SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma PEC (proposta de emenda à Constituição) para estabelecer cotas para mulheres no Legislativo seria levada ao plenário da Câmara dos Deputados em outubro de 2017. Não aconteceu. Mas foi o suficiente para deixar em polvorosa o então assessor de gabinete do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Gil Diniz.
"Cota pra mulher? PQP!", escreveu. Próximo passo vai ser o quê? Cota para trans? Ou se for mulher trans já entra nesse absurdo?", acrescentou.
Hoje Diniz é deputado estadual em São Paulo pelo PL. Na última quarta (14), ele foi eleito presidente da CPI instalada na Assembleia Legislativa paulista para investigar o acompanhamento de crianças e adolescentes trans no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Ele mesmo foi o proponente da comissão.
Procurado pela reportagem para comentar seu posicionamento, Diniz não se manifestou.
O deputado diz pretender "investigar as práticas adotadas pelo Hospital das Clínicas no acompanhamento e tratamento de menores de idade com suspeita ou diagnóstico de incongruência de gênero".
Ele afirma que os menores são incapazes de discernir sua identidade de gênero e, por isso, não deveriam receber terapia hormonal. A terapia com hormônios, no entanto, só é permitida no Brasil para maiores de 16 anos.
Em 2018, Gil Diniz publicou no Twitter que chamar uma pessoa de mulher trans é "negar a mais elementar percepção de nossa realidade, que abre precedentes para que digamos, no futuro, que alguns indivíduos não são lá muito humanos".
Um ano antes, o bolsonarista atacou seminário organizado pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) sobre LGBTfobia na infância. "Crianças de cinco anos querem brincar, jogar bola, vídeo game [...] Que criança já sabe que é LGBT?", questionou.
A Parada LGBT+ de São Paulo também já foi alvo de comentários de Diniz. Em 2019, o deputado ironizou os frequentadores do evento e disse que não adiantava comparecer à Marcha para Jesus em um dia e se divertir com amigos na "Parada Gay" em seguida ?os eventos costumam acontecer no feriado de Corpus Christi em São Paulo.
O deputado também já tentou invalidar o levantamento sobre assassinatos de pessoas LGBTQIA+ no Brasil realizado pelo Grupo Gay da Bahia. Para Gil Diniz, não há como confiar nos dados computados pois as principais fontes da pesquisa são notícias publicadas na mídia.
De acordo com o relatório mais recente, o país registrou em 2022 ao menos 273 mortes violentas de pessoas LGBTQIAP+ ?228 assassinatos, 30 suicídios e 15 óbitos por outras causas, como morte decorrente de lesões por agressão. A média é de um morto a cada 32 horas. Travestis e transexuais representam a maior parte dos mortos (58%), seguidos por gays (35%), lésbicas (3%) e homens trans (3%).
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