SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Duas das principais associações de defesa do jornalismo brasileiro criticaram as falas do secretário da Segurança de São Paulo, Guilherme Derrite, que, durante evento, declarou que parte de imprensa é canalha, publica fake news e trabalha a favor do crime.

"Canalha, de baixo nível, é a declaração do secretário [Derrite]. Pela falta de argumentos, parte para xingamentos. Se a notícia não agrada, ataca o mensageiro, que é a imprensa", afirmou Octávio Costa, presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa).

Para Cecília Oliveira, diretora da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), as afirmações feitas pelo secretário são uma afronta à liberdade de imprensa e uma incitação aos ânimos de alguns policiais diante do trabalho de jornalistas.

"Apesar de não nomear os órgãos que criticou, e [se nomeasse] prestaria um grande serviço para que esclareça suposta relações com o crime. Se está ciente de algum crime cometido, precisa denunciar, porque senão está prevaricando. Assim como acusados poderiam se defender", afirmou ela.

Ainda segundo a diretora, os jornalistas passaram por um período no governo de Jair Bolsonaro (PL) em que os ataques à imprensa foram estimulados. Derrite, afirma, é simpático ao ex-presidente e usa a mesma tática.

O secretário da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), que é deputado licenciado pelo PL, deseja concorrer a uma vaga ao Senado no pleito de 2026.

"Permanece no modus operandis que agita uma base radicalizada e pode ser útil em sua ambição [política]", afirma Cecília.

Conforme levantamento da Abraji, os ataques a jornalistas saltaram de 130 casos, em 2019, para 557, no ano passado. A associação diz que, em 41,6% desses casos, há ao menos um integrante da família Bolsonaro envolvido.

Os ataques feitos por Derrite ocorreram durante palestra em evento privado, o 3º Congresso de Operações Policiais (COP), realizado na capital, cuja plateia era formada por policiais e por empresários ramo de armas e tecnologia voltadas às operações policiais.

O secretário fazia um balanço dos dez meses de gestão e destacou o combate ao tráfico de drogas, em especial no enfrentamento na cracolândia, na região central, e também ressaltou a Operação da Escudo, na Baixada Santista, que deixou ao menos 28 mortes.


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