SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O que pode ocorrer numa consulta médica? O caso de um médico que foi demitido -e depois recontratado- após receitar sorvete e o jogo de videogame Free Fire para uma criança com dor de garganta e sintomas gripais, em Osasco (Grande São Paulo), levantou o questionamento.

Apesar da polêmica provocada pelas indicações, a prescrição não foi o centro do problema. Antes de notar o que havia no documento, a mãe da criança, Priscila da Silva Ramos, 37, disse ter ficado insatisfeita com o atendimento.

Segundo ela, a consulta não levou nem cinco minutos e o médico não examinou o menino, que tem 9 anos. Por isso, ao ver a receita, que também listava medicamentos, entendeu que o médico fazia um deboche.

A reportagem não conseguiu contato com o médico. Ao explicar por que recontratou o médico, o prefeito Rogério Lins (Podemos) disse que o médico tentou humanizar o atendimento.

A Folha de S.Paulo ouviu especialistas sobre sobre como deve ser uma consulta ideal, considerando o comportamento do médico e outros procedimentos. Veja o que dizem:

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QUAIS OS PASSOS DE UMA CONSULTA MÉDICA?

O profissional precisa estabelecer uma boa relação médico-paciente. Ouvir e escutar a queixa da pessoa ou do acompanhante -se for criança- e perceber sua angústia. A partir daí, são feitas perguntas direcionadas à queixa, como sintomas, tempo e medicações que já utilizou.

A próxima etapa é o exame físico geral. No caso de consultas de especialidades -ginecologista, por exemplo- há exames específicos. Após a avaliação física, se achar necessário, o médico pode solicitar exames complementares. Ao fechar a hipótese de diagnóstico, o profissional deve se expressar bem em relação ao que conclui e ao tratamento proposto. Por fim, prescreve as medicações e dá outras orientações.

É SEMPRE NECESSÁRIO TOCAR O PACIENTE?

Sim. É importante para examiná-lo.

A CONSULTA DEVE OCORRER EM LOCAL RESERVADO?

Sim. Não deve ser feita diante de pessoas sem relação com o paciente.

HÁ UM TEMPO PRECONIZADO PARA CONSULTA?

É difícil quantificar o tempo, segundo especialistas. Depende da complexidade do caso, do tipo da consulta, de exames a serem feitos e da experiência do médico.

BRINCADEIRAS SÃO PERMITIDAS NAS CONSULTAS INFANTIS?

No atendimento pediátrico, é interessante que o paciente seja cativado pelo médico. Mas é importante ficar atento à receptividade das brincadeiras e ter bom senso. "É natural sentar no chão com a criança, brincar, fazer aviõezinhos. A linguagem da criança é a brincadeira. Também precisa deixar claro que está brincando, mas também é sério. O médico não pode falar algo durante a brincadeira que leve a mãe a duvidar da conduta, como foi o caso do sorvete no receituário", explica Fausto Flor Carvalho, presidente do Departamento de Saúde Escolar da Sociedade de Pediatria de São Paulo.

ESSA BRINCADEIRA PODE IR PARA UM RECEITUÁRIO MÉDICO?

Nem sempre é adequado. O receituário médico é um documento. Nele, é permitido colocar orientações, sempre de forma objetiva. "Para receituário de criança, tem pediatra que usa carimbo com a figurinha do Mickey, da Mônica, de personagens infantis. Isso é tolerável, mas com bom senso", diz Carvalho.

O QUE É INACEITÁVEL NUMA CONSULTA?

Tratar mal o paciente, não atender adequadamente e ser inconveniente. "Quando o paciente procura o médico é porque tem um problema. Você não pode ser a causa de outro problema", afirma Angelo Vattimo, primeiro secretário do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo).

Na consulta infantil às vezes é necessário conter a criança para um procedimento seguro, mas isso deve ser feito de forma humanizada e nunca bruta. É errado não dar espaço para os pais falarem. É indispensável ao adulto acompanhar a criança nas consultas e nos exames. "Não podemos abrir espaço para os episódios de abusos e as violências", comenta Carvalho.

COMO DEVE SER A RECEITA MÉDICA?

A letra precisa estar legível. É recomendável explicar as informações ponto a ponto ao paciente, que, de preferência, deve ler o receituário na presença do médico para mostrar o entendimento. "Não adianta um raciocínio clínico e diagnóstico bem feito e depois passar uma receita com letra ilegível ou não explicar ao paciente a importância de seguir o tratamento", afirma Vattimo.

COMO A PESSOA SABE SE RECEBEU UM BOM ATENDIMENTO NA CONSULTA?

A empatia e a satisfação do paciente, muitas vezes, não dependem de tempo. O médico pode ficar uma hora com a pessoa e nem olhar para ela. Às vezes, num tempo menor, ela sai satisfeita, com o problema resolvido e o diagnóstico esclarecido. O termômetro é o paciente, segundo Vattimo.

"O pilar do atendimento é estabelecer uma relação de confiança entre o médico e o paciente. Mas tem o outro lado: muitas vezes, o médico é agredido, maltratado e denunciado de maneira indevida pelo paciente", afirma o médico do Cremesp.

QUAIS OS CANAIS PARA RECLAMAÇÕES?

Numa instituição, hospital e na rede pública, a queixa podem ser registrada nos canais da ouvidoria. Se houve um problema maior no atendimento, a reclamação pode ser encaminhada ao Cremesp (vá em Serviços e depois Cidadão).


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