RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Os ataques de milicianos ao transporte público nesta segunda (23), no Rio de Janeiro, resultaram em prejuízo financeiro de cerca de R$ 35 milhões para as empresas, além de dificultar a mobilidade da população. Cada ônibus demora seis meses para ser reposto.
A cidade registrou recorde de ônibus queimados em um só dia. Foram 35 coletivos, sendo 20 de operação municipal, cinco modelos BRT e outros de turismo e fretamento.
A estimativa do prejuízo é da Semove, federação que representa 184 empresas de ônibus no Estado. "A inexistência de seguro para este tipo de crime dificulta a reposição dos veículos destruídos, prejudicando quem depende do transporte coletivo", disse a organização, em nota.
Ainda segundo a Semove, "um ônibus incendiado deixa de transportar cerca de 70 mil passageiros em seis meses, tempo mínimo para que haja a reposição de um veículo no sistema de transporte. O custo de substituição dos veículos incendiados nesta terça-feira pode chegar a R$ 35 milhões".
Nesta terça (24), moradores da zona oeste, área que sofreu com os ataques, não conseguiam pegar ônibus durante a manhã. Os relatos dão conta de que o problema acontece desde às 4h.
"Informações quentinhas sobre transporte público para quem mora na Zona Oeste do Rio de Janeiro: não há. Bom dia e boa humilhação a todos os cariocas", publicou uma usuária no X (antigo Twitter).
O governador do Rio, Cláudio Castro (PL), afirmou que dos 12 detidos, 6 ficaram presos. A polícia não conseguiu provar que eles estavam envolvidos nos ataques em represália à morte de Faustão. Os outros seis presos serão indiciados por terrorismo, e a denúncia contra eles será encaminhada ao Ministério Público.
"A gente não vai ficar fazendo número se não há indício de autoria e materialidade. Ninguém está querendo arrumar volume para ser culpado", completou.
"Minha orientação é para toda a força do Rio de Janeiro na rua. Viaturas, carros blindados, helicópteros, drones, tanto da Polícia Civil quanto da Polícia Militar, Polícia Penitenciária também com nível máximo de cuidado e de alerta. Até estar totalmente estabilizado, assim vai ser a nossa postura para garantir que o cidadão tenha tranquilidade e o seu direito de ir e vir preservado", disse Castro, em entrevista coletiva.
QUEM É FAUSTÃO, MORTO NESTA SEGUNDA
O incêndios começaram após a morte de Faustão, apontado pelo Ministério Público e pela polícia como o número dois da maior milícia do Rio, hoje conhecida como Milícia do CL.
O grupo é comandado por Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, tio de Faustão.
Segundo a polícia, Faustão foi atingido por tiros durante um confronto entre milicianos e agentes da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) e do DGPE (Departamento Geral de Polícia Especializada) em Três Pontes, também na zona oeste da cidade.
O suspeito chegou a ser levado para o Hospital Pedro 2º, mas não sobreviveu, de acordo com a prefeitura.
Em setembro, Faustão foi denunciado por ser um dos atiradores que mataram o ex-vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho. Este, por sua vez, fundou nos anos 2000 a Liga da Justiça, grupo que deu origem à atual milícia comandada por Zinho, segundo a Promotoria.
A advogada de Faustão, Leonella Vieira, criticou a atuação das forças de segurança. "O Estado precisa ser competente para prender e não covarde para executar com tiros nas costas, como rotineiramente vem acontecendo", disse ela. "A sociedade precisa se questionar porque quando se trata de integrantes da família Braga, o alto escalão da Polícia Civil do estado do Rio de Janeiro não efetua prisões, apenas execuções."
Durante sua entrevista coletiva nesta segunda, o governador do Rio disse que está empenhado em prender as três principais lideranças criminosas do estado --entre elas, Zinho. A lista inclui também Danilo Dias Lima, suspeito de chefiar uma milícia e conhecido como Tandera, e Wilton Quintanilha, o Abelha, suspeito de ser um dos líderes da facção criminosa Comando Vermelho.
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