SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um guarda-civil metropolitano que está sendo investigado por extorsão contra moradores e comerciantes no entorno da cracolândia, na região central de São Paulo, confirmou ser dono e gestor de uma empresa de vigilância privada.

A prática é proibida para agentes da GCM (Guarda Civil Metropolitana) desde 2003.

A declaração foi dada em depoimento à Polícia Civil na última segunda-feira (3). O guarda civil Elisson de Assis, 44, disse à delegada responsável pelo caso que possui uma empresa de monitoramento e controle de acesso desde agosto de 2022.

Procurado, o advogado do guarda, Gilberto Quintanilha, afirmou que as denúncias não são verdadeiras. "Tudo será esclarecido no curso do Inquérito policial e no processo administrativo que responde na Corregedoria da GCM", disse em nota.

Assis e outros seis guardas-civis estão afastados por suspeitas de desvios de conduta desde o início de junho, quando o caso foi noticiado pelo Jornal da Band. De acordo com a gestão Ricardo Nunes (MDB), os sete servidores atuam na Iope (Inspetoria de Operações Especiais), unidade responsável pelas ações na cracolândia.

Em relato ao Jornal da Band, um comerciante afirmou que Assis cobrava uma taxa para manter o fluxo de usuários de drogas distantes dos estabelecimentos comerciais e condomínios.

Assis aparece como único responsável pela empresa Law & Force Ltda., segundo a Junta Comercial. Em depoimento à polícia, o GCM afirmou que a empresa presta serviços para condomínios e comerciantes. Os turnos de vigilância são executados por três funcionários além do guarda civil em dias de folga.

Lei municipal de 2003 que regulamenta a conduta dos agentes de segurança paulistanos proíbe que os servidores administrem negócios privados. De acordo com o artigo 19, a prática configura falta grave passível de demissão.

Em nota, a Secretaria Municipal de Segurança Urbana informou que todas as medidas administrativas sobre o caso já foram tomadas. A gestão municipal afirmou ainda que pediu ao Ministério Público a abertura de inquérito e a prisão preventiva dos investigados. A apuração ocorre em sigilo.

Um esquema de venda de vigilância por empresas ligadas a parentes policiais militares no entorno da cracolândia foi revelado pela Folha no último dia 20.

Um dia após a reportagem ter sido publicada o vice-governador Felício Ramuth (PSD) afirmou que um inquérito da Polícia Civil investiga empresas de segurança privada ligadas a policiais militares e guardas-civis que atuam na área da cracolândia.

"Infelizmente existem maus profissionais em todas as profissões. Nas forças de segurança, não é diferente. A denúncia [da Folha] só acabou vindo à tona por conta de uma investigação feita justamente pela Polícia Civil", disse Ramuth na manhã do último dia 21 durante participação na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) sobre epidemia do crack realizada na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo).

Outra reportagem da Folha mostrou também que criminosos responsáveis pela distribuição de drogas na cracolândia estão cobrando pagamentos mensais para retirar o fluxo de dependentes químicos da porta dos estabelecimentos e de residências na região.


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