SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A cidade de São Paulo enfrentou seu inverno mais quente em 62 anos e se prepara para um fim de semana com chance de recordes históricos de calor. Segundo a Defesa Civil estadual, a capital pode registrar 38°C.

Já o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) prevê, na tarde desta sexta (22), que a máxima de domingo pode chegar a 37°C. A Prefeitura de São Paulo, por sua vez, indica uma média de 36°C na cidade. Esta sexta foi o dia mais quente do ano, segundo o órgão municipal, com média de 34°C. O recorde também foi anunciado pelo instituto federal, mas uma máxima absoluta de 34,5°C, registrada no Mirante de Santana, na zona norte paulistana.

As máximas diferentes para a cidade podem ser explicadas, segundo meteorologistas ouvidos pela reportagem, pelo modelo de cálculo adotado na previsão a partir dos dados de satélites, radares e estações meteorológicas.

As rotinas, no entanto, começam parecidas. Para identificar sistemas meteorológicos como frentes frias e nuvens, meteorologistas consultam dados de satélites. Os documentos indicam variações de nebulosidade e são oferecidos por satélites internacionais, como o americano GOES-16, da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA, em inglês) dos Estados Unidos.

Para detectar as chuvas, especialistas consultam radares meteorológicos, inclusive para aquelas que podem chegar à capital.

É o caso de equipamentos instalados no interior, em Bauru e Presidente Prudente, sob a guarda da Unesp, e de um radar do governo do estado instalado na Barragem de Ponte Nova, na cabeceira do rio Tietê, em Salesópolis, a 109 km da capital, com raio de detecção de 240 km. Outro está instalado em São Roque, sob responsabilidade da Aeronáutica, com raio de 400 km.

É nas estações meteorológicas, convencionais ou automáticas, que os dados de pressão atmosférica, calor e umidade do ar, por exemplo, são coletados e transmitidos aos meteorologistas. No Mirante de Santana, zona norte da capital, Nelson Miessi, 76, segue a mesma rotina há 15 anos para coletar, traduzir e enviar informações que vão se tornar as previsões e avisos do Inmet, do governo federal.

"No Brasil não é fácil fazer previsão, é muito grande", diz Nelson. "Hoje tá um calor danado, em pleno inverno, com temperatura de verão, e amanhã [23] chegamos à primavera", diz o observador, que divide os turnos com outro profissional.

"De manhã, por volta das 7h30, observo tudo nos equipamentos, preparo um boletim e transmito por volta das 9h15 para o instituto. O que faço é coletar dados, aplicar algumas correções em tabelas, transformar em códigos e enviar."

Um dos instrumentos meteorológicos monitorados por ele é um heliógrafo, que registra numa fita as horas de brilho solar. Outros, tão diferentes quanto seus nomes, são o piranômetro, que coleta os dados automaticamente e de forma digital, o higrógrafo, que registra a umidade relativa no papel, e o psicrômetro, usado para medir, junto com o barômetro, a pressão atmosférica e o ponto de orvalho.

A pressão atmosférica é um dos dados mais importantes para meteorologistas, segundo Franco Nadal Villela, do Inmet. "Caracterizam a mudança do tempo e das massas de ar, porque a pressão cai antes de a frente fria chegar."

O instituto tem duas estações na cidade de São Paulo. No Mirante, que segue padrões internacionais de equipamentos e do entorno, como superfície com grama, há uma estação convencional e outra automática. A outra fica em Interlagos, na zona sul, mantida no espaço do Sesc. Já fora da capital uma estação em Barueri auxilia no monitoramento.

Além dos órgãos públicos, as informações de radares e estações meteorológicas também são usadas por empresas privadas para prever o tempo na cidade, como é o caso da Climatempo.

"Os modelos dependem muito de dados reais e observados. Quanto mais fontes de dados, de redes de estações, melhor a resolução de modelos meteorológicos", diz a meteorologista Fabiana Weycamp.

"Você insere os dados daquele dia, e aí entram supercomputadores que resolvem milhares de equações para gerar modelos de condições futuras."

No CGE (Centro Gerenciamento de Emergências Climáticas da Prefeitura de São Paulo), o monitoramento e a previsão são direcionados para a população, das áreas de trânsito aos riscos de deslizamento. Além de radares como o de Salesópolis, são usadas 29 estações automáticas distribuídas pela capital, cujas informações também vão para a Defesa Civil do estado.

"A última estação que instalamos foi em Marsilac [zona sul de SP], porque conseguimos saber das mudanças que porventura podem acontecer durante o dia pela entrada da brisa marítima", diz o técnico em meteorologia do CGE Adilson Nazário.

Com dois boletins diários, as equipes fazem correções necessárias para melhorar as previsões dos dias seguintes, afirma o técnico. Além disso, em parceria com a Força Aérea, o centro também coleta dados de um balão meteorológico solto diariamente por volta das 9h para a chamada radiossondagem. O dispositivo pode chegar a 30 mil metros de altura.


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