RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) - "Por que sexo é tão superestimado? Sério, prefiro mil vezes comer e assistir [algo] do que transar", diz uma mulher na rede social Reddit. Neste Dia do Sexo, comemorado em 6 de setembro, a voz da internauta não é solitária: muitos têm questionado a real satisfação gerada pela atividade sexual.

A garota diz que não é assexual, que sente prazer e desejo, mas carrega frustração devido ao interesse excessivo do parceiro. "Tenho um relacionamento há alguns anos e estamos com planos de morar juntos [...] prevejo muito estresse pela frente", escreveu.

A pressão para transar mais também já incomodou Bruna Marquezine. A atriz, que teve seu nome ligado à lenda do "Surubão de Noronha" e debochou do caso nas redes, afirmou ano passado ao podcast Quem Pode Pod que compartilha do sentimento.

"Era uma época que nem energia pra transar estava tendo" diz ela. "Lembro que Manu Gavassi falou essa frase e agarrei isso: 'Sexo é superestimado. Não é isso tudo'", contou a atriz.

Em grupos do Facebook é fácil encontrar discussões sobre o assunto: "Prefiro jogar um vôlei bem jogado. Almoçar bem almoçado. Dormir bem dormido", escreve uma internauta.

As queixas masculinas também são expressivas. "Muito superestimado, prefiro ver Naruto", afirma um. "Um churrasco honesto é bem melhor que sexo", aponta outro.

Apesar do humor, contudo, fica evidente que superestimado não quer dizer ruim. A sexóloga Priscila Junqueira, psicóloga há 20 anos e cofundadora do IPSER (Instituto de Psicologia e Sexologia Essência Rara), afirma que cada um tem suas próprias perspectivas, experiências e crenças sobre o ato.

"O nível de importância dado ao sexo pode variar de pessoa para pessoa, e é válido respeitar as escolhas individuais e compreender que o valor do sexo é subjetivo", diz ela.

Na sociedade, segundo a psicóloga, o sexo é, sim, muitas vezes é superestimado ? e por vários motivos.

"A sexualidade é uma parte natural e essencial da vida humana, o que leva as pessoas a dedicarem muita atenção e importância a ela. Além disso, a mídia, a cultura popular e a publicidade frequentemente exploram e enfatizam o sexo como uma forma de atrair audiência, vender produtos e criar um apelo emocional", diz Junqueira.

E, dependendo do contexto, pode ocorrer hipersexualização, fenômeno pelo qual o sexo passa a ser constantemente destacado, impondo necessidades de adequação a determinados padrões de beleza, comportamento ou desempenho sexual. "Leva a uma intensa valorização do sexo como forma de provar a masculinidade, feminilidade ou aceitação social", afirma a sexóloga.

Junqueira diz ainda que, do ponto de vista da psicanálise, libido não é só desejo sexual, mas uma sensação que pode atingir diversos aspectos da vida. "Eu me relaciono com a comida, me relaciono com amigos, parceiros sexuais, com jogo. É uma questão de direcionamento, direciono essa minha libido para tal faceta da minha vida e para outra não."

O psiquiatra Eduardo Perin, especialista em terapia cognitivo-comportamental pelo Ambulatório de Ansiedade do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo), diz que sexo tem peso expressivo na formação de identidades sociais.

"Para os seres humanos, o sexo é relacionado ao poder e submissão; à virilidade e feminilidade; à agressividade e passividade. Entre orientais, é frequente a interseção entre a religião, espiritualidade e a sexualidade", afirma. O especialista destaca que relacionamentos afetivo-sexuais satisfatórios estão associados à melhor qualidade de vida, humor e autoestima, embora ainda exista pressão excessiva em torno do tema.

"Cobrança pelo corpo perfeito, pelo desempenho sexual de um ator pornográfico, uma exploração do assunto sexualidade e pornografia demasiada. O ser humano pode ficar dependente de qualquer estímulo hedônico, e até mesmo de estímulos anti-hedônicos", diz ele.

Para regular as emoções envolvidas, a dica é manter comportamentos variados e, além de transar, pensar de forma prazerosa em outras atividades, como esportes, meditação, hobbies, lazer, socialização, comer e beber, por exemplo.

"Quando o indivíduo tem um repertório pobre de possibilidades de comportamento regulador de emoções, tende a permanecer neste mesmo comportamento de forma impulsiva e compulsiva. É um modelo semelhante ao de dependência por uso de substâncias", afirma Perin.


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