SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Servidores da área de comunicação da Prefeitura de Campinas, no interior de São Paulo, receberão um curso de formação antirracista, depois de um vídeo publicado pela gestão municipal nas redes sociais gerar críticas por mostrar apenas pessoas negras como suspeitas.
Uma reunião com Ministério Público estadual está marcada para esta quarta-feira (30) para discutir um protocolo de publicidade institucional estabelecido em um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta).
No dia 25 de julho, em alusão ao caso de uma italiana que viralizou ao gritar "Attenzione pickpocket" para alertar turistas em Veneza sobre a presença de batedores de carteira, a Prefeitura de Campinas publicou um vídeo com a palavra "Attenzione" para anunciar que atingiu a marca de 1.100 câmeras de segurança privada que fazem parte do programa Monitora Campinas.
Porém, o vídeo só mostrava pessoas negras como suspeitas em abordagens realizadas pela GM (Guarda Municipal), o que gerou diversas críticas nas redes sociais.
"As câmeras só enxergam os pretos e pobres? Complicada essa publicidade de mau gosto", escreveu um usuário no Instagram. "Só negro sendo abordado, vocês devem rever seus conceitos", destacou outro.
"Attenzione? Que propaganda horrível!!! Attenzione que só tem negros sendo abordados por guardas brancos! Que mal estar que me deu vendo isso", apontou uma internauta.
A vereadora Guida Calixto (PT) fez uma representação na Promotoria, e os ativistas Airton Pereira Júnior e Adriano Bueno da Silva, de movimentos negros, fizeram denúncia no Centro de Referência em Direitos Humanos na Prevenção e Combate ao Racismo e Discriminação Religiosa, órgão da prefeitura.
Peter Panuto, secretário municipal de Justiça da gestão Dário Saadi (Republicanos), afirmou que a peça "não era sobre raça, mas sobre o enfrentamento ao crime. As câmeras não registram a cor, mas o crime".
O promotor de Justiça Daniel Zulian recomendou à prefeitura a suspensão da campanha publicitária por possível racismo institucional.
"Diante da possível configuração de racismo institucional, visando à proteção do direito à igualdade racial de forma preventiva, foi recomendado à Autoridade responsável pelas divulgações publicitárias [...] que suspendesse a campanha publicitária", diz trecho do despacho.
No dia 26 de julho, o vídeo foi removido e reeditado. Foi reduzido o número de pessoas negras e incluída a imagem de um homem branco entre os abordados.
Para evitar novos casos como esse, a Promotoria propôs a reunião para tratar da celebração de TAC para estabelecer protocolo de publicidade institucional antirracista pelo município de Campinas. A vereadora e os outros dois denunciantes foram convidados a participar.
Segundo a Promotoria, uma das ações que já eram estudadas é a participação de profissionais da área de comunicação em cursos de capacitação antirracista.
Mas a prefeitura decidiu se antecipar a essa medida, e a equipe de comunicação vai passar por curso presencial sobre discriminação racial, com nove horas de duração, envolvendo todos os profissionais.
Segundo a gestão, a proposta é que os cursos sejam contínuos. A oficina, afirmou a prefeitura, vai trabalhar com as seguintes temáticas: identidade nacional; preconceito, discriminação e racismo; história da cultura africana e afro-brasileira.
Quem ministrará a formação será Jacqueline Damázio, coordenadora do Centro de Referência e Combate ao Racismo e Intolerância Religiosa da Secretaria Municipal da Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos.
A Prefeitura de Campinas afirma que a Secretaria de Comunicação tem compromisso com a pauta antirracista. Disse que durante o ano publica reportagens e faz campanhas sobre o tema --desde 2021, foram 62 textos, afirma. À reportagem, a pasta reiterou que o vídeo alvo de críticas teve o objetivo de mostrar a importância das câmeras de segurança no combate à criminalidade.
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