SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A greve no sistema de transporte sobre trilhos de São Paulo divide a opinião de quem depende do funcionamento dos trens e do metrô para chegar ao trabalho.
Próximo às escadas rolantes que dão acesso à estação Corinthians-Itaquera, da linha 3-vermelha do metrô, o conferente de logística José Rosimar da Silva 45, ouvia o discurso de militantes contra a privatização de empresas públicas pelo governo Tarcísio de Freitas (Republicanos). "A greve atrapalha sim, mas concordo com a reivindicação", disse ele, que avaliava maneiras de chegar ao trabalho, em Embu das Artes.
"Se estão reivindicando, deve ser porque [a privatização] é ruim para o povo", opinou a auxiliar de limpeza Viviane Pinheiro, 38. Por outro lado, ela disse que não concorda completamente com a greve, pelas dificuldades criadas à população que depende do transporte público.
"Eu ouvi dizer que ia ter greve, sim, mas a gente não pode parar, o patrão não quer saber", queixava-se o carpinteiro José Avelar, 57, diante do portão metálico que bloqueava o acesso às catracas da estação Corinthians-Itaquera. Ele se disse favorável à privatização do transporte sobre trilhos e contou que tem como referência de qualidade a linha 4-amarela, de administração privada. "Funciona muito melhor e a gente não fica sujeito a esse tipo de paralisação."
O jardineiro Alex Nascimento, 46, compartilha da opinião. "Acho melhor porque não precisa fazer concurso público para conseguir emprego", disse ele, que foi até a estação, mesmo sabendo da greve, para fotografar o portão fechado e mandar para o patrão.
O operador de máquinas Djalma Bessa, 46, afirmou que, apesar do inconveniente, é a favor do movimento grevista. "Por mim poderia ter mais força. É o único jeito de chamar a atenção".
Já o ajudante de obras Otoniel Neto, 43, discorda da paralisação, embora considere válida a pauta. "Deviam fazer outro tipo de protesto, porque o transporte parado prejudica muita gente."
Do outro lado da cidade, no Jabaquara, as opiniões também eram divergentes no início da manhã.
Para a auxiliar de enfermagem Maria Aparecida Utuari, 62, privatizar seria uma forma de evitar a paralisação do transporte. Ela voltava para casa após a jornada noturna de trabalho. "Estamos cansados disso, a gente depende do transporte. Moro em Poá e não sei como fazer para chegar em casa."
Também da área de saúde, Gecilene Miranda, 26, afirmou que ainda não formou opinião porque não há informações sobre o que será melhorado. "Não sabia da motivação da greve. Tudo tem seus prós e contras, mas ainda não sabemos como vai ser."
A técnica de enfermagem mora em Diadema, na Grande São Paulo, e aguardava um carro de aplicativo chamado pela empresa, que pagaria o transporte até o local de trabalho, na região da estação Trianon-Masp da linha 2-verde, uma das paralisadas.
A vigilante Vegistra Beltrão, 59, defende a privatização do serviço. Às 8h, ela esperava uma carona da empresa na saída da estação Jabaquara. "Entro às 7h40, e ainda estou aqui. Acho que tem que ser privatizado sim, porque quando você tem problema com a máquina na hora de passar o bilhete, mesmo com crédito, eles mandam ligar na empresa do cartão ou comprar bilhete."
Nas estações Luz e Paulista, passageiros que conversaram com a reportagem não contestaram os motivos da greve. Havia lamento pelas consequências na rotina, mas oposição às pautas dos sindicatos, não.
"É justa [a causa da greve], mas eu acho desnecessário parar tantas linhas porque afetou todo mundo, afetou até as escolas, que não tiveram aula", disse a barista Juliana Oliveira, 27, que tem um filho de 5 anos matriculado em uma escola estadual em Guaianases. "Meu filho ficou em casa hoje."
O governo estadual decretou ponto facultativo nesta terça por causa da greve e unidades estaduais não tiveram aula. O objetivo é facilitar a reposição de provas e aulas, assim como exames e consultas nas unidades de saúde.
"Acho que a intenção da greve é boa, o ruim é o transtorno que causa", disse a técnica administrativa Esther Silva Barbosa, 24, ao embarcar na estação da Luz. "Sei que a reivindicação é principalmente contra a privatização das linhas e eu concordo", disse, citando falhas recorrentes nas linhas 8-diamante e 9-esmeralda, operadas pela ViaMobilidade.
Os grafiteiros Roberto Mondelle, 42, e Araceli Lourenço, 31, disseram que a greve nas companhias estaduais é compreensível por causa da manutenção do emprego dos servidores. Eles dizem acreditar que o serviço pode piorar caso seja repassado à iniciativa privada.
Os dois estavam na estação da Luz por volta das 6h30 sem saber como voltariam para casa, na região do ABC Paulista ?foram pelos de surpresa pela paralisação. "Está certo, você tem que lutar pelo seu emprego", disse Mondelle. "O serviço já é caro e ruim desse jeito. Imagina se privatizar? Vai piorar", completou Lourenço.
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