SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) alertou em relatório, divulgado nesta quarta-feira (26), sobre os impactos negativos do uso de celulares em sala de aula na aprendizagem e concentração dos estudantes.

O Relatório Global de Monitoramento da Educação 2023 da Unesco, intitulado "A tecnologia na educação, uma ferramenta a serviço de quem?", destaca ainda que o uso de equipamentos eletrônicos dentro das salas de aula atrapalha a gestão dos professores com as turmas.

"O uso da tecnologia pelos estudantes em salas de aula e em casa pode ser uma distração, prejudicando a aprendizagem", diz o documento.

A Unesco também identificou que 1 em cada 4 países já proibiu ou restringiu o uso de celulares dentro das salas de aula.

"Estudos usando dados do Pisa [sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Estudantes] indicam uma associação negativa entre o uso das tecnologias e o desempenho dos estudantes", diz o relatório.

"Os professores entendem o uso de tablets e telefones como algo que prejudica a gestão em sala de aula. Um em cada três professores concorda que o uso das tecnologias em sala de aula distrai os estudantes", continua.

Também há um alerta de que o uso de aparelhos tecnológicos em sala pode aprofundar as desigualdades educacionais. Não apenas por questões financeiras ou de acesso à internet e equipamentos, mas também entre estudantes com as mesmas condições socioeconômicas.

"A aprendizagem online se apoia na habilidade do estudante de se regular e pode colocar os estudantes com menor desempenho e os mais novos em risco cada vez maior de abandono escolar", diz.

Entre os países que anunciaram a proibição estão Espanha, Portugal, Finlândia, Holanda, Suíça e México. Na França também há proibição, mas é prevista exceção da regra para alguns grupos de alunos, como os com deficiência, para os quais a tecnologia pode ser aliada ao aprendizado.

No Brasil, não há lei nacional que proíba o uso de celulares e equipamentos digitais nas escolas. Inclusive, após a pandemia, diversos estados e municípios passaram a incentivar (e até exigir) o uso de tecnologias digitais em suas escolas.

É o caso da rede estadual de São Paulo, em que os professores foram orientados a pedir que os alunos façam redação online, exercícios em aplicativos e usem material digitalizado.

A Unesco ainda destaca que não existem evidências científicas suficientes para comprovar os benefícios do uso da tecnologia digital na educação. E alerta que os investimentos nessa área podem estar tomando o recurso de ações mais efetivas para a melhoria do ensino.

"A atenção excessiva à tecnologia geralmente tem um alto custo. Recursos despendidos em tecnologia, em vez de em sala de aula, professores e livros didáticos para crianças em países de renda baixa a média baixa, que não têm acesso a esses recursos, provavelmente colocarão o mundo em uma posição ainda mais distante de alcançar o objetivo mundial de educação", diz o relatório.

Segundo o documento, os produtos de tecnologia evoluem tão rápido (são trocados, em média, a cada 36 meses) que dificulta a avaliação do impacto no aprendizado. Além disso, destaca que a maior parte dos estudos são conduzidos pelas próprias empresas de tecnologia.

"Boa parte das evidências são produzidas pelos que estão tentando vendê-las. A Pearson financiou seus próprios estudos e contestou uma análise independente que demonstrava que seus produtos não tinham impacto algum", destaca o relatório.


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