SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A multidão que lotou a avenida Paulista neste domingo (11) é formada também por milhares de histórias de amor de casais formados por pessoas do mesmo sexo que foram acompanhar a 27º Parada do Orgulho LGBT+.

Neste ano em que completa a primeira década desde a decisão do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) que obrigou cartórios de todo país a celebrar casamentos homoafetivos, a Folha entrevistou 14 casais que passaram pela avenida Paulista neste domingo. As fotos foram feitas em um estúdio montado no Camarote Solidário da Agência Aids.

Entre as histórias de amor, foram relatados episódios de homofobia e percalços durante a vivência da sexualidade. "Antigamente, não podíamos ser acompanhantes no hospital. Tinha que se apresentar como amigo", diz Nelio Horta, 60, que vive junto com Sergio Teixeira, 60, há 34 anos. "Meu marido passou por uma cirurgia e o médico veio falar comigo para dar as informações. Isso é recente", continua.

O casal que oficializou a união em 2014 foi à parada com o filho Alexandre Leonel, 27, adotado na mesma época. Então adolescente, ele tinha sido expulso de casa pelo pai que não aceitou o fato dele se assumir gay. "Cheguei em casa um dia e minhas coisas estavam todas do lado de fora", lembra Leonel.

A drag queen Luana H, 35, se lembra da época em que tinha medo de sair na rua. "Eu estar aqui hoje toda cheia de strass e do lado do meu marido é motivo de comemoração", diz ao lado do coreógrafo Jabu Ramos, 21. Eles se conheceram quando Ramos elaborou uma coreografia para o show de Luana. "Dançamos e não paramos mais", diz ela sobre os quatro anos de relacionamento.

O casal estava acompanhado do ator Max Loirinho, 25, e do modelo Thiago Vaz, 23, que se conheceram nas redes sociais e estão juntos há um ano. "Passamos uns três meses nos falando e quando vimos, já era, estávamos juntos", diz o ator.

O início relâmpago também marcou a relação de Rose Souza, 24, e Alessandra Lima. Amigas há bastante tempo, elas foram morar juntas após o primeiro beijo. "Foi coisa bem de sapatão emocionado", diz Alessandra. "Tenho orgulho de quem eu sou e a parada é uma forma de estar entre pessoas iguais a mim", continua.

Casadas há um mês, a escritora Dani Saleme, 39, e a atriz Thaís Gracia, 35, também foram morar juntas pouco tempo depois de se conhecerem. "Logo juntamos os gatos porque sapatão junta os pets e não as escovas de dente", diz Dani.

Apesar do casamento homoafetivo já ser uma realidade há mais de dez anos quando elas formalizaram a união, havia o receio de como o juiz iria lidar com a situação, segundo a escritora. "Estávamos tensas sobre como ele iria se referir a nós, mas foi tudo muito natural", conta.

Juntas há quatro anos, a advogada Thalita Pinto, 42, e a professora Erika Sá, 32, se arrumaram com as cores do arco-íris para ir à avenida Paulista neste domingo. "Ainda tem lugares que nos sentimos desconfortáveis, por isso que é importante vir para apoiar a representatividade", diz a advogada.

Bem antes de começar a namorar o tradutor Willi Fuzinaka, 28, Caio Farias, 31, sofreu agressões na escola por se relacionar com outro garoto. "A diretora teve que chamar a polícia porque um grupo de alunos correu atrás de mim e jogou pedras na janela da sala", lembra. Os dois se conheceram em um aplicativo de relacionamentos e estão juntos há três anos.

Lembrança parecida dos tempos de escola foi relatada pelo técnico em farmácia Lucas Vinicius Fernandes da Cruz, 28, casado há três anos com o gerente Erik Augusto Mendes 29. "Sofria bullying por ser gay e os garotos me batiam", lembra. O casal é de Londrina (PR), e viajou de madrugada de ônibus para participar da Parada Gay. "Além da festa maravilhosa é bom vir para mostrar que estamos lutando pelos nossos direitos", diz Cruz.

O cabeleireiro Kenzo França, 33, e o atendente de telemarketing Dani Anniza, 22, estão juntos há quatro anos, mas escolheram um figurino vermelho para fazer um casamento simbólico na Parada. "Quisemos quebrar os padrões e vir com a nossa cor favorita, em vez de branco", diz o cabeleireiro.

Os planos da festa de casamento foram adiados por causa da pandemia para a escritora Janu Souza, 33, e a diretora de criação Duda Pootz, 30. "A festa estava paga e ia acontecer em 2020, mas tivemos que adiar", diz Duda. "Na época, éramos dois boyzinhos, então foi bom porque, agora, a festa vai ser mais o que somos de verdade", diz.

Mesmo se identificando como pessoas não binárias há tempo, o casal começou recentemente a se tratar pelo pronome feminino. "É um processo e precisei estar em um relacionamento para olhar partes minhas que havia negligenciado. Um dia virei para ela e disse: 'e se só me chamassem pelo feminino?'", diz Janu, que irá iniciar o tratamento hormonal para a transição de gênero.

"Tenho muito medo o tempo todo de usar as roupas que eu gosto, então, estar aqui em um lugar com pessoas como eu me deixa muito feliz", diz Janu.

O fotógrafo Larry Anjos, 26, está mais adiantado no processo de transição de gênero, iniciada há quatro anos. Ele passou por uma mastectomia há um ano e começou a namorar o produtor Victor Bebiano, 26, há poucos meses. " Nosso relacionamento é poliamoroso. Para mim está sendo muito importante me relacionar neste momento. Antes, tinha namorado apenas uma mulher cisgênero", diz. "É ano em que eu me sinto mais eu de toda a minha vida", continua Anjos.

O produtor também é portador do vírus HIV há oito anos o que faz do casal sorodiferente. "Ele me ajuda, me lembra de tomar os remédios", conta Bebiano.

Richard Almeida, 22, e Paloma Silva 18, se conheceram em uma rede social e estão há meses em um vai e volta no relacionamento. "Ela sabe que eu a amo", se declarou Almeida, que pretende iniciar o tratamento hormonal nos próximos meses. "Eu me assumi gay para a minha mãe aos 13 anos e aos 20 me vi como um homem trans."

As redes sociais também fizeram o papel de cupido para o analista de contas Eduardo da Santíssima Trindade, 43, e o professor Leonardo Freitas, 48, que estão juntos há um ano. "Tem o aplicativo para os estagiários e o para os efetivos. Nos conhecemos no segundo", brinca o professor sobre a idade dos públicos encontrados nas plataformas de relacionamento.

Vestido com um figurino que fazia referência ao uniforme de marinheiros, Trindade conta que a escolha foi uma referência ao fetiche. "Simpatizando com os ursos", diz sobre a forma como são chamados os gays com corpos peludos. "Mas, como somos magros, nos chamam de lontra, que também é peluda."

Frequentador da Parada do Orgulho LGBT+ há anos, ele enxerga as edições recentes como mais representativas. "Tem muita gente nova participando e as pessoas não binárias, que não apareciam antes."

O cantor Ygor do Nascimento, 21, e o auxiliar de logística Welington Lima, 18, se conheceram em uma praça em Itapevi, na Grande São Paulo, de onde partiram neste domingo para participar da parada. "Sempre quis fazer parte de um movimento em que me sentisse representado e senti que era hora de participar", diz o ator.


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