SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O temporal que atingiu São Paulo na tarde desta sexta (3) deixou cerca de 2,1 milhões de pessoas sem luz no estado. Na falta de energia, internet e água quente, moradores relatam que recorreram a shopping para carregar celular, ferveram água para tomar banho e foram em busca de gelo para não perder comida congelada.
A servidora pública Naiara Pirondi, 37, que vive em Itu, no interior de São Paulo, afirma que o temporal estragou telhas de sua casa. Ela conta que, sem energia e sem vela em casa, acabou indo dormir mais cedo. Neste sábado (4) pela manhã, ainda sem luz, o jeito foi ler um livro.
No início da tarde, como continuava sem energia, Naiara decidiu ir até um shopping para carregar o celular. Mas teve que ir atrás de um táxi, já que, sem bateria no celular, não conseguia pedir um carro por aplicativo. No caminho, parou em um supermercado para sacar dinheiro e pagar o motorista pela corrida. "Normalmente faço Pix, mas sem celular eu não teria como pagar", diz.
No shopping, a servidora viu que não era a única em busca de uma tomada. Ela diz que conseguiu carregar o telefone e ficou no local por algumas horas enquanto tentava contato com o pai da filha que está viajando.
Nem todos, porém, tiveram a mesma sorte. A estudante de física Ana Luiza Bollini, 26, que vive no Butantã (zona oeste), disse que está sem luz desde sexta e que procurou um café pelo bairro, mas todos estavam sem energia. Por isso decidiu ir até o shopping Eldorado, perto dali, em Pinheiros, mas não encontrou nenhuma tomada livre.
"Mesmo no shopping não encontrei tomada, as pessoas estão monopolizando", disse. "Meu celular é o último de casa com um pouquinho de bateria."
Ela, que desistiu de tentar carregar o aparelho no shopping, disse que viu pessoas retirando enfeites de Natal das tomadas para conseguir carregar eletrônicos.
O bancário Breno Frazão, 28, que mora na Vila Mariana (zona sul), relata que ficou quase 24 horas sem luz em casa --a energia voltou às 15h deste sábado. Com comida no congelador e medo de que tudo estragasse, Frazão diz que comprou gelo para dar sobrevida ao alimento.
Ele conta que o prédio em que mora tem gerador e por isso elevadores e tomadas de áreas comuns seguiram funcionando. Assim, ele conseguiu carregar os celulares de casa. Sem água quente, porém, a namorada ferveu água para tomar banho.
A tempestade que atingiu São Paulo teve rajadas de vento de mais de 100 km/h. Ao menos seis pessoas morreram no estado.
De acordo com a concessionária Enel, responsável pela distribuição de energia na capital e em mais 23 municípios da região metropolitana, a cidade de São Paulo foi a mais afetada pelo temporal, com 1,4 milhão de consumidores sem energia --neste sábado o serviço foi restabelecido para 400 mil.
A empresa classificou a situação como excepcional e disse que desde 1995 não era observado um evento dessa magnitude. A prioridade, segundo a Enel, é restabelecer o fornecimento de energia em hospitais e escolas que receberão candidatos do Enem, que começa neste domingo (5). Ao menos 84 escolas apresentam problemas devido ao temporal no estado.
Outro que comprou gelo para salvar a comida armazenada na geladeira foi o analista de dados Vinicius Braga, 35, morador do Ipiranga (zona sul). Pai de um bebê de um ano, ele conta que também comprou fósforo para esquentar a mamadeira do filho e ferveu água para dar banho no pequeno.
Sem luz, a mulher e o filho foram para a casa de uma parente. Vinicius, porém, teve que ficar em casa porque tinha um trabalho da pós-graduação para apresentar. Sem internet nem bateria no computador, fez o trabalho pelo celular, que está com sinal oscilando.
"Está bem difícil. Dei uma volta de carro, mas só consegui carregar um pouquinho", diz. Ele reclama da falta de comunicação com a Enel, que não dá previsão de quando a energia deve voltar.
O treinador de esporte eletrônico, João Pedro Barbosa, 26, relata situação parecida. Morador da Vila Leopoldina (zona oeste) --onde o temporal também derrubou diversas árvores-- e com viagem marcada para o Rio de Janeiro, ele conta que teve que terminar de fazer a mala no escuro e precisou ir até a portaria do prédio para conseguir carregar o celular e chamar um Uber.
Como consequência, na Grande São Paulo o Corpo de Bombeiros registrou 46 desabamentos e mais de 1.300 chamados relacionados a queda de árvores, de acordo com o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos). Quase metade (528) era de ocorrências na capital.
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