RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Um beco estreito do Morro do Cruz, na zona norte do Rio de Janeiro, ganhou uma cara nova. Isso porque as plantas que Thaline da Mata, 31, recebeu do coletivo Favela Viva trouxeram o verde para mais perto e, até mesmo, para a própria casa. Próximo à sua porta, a moradora vê um abacateiro e outras espécies plantadas pelo projeto, que busca mitigar os efeitos da falta de arborização na favela no bairro do Andaraí.
"Eu aprendi a plantar, a cuidar das plantinhas. Na minha casa, todo mundo tomou esse amor, porque o projeto trouxe esse sentimento para a gente. Antes, o beco era feio, mas, agora, não. É mais verde, tem várias espécies de plantas", conta a moradora.
Com as altas temperaturas no Rio em razão das mudanças climáticas, o Projeto Favela Viva vem tentando mitigar os efeitos da falta de árvores na comunidade. "O projeto mostra aos moradores que não é apenas uma árvore. É um fruto, uma sombra, como abrigo ou proteção para os animais", diz.
A iniciativa busca promover ações socioambientais e conta com 17 voluntários, que já plantaram 42 espécies, como goiabeiras, abacateiros, entre outras nativas da mata atlântica, incluindo o palmito do tipo jussara, que está ameaçado de extinção. A próxima espécie que o grupo deseja plantar é o pau-brasil.
Segundo Ronaldo Rozendo, cofundador do projeto e mestrando em Geografia pela Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), a ideia é plantar espécies da mata atlântica para conservar o bioma no ambiente da favela.
"Está difícil manter os ambientes verdes. Diante disso, a minha preocupação foi criar o projeto para esse resgate. Falta muito reflorestamento, árvores nas comunidades", diz Rozendo.
Para o plantio, o coletivo faz mutirões a cada mês com os voluntários e moradores, a fim de engajar a comunidade na conscientização ambiental.
Milena Mota, 21, é uma das que participam do plantio há um ano e meio. "A ideia de plantar árvores na favela é para trazer mais qualidade de vida para os moradores. Também passar o conhecimento para as crianças, porque, quando temos mutirão, passamos a importância de cuidar do meio ambiente."
Segundo Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da USP (Universidade de São Paulo) e membro da Academia Brasileira de Ciências, locais em vulnerabilidade tendem a sentir mais as mudanças climáticas.
"É importante perceber que as mudanças climáticas têm impactos globais, regionais e também locais, que são os que mais impactam a população como um todo, como a questão da seca em várias comunidades da Amazônia. As áreas urbanas que têm alta vulnerabilidade são as que mais sofrem com as mudanças climáticas", diz.
"A gente vê comunidades no Rio de Janeiro sendo desenvolvidas sem nenhuma manutenção da arborização, que pode ajudar muito na redução do aumento da temperatura local e da ilha de calor urbana", explica o cientista.
Para Artaxo, além de iniciativas como a do projeto, é necessário que o poder público atue nessas áreas. "Isso tem impacto na vida e na saúde das pessoas, principalmente de crianças e idosos", destaca.
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