SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A vacinação de mulheres com idade gestacional de 24 a 36 semanas contra o VSR (vírus sincicial respiratório) ofereceu proteção de 81,8% a bebês de até três meses de idade de infecção grave com necessidade de internação pelo vírus.
A proteção teve uma leve queda após seis meses de idade, passando para 69,4%, mas ainda assim um nível considerado bom para impedir a infecção com necessidade de hospitalização.
Já em relação à doença respiratória sem ser considerada grave, a vacina ofereceu uma proteção de 57,1% nos primeiros três meses (90 dias) de vida dos bebês, mas esse valor não foi estatisticamente significativo. Com seis meses de idade (180 dias), porém, a proteção conferida foi de 51,3%.
A ocorrência de efeitos colaterais do imunizante até um mês após a aplicação foi de 13,8% nas mulheres e cerca de 37,1% nos bebês, e foram bem tolerados.
Os resultados são de um estudo clínico randomizado, duplo-cego e controlado por placebo de fase 3 (a última etapa antes da aprovação pelas agências regulatórias) com 7.392 gestantes de 18 países que avaliou a eficácia de uma dose única de vacina na proteção de infecções de VSR em bebês.
O VSR é conhecido por ser causador de bronquiolite em crianças de até dois anos de idade e tem uma alta letalidade em bebês de até seis meses de idade, principalmente prematuros.
Não existe atualmente nenhuma vacina já licenciada que proteja contra o VSR nesta faixa etária. Recentemente, a agência americana FDA (Food and Drugs Administration) aprovou a primeira vacina contra bronquiolite no mundo, produzida pela farmacêutica GSK e recomendada para idosos.
O estudo testou uma vacina produzida pela farmacêutica Pfizer e o artigo descrevendo a pesquisa foi publicado no último mês na revista especializada Nejm (The New England Journal of Medicine).
Para avaliar os efeitos da vacinação de gestantes na proteção dos bebês, foram registrados os dados de internação e hospitalização de 3.570 bebês nascidos de mães que receberam o imunizante, enquanto 3.558 nasceram das gestantes em que foi aplicado um placebo. O período de estudo foi de 17 de junho de 2020 a 2 de outubro de 2022.
No período analisado, a incidência de casos de doença respiratória no grupo placebo foi cerca de duas vezes a observada no braço da pesquisa que recebeu o imunizante. Foram registrados 56 (1,6%) casos de infecção respiratória nos bebês do grupo controle contra 24 (0,7%) em bebês imunizados passivamente até 90 dias após o nascimento.
Nos primeiros dois meses de idade, a incidência de casos de bronquiolite no grupo placebo foi quase 1,5 vez mais daquela observada nos indivíduos imunizados (81 contra 35, ou 2,3% contra 1%) e, por fim, após 180 dias (seis meses de idade), a proporção de casos no grupo controle passou para o dobro no grupo controle em comparação ao grupo vacinado (117 ou 3,4% contra 57 ou 1,6%).
Uma das limitações do estudo é que ele foi conduzido no período da pandemia da Covid-19, momento em que a frequência e circulação de outros vírus respiratórios, como influenza, adenovírus e o próprio VSR, ficaram alteradas.
De acordo com a pesquisa, cerca de um quinto de todas as hospitalizações por doenças respiratórias em bebês de até seis meses foi por bronquiolite causada por VSR. Já a taxa observada no período pré-pandemia era de 50% até 80% de todas as hospitalizações por bronquiolite terem como agente etiológico o VSR, e cerca de 40% dos casos de pneumonia em crianças com menos de um ano.
A vacina é formulada com uma glicoproteína do vírus no formato pré-fusão, isto é, antes de ser "apresentada" pelas células do organismo para reconhecimento do nosso sistema imune. Ela combina a proteína de dois subtipos do vírus, os mais comuns em circulação.
Além da vacina em teste, terapias com anticorpos monoclonais já existem para impedir a hospitalização de bebês de até dois anos por bronquiolite. Nesses casos, como o sistema imune dos bebês ainda é imaturo e não consegue fornecer uma proteção própria, os anticorpos já são injetados diretamente, mas eles costumam ter uma proteção de no máximo dois anos.
As pesquisas de vacinação de gestantes podem ajudar a produzir uma forma de imunização de baixo custo e de amplo acesso para países de baixa e média renda, implementando a vacinação das mães contra o VSR como rotina no pré-natal, reduzindo assim os casos de infecção nos primeiros seis meses de vida, período crítico para os bebês.
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