MANAUS, AM (FOLHAPRESS) - O suposto esquema de extorsão de grupos criminosos no Amazonas, cuja revelação resultou na demissão do general Carlos Alberto Mansur do cargo de secretário de Segurança Pública, envolve o filho do militar, que também tinha um cargo no governo de Wilson Lima (União Brasil). Conforme as investigações, Victor Mansur indicava pessoas para cargos e atuou mesmo após ser demitido.
O Ministério Público do Amazonas, por meio do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), detectou que práticas de extorsão partiam de agentes de segurança pública vinculados ao Neot (Núcleo Especializado em Operações de Trânsito). O Neot era coordenado pelo filho do general.
O esquema faria uso de placas frias em veículos oficiais, segundo a investigação.
Na Operação Comboio, deflagrada pela Promotoria e pela Polícia Federal na terça-feira (29), policiais cumpriram mandados de busca e apreensão em endereços de pai e filho. Os mandados foram autorizados pelo Tribunal de Justiça do Amazonas.
O general Mansur foi preso em flagrante pela PF por posse irregular de arma de fogo. Ele acabou solto após pagamento de fiança.
A defesa do general afirmou, em nota, que o militar não foi alvo de mandado de prisão. "Ele foi apenas conduzido à delegacia em detrimento de uma irregularidade administrativa (cadastro de endereço desatualizado) constatada no momento da apreensão de uma arma de fogo encontrada em sua residência, que pertence, na verdade, a seu filho."
Os advogados disseram não ter tido acesso ao processo da investigação, em razão do sigilo dos autos.
O general é inocente, afirmou a defesa. "Ele não está de qualquer maneira envolvido em quaisquer tipos de desvio de conduta, quiçá no cometimento de delitos."
A nota diz ainda que "sua conduta ilibada é reconhecida por sua notória integridade, ética e comprometimento e princípios e valores das Forças Armadas". "Logo o fato será esclarecido pelas autoridades encarregadas pela apuração."
Os advogados afirmaram que não fazem a defesa de Victor Mansur. Eles não souberam dizer quem é o defensor do filho do general, e a reportagem não localizou os advogados.
Após a deflagração da operação, o governador demitiu o general do cargo de Segurança Pública. O filho já havia sido exonerado de cargo de confiança em dezembro de 2022.
Segundo o governo do Amazonas, a exoneração do general da reserva do Exército ocorreu para que "não haja qualquer tipo de interferência nas investigações". Servidores efetivos também foram afastados das funções, e outros comissionados foram exonerados, disse o governo.
Victor Mansur tinha cargo de confiança na Segurança Pública do Amazonas pelo menos desde 2019. Em maio de 2020, ele virou coordenador-geral do Neot, que funciona no âmbito do Detran, vinculado à pasta. O pai foi nomeado secretário em agosto de 2021.
Conforme as investigações da Promotoria, o Neot fazia ações armadas de repressão, mesmo sem ter essa finalidade. O coordenador atuava indicando pessoas para cargos e seguiu participando de operações mesmo após exoneração, segundo as investigações.
Além das buscas e apreensões em endereços do general e do filho, policiais fizeram buscas em dois gabinetes da SSP em Manaus. Também houve buscas em Apuí.
A PGJ (Procuradoria-Geral de Justiça) ingressou no caso por haver envolvimento de autoridade com foro privilegiado -no caso, o então secretário de Segurança Pública. A PF foi acionada para atuar nas investigações em razão da suposta participação de policiais militares e civis.
Segundo os investigadores, comboios de carros e viaturas da secretaria eram usados para extorsão de grupos associados ao tráfico. Os investigadores afirmaram, em entrevista coletiva à imprensa na terça, que uma organização criminosa dentro da SSP atuava para angariar dinheiro e para assegurar que não seriam descobertos.
Os crimes investigados são corrupção ativa, peculato e lavagem de dinheiro. Integrantes da secretaria faziam uso de informações privilegiadas para abordarem organizações criminosas e se apropriarem de produtos do crime, conforme as investigações.
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