LISBOA, PORTUGAL (FOLHAPRESS) - Embora a maioria das espécies de aves seja monogâmica, "divórcios" podem acontecer. Um time internacional de cientistas investigou o comportamento dos animais e descobriu duas motivações principais para o fenômeno: a promiscuidade (nesse caso masculina) e longos períodos de separação, duas justificativas também bastante usadas para o afastamento entre humanos.

As conclusões foram apresentadas em um artigo na revista especializada Proceedings of the Royal Society B. O trabalho analisou um grande conjunto de dados obtidos em estudos prévios, incluindo as taxas de "divórcio" presentes em artigos publicados para 186 espécies de aves, de 25 ordens e 61 famílias.

Os pesquisadores classificam como "divórcio" quando uma ave acasala com um novo parceiro enquanto o par da temporada de reprodução anterior ainda está vivo.

Casal de garças em Jinzhou, na província chinesa de Liaoning; promiscuidade do macho e distanciamento do casal provoca divórcio entre as aves, segundo estudo 4.mai.22 - Xinhua Casal de garças em Jinzhou, na província chinesa de Liaoning; promiscuidade do macho e distanciamento do casal provoca divórcio entre as aves, segundo estudo **** A análise esmiuçou os possíveis fatores relacionados a esse comportamento: "promiscuidade" (propensão à poligamia) de ambos os sexos, distância migratória e mortalidade adulta.

Os dados mostraram que, enquanto a promiscuidade dos machos está associada aos "divórcios", a "infidelidade" das fêmeas não tem o mesmo efeito.

Isso parece estar relacionado a vantagens específicas para cada sexo. Para os machos, pode haver vantagem em se relacionar com múltiplas parceiras e, assim, aumentar as chances de passar para frente seu material genético para o maior número possível de descendentes.

Para as fêmeas, no entanto, a situação é diferente. A necessidade de cuidados e o alto investimento para a produção de ovos elevam o custo reprodutivo, fazendo com que elas possivelmente prefiram qualidade à quantidade de parceiros.

"A observação de que a promiscuidade masculina está associada a maiores taxas de 'divórcio' em aves monogâmicas pode ser vista como uma resposta adaptativa ao conflito sexual", disse Zitan Song, pesquisador do Instituto Max Planck de Comportamento Animal, na Alemanha, e um dos autores do trabalho.

Segundo ele, a promiscuidade dispersa a atenção e o investimento de recursos por parte dos machos, o que pode "diminuir sua confiabilidade como parceiro, levando subsequentemente ao 'divórcio' nas temporadas de reprodução seguintes".

"Esta descoberta amplia significativamente nossa compreensão do comportamento aviário, propondo que a monogamia aviária pode ser menos sobre fidelidade a um único parceiro, e mais sobre uma aliança estratégica entre machos e fêmeas para garantir investimento parental suficiente", afirmou.

O novo trabalho mostrou ainda que, além de não elevar o número de "divórcios", a promiscuidade das fêmeas também não parece ter tido impacto negativo nos cuidados parentais exercidos pelos machos. "Essa nuance adiciona outra camada de complexidade à nossa compreensão do comportamento de acasalamento das aves", considera o pesquisador.

"A percepção de que a promiscuidade feminina não se correlaciona da mesma forma [que a dos machos] enriquece ainda mais nossa compreensão da dinâmica sexual nas espécies de aves. Isso implica que, embora os múltiplos episódios de acasalamento de uma fêmea possam introduzir incerteza quanto à paternidade, eles não levam necessariamente à diminuição do cuidado parental do macho", completa.

É comum que muitas espécies de aves percorram grandes espaços geográficos em suas rotas migratórias. Ao investigar o que acontece, a análise mostrou ainda que a distância também está bastante relacionada com os "divórcios" das aves.

No processo de migração, é possível que os pares não cheguem ao destino juntos. A falta de sincronia pode levar a uma situação que a chegada antecipada de um dos indivíduos leve ao acasalamento com um parceiro diferente, resultando assim no "divórcio".

"A migração também pode fazer com que os pares pousem em locais de reprodução diferentes, causando o 'divórcio' devido à perda acidental. Este efeito se intensifica com o aumento da distância de migração", complementa Zitan Song.

As descobertas do trabalho indicam que o "divórcio" entre as aves não pode ser simplesmente atribuído a uma estratégia adaptativa ou a uma resposta a fatores ecológicos, podendo ser, simultaneamente, uma "resposta mista ao conflito sexual e ao estresse do ambiente".


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