SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O mês de julho deve ser o mais quente registrado na história, segundo o observatório europeu Copernicus e a OMM (Organização Meteorológica Mundial). As três primeiras semanas do mês, em que ondas de calor atingiram o hemisfério norte, foram o período mais quente já registrado ?e é "extremamente provável" que esse quadro se repita nos próximos dias.
Os dados analisados vão até o último dia 20 e são da plataforma ERA5, do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus (C3S), financiado pela União Europeia. A série histórica remonta até 1940. Até hoje, o recorde de mês mais quente é de julho de 2019.
De acordo com o Copernicus, os dados para todo o mês de julho estarão disponíveis num boletim que será divulgado em 8 de agosto.
Segundo os pesquisadores, as altas temperaturas têm relação com as ondas de calor que vêm castigando grandes partes da América do Norte, Ásia e Europa, que, juntamente com incêndios florestais em países como Canadá e Grécia, tiveram impactos significativos na saúde das pessoas, no meio ambiente e na economia.
Eventos de calor extremo já são afetados pelas mudanças climáticas. De acordo com o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança do Clima da ONU), as ondas de calor triplicaram no mundo na comparação com o período de 1850 a 1900 ?antes das atividades humanas aumentarem a concentração de gases-estufa na atmosfera.
As temperaturas médias globais já aumentaram 1,2°C desde a Revolução Industrial.
"Temperaturas recordes fazem parte da tendência de aumentos drásticos nas temperaturas globais. As emissões antropogênicas são, em última instância, o principal impulsionador dessas temperaturas em elevação", afirma Carlo Buontempo, diretor do C3S.
Ele explica, ainda, que o recorde de julho provavelmente não será algo fora da curva neste ano. "As previsões sazonais do C3S indicam que as temperaturas em áreas terrestres provavelmente estarão bem acima da média".
Na primeira semana de julho, dois recordes diários de temperatura foram quebrados consecutivamente: no dia 5 foi superada a marca de 2016 e no dia 6 o recorde do dia anterior também foi ultrapassado.
"O clima extremo que afetou milhões de pessoas em julho é, infelizmente, a dura realidade das mudanças climáticas e uma prévia do futuro", diz o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas. "A necessidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa é mais urgente do que nunca. A ação climática não é um luxo, mas uma necessidade."
O órgão prevê que há uma probabilidade de 98% de que pelo menos um dos próximos cinco anos seja o mais quente já registrado.
Desde maio, a temperatura média global da superfície do mar tem estado bem acima dos valores observados até então para esta época do ano, contribuindo para taxas excepcionalmente altas vistas nas últimas semanas. Cientistas apontam que o El Niño, caracterizado pelo aquecimento das águas do Pacífico na região da linha do Equador, impulsiona parte do fenômeno.
Julho acumulou uma coleção de registros de calor extremo em vários lugares do mundo.
Na China, os termômetros no município de Sanbao chegaram a 52,2°C, o índice mais alto já registrado no país. Já a cidade americana de Phoenix quebrou um recorde ao ter 19 dias consecutivos de temperaturas acima de 43°C. No mar Mediterrâneo, entre a ilha da Sicília e a cidade de Nápoles, na Itália, a temperatura da superfície do mar superou os 30°C (4°C acima do normal).
Analisando dados preliminares e de previsão até o final do mês, o cientista climático Karsten Haustein, da Universidade de Leipzig, na Alemanha, estimou que as temperaturas de julho ficarão cerca de 0,2°C acima do recorde anterior.
"Talvez tenhamos que voltar milhares, senão dezenas de milhares de anos, para encontrar condições igualmente quentes em nosso planeta", afirma. "Como os efeitos do El Niño só se manifestam totalmente na segunda metade do ano, junho ?e agora julho? provavelmente será seguido por mais meses de calor recorde até pelo menos o início de 2024."
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