Selma Dealdina denunciou a prática de racismo ambiental, que afeta, principalmente, as comunidades de pessoas negras, indígenas e pobres, por exemplo, com a instalação de aterros sanitários em áreas já marginalizadas. Ela ainda criticou a aceitação do poder público à monocultura do eucalipto e suas implicações ambientais negativas.
A representante da Conaq ainda cobrou políticas públicas voltadas, de fato, ao segmento negro da população, com orçamento público compatível com as atividades que precisam ser desempenhadas, na visão dela. Para Selma Dealdina, a prioridade deve ser a titulação dos territórios quilombolas, para haver justiça social.
A liderança quilombola ainda falou sobre expectativas em relação ao poder público para custear políticas antirracistas. “A gente não espera outra resposta do governo que não seja um orçamento voltado à raça, ao gênero, às questões geracionais e da diversidade. Não tem como não olhar para nós, negros e negras, não olhar para periferia, a comunidade LGBTQIA+, as mulheres”, destacou.
“Na política antirracista, não tem como, nos próximos três anos e meio, o atual governo não ver que isso é prioridade. Então, a gente não espera outra coisa do governo que não seja uma divisão justa [do orçamento]”, cobrou.
No fim dos diálogos, a organização da sociedade civil internacional com representação no país Oxfam Brasil anunciou a campanha sobre as mulheres da floresta que será lançada em 25 julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, com depoimentos de diversas extrativistas brasileiras.
As mulheres repetiram juntas, em pé, de mãos dadas, sucessivas vezes, o tema da iniciativa: “Onde tem floresta em pé, tem mulher”.
Festival Latinidades
O 16º Festival Latinidades é promovido pelo Instituto Afrolatinas e tem o apoio da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). No Distrito Federal, o evento seguirá até domingo (8), em dois pontos, no Museu Nacional da República e na cidade do Paranoá.
Neste ano, pela primeira vez, o Festival Latinidades sairá da capital federal e será realizado nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador, a partir de 15 de julho até o dia 30. A iniciativa marca o Julho das Pretas, mês escolhido para fortalecer ações políticas coletivas e autônomas de mulheres negras, em diversas esferas da sociedade.
As inscrições para participar do evento são gratuitas e a programação completa, nas quatro capitais, está no site do festival.
Vozes-Mulheres (De Conceição Evaristo)
“A voz de minha bisavó
ecoou criança
nos porões do navio.
ecoou lamentos
de uma infância perdida.
A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.
A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e fome.
A voz de minha filha
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem – o hoje – o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
o eco da vida-liberdade”.
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