SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Manaus é a cidade com a maior população indígena do Brasil, considerando números absolutos. É o que aponta o Censo 2022. Ao todo, o estudo identificou 71,7 mil desse grupo social na capital do Amazonas.
O levantamento mostra que 4.832 cidades brasileiras possuem indígenas. Na comparação com a pesquisa anterior, realizada em 2010, o número subiu. Na ocasião eram 4.480.
Outros dois municípios do mesmo estado aparecem na sequência. São Gabriel da Cachoeira, perto das fronteiras com Colômbia e Venezuela, mostrou a segunda maior população indígena do Brasil (48,3 mil), e Tabatinga, a terceira (34,5 mil).
Já a cidade com a maior proporção de indígenas é Uiramutã, em Roraima. Lá, 96,6% da população local é indígena. O município conta com 13,8 mil pessoas, das quais 13,3 mil se autodeclararam indígenas.
Santa Isabel do Rio Negro tem o segundo maior percentual: 96,17%. São Gabriel da Cachoeira tem 93,17%, e Amaturá, 91,95%. Todas cidades do Amazonas.
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Os 10 municípios brasileiros com maior população de indígenas
Em números absolutos
Manaus (AM) - 71.713
São Gabriel da Cachoeira (AM) - 48.256
Tabatinga (AM) - 34.497
Salvador (BA) - 27.740
São Paulo de Olivença (AM) - 26.619
Pesqueira (PE) - 22.728
Autazes (AM) - 20.442
Boa Vista (RR) - 20.410
Tefé (AM) - 20.394
São Paulo (SP) - 19.777
Fonte: Censo população indígena 2022/IBGE
É o caso, por exemplo, de Emília Cabral Wanano, 57, natural de São Gabriel da Cachoeira, cidade no noroeste do estado que tem a segunda maior proporção de indígenas do Amazonas 93,17% da população local se identifica dessa forma, de acordo com o novo Censo. O número se deve, em grande parte, à localização do município, na Terra Indígena Alto Rio Negro.
"A gente veio de São Gabriel para procurar nosso caminho. Tenho dois filhos. Queria que eles viessem [para Manaus] continuar o estudo", disse Emília.
Em números absolutos, o Amazonas tem a maior população indígena entre as unidades federativas do Brasil, com 490.854 pessoas. Isso significa que de cada 10 indígenas brasileiros, três vivem no estado.
Apesar disso, faltam políticas públicas para atender esse contingente da população, diz a pesquisadora Valéria Marques, 52, ela própria indígena do povo baniwa.
"Eu cresci sabendo que eu era indígena, mas não falava. Me empoderei politicamente e como mulher ao entrar para a academia. Percebi que o que sofremos e resistimos era discriminação. Isso dói", afirmou ela, que atualmente estuda o tratamento dado aos indígenas locais durante a pandemia de Covid-19.
Com isso, os indígenas de Manaus vivem, em sua grande maioria, nos bairros periféricos da cidade. Devido ao déficit habitacional da cidade, muitos se reuniram em ocupações. A maior delas é o Parque das Tribos, que foi formada há dez anos e hoje reúne cerca de 750 famílias de três etnias diferentes. O número de moradores é estimado em 5.000 por lideranças.
As ruas do Parque das Tribos são semelhantes às de outros bairros pobres de Manaus, mas com uma presença maior da identidade indígena.
Nesta sexta (4), um indígena oferecia seu trabalho de pintura corporal com tinta de jenipapo em uma esquina do bairro. O grafismo aparece também nas paredes de concreto e madeira. Nas ruas, adultos, adolescentes e crianças conversavam em seus idiomas nativos.
O Amazonas reconhece 16 línguas indígenas oficialmente, mas nenhuma delas é adotada na única escola instalada na comunidade.
Eliza Sateré-Maué, 40, é uma das primeiras ocupantes do parque. Ainda criança, conta, não indígenas permitiram que o pai dela participasse de uma ocupação que virou o bairro Zumbi. Dormiram em cabana de papelão por dias. Na adolescência, trabalhou como doméstica na casa de uma família de classe média. Para fugir da exploração e constantes humilhações por ser indígena, casou-se.
"A dona da casa me disse que, se eu quisesse mesmo mudar de vida, não tinha que casar com indígena. Para ela, é como se nós indígenas fossemos uma classe de pessoas inferior", disse.
Apesar das dificuldades, ela considera que o Parque das Tribos representa uma retomada do orgulho indígena. "Manaus é território indígena."
Contando com a capital, o estado possui seis dos dez municípios com mais indígenas do Brasil. O segundo lugar da lista é de São Gabriel da Cachoeira (que tem 48.256 indígenas), seguido de Tabatinga (34.497). Aparecem ainda na lista São Paulo de Olivença, Autazes e Tefé.
Em termos proporcionais, o segundo município mais indígena do país fica no estado, é Santa Isabel do Rio Negro, com 96,7%. O primeiro na lista é Uiramutã, em Roraima.
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Proporção de indígenas na população por unidade da federação
Em %
15,29 - Roraima
12,45 - Amazonas
4,22 - Mato Grosso do Sul
3,82 - Acre
1,62 - Bahia
1,59 - Mato Grosso
1,55 - Amapá
1,34 - Rondônia
1,32 - Tocantins
1,18 - Pernambuco
1 - Pará
0,84 - Maranhão
0,82 - Alagoas
0,76 - Paraíba
0,64 - Ceará
0,38 - Espírito Santo
0,36 - Rio Grande do Norte
0,33 - Rio Grande do Sul
0,28 - Santa Catarina
0,28 - Goiás
0,27 - Paraná
0,22 - Piauí
0,21 - Sergipe
0,21 - Distrito Federal
0,18 - Minas Gerais
0,12 - São Paulo
0,11 - Rio de Janeiro
Fonte: Censo população indígena 2022/IBGE
População indígena por unidade da federação
Em números absolutos
Amazonas - 490.854
Bahia - 229.103
Mato Grosso do Sul - 116.346
Pernambuco - 106.634
Roraima - 97.320
Pará - 80.974
Mato Grosso - 58.231
Maranhão - 57.214
Ceará - 56.353
São Paulo - 55.295
Minas Gerais - 36.699
Rio Grande do Sul - 36.096
Acre - 31.699
Paraná - 30.460
Paraíba - 30.140
Alagoas - 25.725
Santa Catarina - 21.541
Rondônia - 21.153
Tocantins - 20.023
Goiás - 19.522
Rio de Janeiro - 16.
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