SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma obra em um entroncamento de duas rodovias, entre os estados Minas Gerais e Goiás, revelou ovos fósseis de um possível dinossauro carnívoro ou de crocodiliforme.

Os ovos fossilizados foram encontrados por Paulo Macedo, paleontólogo da empresa de Consultoria em Geologia e Paleontologia Geopac, que trabalhava no local, conhecido como "Trevão", próximo ao município de Monte Alegre de Minas.

A concessionária Ecovias Cerrado, responsável pelas vias BR 365 e BR 153, auxiliou na retirada do material, que está agora no laboratório de paleontologia da Universidade Estadual de Minas Gerais, no município de Ituiutaba.

O achado foi divulgado na manhã desta segunda (22) na Universidade Estadual de Minas Gerais, campus Ituiutaba. A entrega dos ovos ao Laboratório de Paleontologia da universidade permitirá agora análises e estudos futuros sobre esse e outros achados fósseis da região.

Ao todo, foram encontrados cinco ovos. A idade estimada é de aproximadamente 80 milhões de anos (Cretáceo Superior). Os ovos fósseis apresentam características que se assemelham a um ovo de ave alongado, com casca lisa (sem ranhuras) e tamanho aproximado de 6 cm.

Entre o material fóssil, há dois ovos fragmentados, um parcialmente quebrado e dois intactos, que podem revelar se existem restos fossilizados de embrião dentro. A espessura da casca é de aproximadamente 1 milímetro, também semelhante ao padrão observado em ovos de dinossauros carnívoros.

Segundo Luiz Carlos Ribeiro, geólogo e pesquisador do complexo Científico e Cultural de Peirópolis, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, não é possível saber se os ovos fragmentados eclodiram ou se sofreram a quebra devido ao soterramento. "De qualquer forma, o achado é inesperado e representa uma descoberta importante, com implicações na ecologia de um ambiente que era muito diferente do atual há 80 milhões de anos."

Como o padrão observado é encontrado tanto em ovos de dinossauros carnívoros (linhagem que inclui as aves e os terópodes) quanto em crocodiliformes (grupo que inclui os crocodilianos atuais, como jacarés, crocodilos e gaviais e as formas já extintas), análises mais detalhadas em laboratório poderão determinar de qual grupo pertencia a ninhada.

"A porosidade e a microestrutura da casca do ovo vai dizer se é de terópode ou de crocodiliforme, porque os ovos de dinossauros carnívoros são muito semelhantes às aves", explica o paleontólogo e professor do Instituto de Geociências da USP Luiz Anelli.

Ovos fósseis são raros no Brasil. Algumas das descobertas mais recentes foram encontradas no interior paulista, próximo ao município de Presidente Prudente, e em Minas Gerais, próximo aos municípios de Uberaba (onde foram encontrados ovos de titanossauros) e Uberlândia, na região do Triângulo Mineiro.

Toda essa área faz parte da chamada Bacia Bauru, uma grande bacia sedimentar localizada entre os estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Segundo Macedo, há também um registro de ninho em Uberaba, que pode ser ou não do mesmo grupo que colocou os ovos na região de Monte Alegre de Minas. "Apesar de ser parte da mesma bacia, a formação Vale do Rio do Peixe, de onde vem a ninhada, não é igual à encontrada próximo à Uberaba, o sedimento é mais mole, composto de arenito, e não temos registro de dinossauros ainda para a região."

Uma das principais dificuldades ao analisar ovos fossilizados é que muitas vezes todo o resto animal (isto é, o esqueleto) já foi substituído por sedimentos da própria rocha, tornando difícil separar o organismo do mineral. A exceção foi um ovo com embrião "prestes a nascer" encontrado na China em dezembro de 2021.

As pesquisas sobre o organismo que depositou aquele ovo, bem como sobre a importância para o conhecimento ecológico e paleontológico do local, devem seguir nos próximos meses.

"Como os ovos de dinossauros ainda são pouco conhecidos no Brasil, em comparação a outros países com rochas de idade similar, encontrar áreas de nidificação ou obter informações sobre a ecologia desses animais é fundamental", completa Anelli.

Na mesma região, já foram escavados alguns dos mais importantes dinossauros brasileiros, como o Uberabatitan ribeiroi, o maior dinossauro pescoçudo conhecido no Brasil, com tamanho estimado de até 15 metros de comprimento.

Segundo Daniela Almeida, coordenadora de sustentabilidade da Ecovias Cerrado, a descoberta é de grande importância para a comunidade científica pela idade e pelo potencial que representa para estudos de paleontologia na região. "Realizamos parcerias com empresas e universidades para o desenvolvimento de pesquisas em áreas próximas às obras, garantindo a preservação do patrimônio histórico."


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