse de controle.

O número de casos e mortes explodiu em todo o país, e as imagens do caos em hospitais italianos lotados correram o mundo. O lockdown nacional, o primeiro da União Europeia, acabou decretado em 11 de março. Atingido pelas críticas à gestão inicial da pandemia, Giuseppe Conte acabou renunciando ao cargo de premiê em janeiro de 2021.

No Reino Unido, o começo da pandemia também foi marcado por críticas à condução das medidas sanitárias por parte do governo de Boris Johnson, inicialmente contrário às estratégias de isolamento social.

Enquanto Itália, França, Espanha e outros países já tinham medidas de restrição impostas, as autoridades britânicas permitiam circulação do vírus, com o objetivo de atingir uma "imunidade de grupo" para a população.

Diante do aumento vertiginoso de casos, seguido de uma carta pública assinada por mais de 200 cientistas, o governo britânico acabou por decretar um confinamento geral em 19 de março. Dias depois, o próprio Johnson foi infectado pelo vírus e desenvolveu um quadro grave de Covid-19. No começo de abril, o premiê precisou ser internado nos cuidados intensivos.

O país adotou então uma política rígida de confinamento, com restrições a aglomerações e obrigatoriedade de testes e máscaras em várias situações.

Após perder pontos com a opinião pública devido à hesitação inicial no combate à Covid-19, Johnson conseguiu recuperar popularidade ao investir na agilidade da vacinação.

Menos de um ano após o começo da pandemia, o Reino Unido foi o primeiro país do ocidente a aplicar uma dose do imunizante, em 8 de dezembro de 2020. Pelos números oficiais, mais de 60 mil pessoas já haviam morrido por conta da doença até aquele momento no país, que sempre figurou entre os mais afetados do continente.

Ainda que tenha sobrevivido, literalmente, ao pior da pandemia, Boris Johnson afundou-se em uma série de problemas políticos após a revelação de que ele e pessoas de seu gabinete haviam participado de festas durante o período em que a população do país estava confinada.

O conservador sobreviveu a uma moção de censura motivada pelo episódio, mas terminou renunciando em julho de 2022, em meio a um escândalo sexual que envolveu Chris Pincher, um deputado conservador de quem era muito próximo.

Na União Europeia, os líderes do bloco tentaram a todo custo passar uma mensagem de ação conjunta contra o vírus. Na prática, porém, houve momentos de conflito entre os estados-membros, a começar por um inédito fechamento de fronteiras, seguido por disputas por equipamentos de proteção individual e por profissionais de saúde.

Diante das incertezas sanitárias nos primeiros meses da pandemia, vários controles fronteiriços foram repostos, e a circulação foi limitada mesmo entre cidadãos europeus. As restrições de circulação entre os países da UE duraram pouco, mas as fronteiras externas do bloco permaneceram fechadas para turistas de boa parte do mundo até setembro de 2021.

A compra e distribuição de vacinas foi articulada pela Comissão Europeia como uma forma de exibição do esforço coletivo europeu. A entidade assegurou a compra e a distribuição proporcional dos imunizantes pelos países do bloco.

Embora todos os 27 países-membros tenham começado a imunização no mesmo dia, em 27 de dezembro de 2020, o ritmo -e a taxa de cobertura- sempre teve muitas variações regionais. Enquanto Portugal e Espanha atingiram mais de 85% da população vacinada, a Romênia ainda não passou de 42,6%.

Apesar da força do movimento antivacina em vários países europeus, a cobertura vacinal do bloco está em cerca de 73% da população. A exigência do certificado de imunização contra a Covid-19 para frequentar espaços públicos, como restaurantes e cinemas, teve a adesão de alguns países, com destaque para a França.

A medida, que foi abandonada em quase todo o bloco no começo da primavera de 2022, provocou protestos nas ruas em várias cidades europeias.

A alta cobertura vacinal permitiu que a Europa retomasse boa parte da normalidade pré-pandemia já em meados de 2022. Atualmente, a obrigatoriedade de máscaras e de testes está limitada, na maioria dos países, a situações pontuais, como a visita a asilos ou hospitais.

Como controle da fase aguda da pandemia, as autoridades sanitárias destacam agora as preocupações com os efeitos da Covid longa e questões de saúde mental.

"Tragicamente, em todo o mundo, mais de 6,5 milhões de pessoas morreram, sendo 2,1 milhões somente na nossa região. Os efeitos em cascata da pandemia serão sentidos por décadas", disse o diretor da OMS (Organização Mundial de Saúde) na Europa, Hans Henri Kluge, em um balanço recente sobre os sistemas de saúde na região.

"Agora estamos enfrentando uma crise de saúde mental sem precedentes que está afetando pelo menos 1 em cada 6 pessoas na Europa, e custando aos governos da UE pelo menos 600 bilhões de euros por ano", completou.


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