RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) - Com qualidade do ar considerada péssima, Manaus vive há semanas sob ondas de fumaça, tendo vivido o mês com a maior quantidade de incêndios nos últimos 25 anos para a região (cerca de 15 mil em todo o Amazonas).
A poluição gerada por incêndios com queima de vegetação, seja florestal, agropecuária ou rasteira, é mais tóxica que a sujeira atmosférica observada em grandes cidades.
Juntamente com partículas de solo e materiais biológicos, esses gases liberados podem conter vestígios de produtos químicos, metais, plásticos e outros materiais sintéticos que o fogo possa ter encontrado e queimado pelo caminho, e também uma mistura de poluentes atmosféricos perigosos como hidrocarbonetos aromáticos ou chumbo.
João Salge, pneumologista do Fleury Medicina e Saúde, destaca que o material particulado de carvão presente na fumaça pela queima da madeira é o mesmo da queima de combustíveis em centros urbanos, mas com o agravante de ser uma situação extrema, aumentada em grande quantidade de uma hora para outra.
"Esse material particulado é derivado de queima de biomassa, então são partículas de carbono aglomeradas. Quanto menor o tamanho, mais profundamente isso chega no pulmão, porque vence as barreiras de filtragem natural que a gente tem nas vias aéreas", diz o médico.
A fumaça traz material particulado que pode chegar a 2,5 microgramas por metro cúbico. Segundo Salge, isto consiste em um material bem fino, capaz de adentrar alvéolos e, portanto, de acessar a corrente sanguínea.
A médica geriatra Carla Núbia Borges, presidente da Associação Brasileira de Neuropsiquiatria Geriátrica (ABNPG) e professora da Universidade Católica de Pernambuco, reforça que a situação que está ocorrendo no Norte do país traz imenso prejuízo à saúde.
"Os efeitos da fumaça, principalmente nos idosos, são extremamente intensos e podem causar doenças respiratórias, cardiovasculares e problemas imunológicos", diz. A fumaça inalada em quantidade pode provocar dificuldade em respirar, tosse seca, broncoespasmo -principalmente em quem já tenha problemas respiratórios prévios ou crônicos-, Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), pneumonias, doença fibrocística pulmonar e danos cardiovasculares.
"São patologias que acometem a superfície respiratória, que ficam ainda mais prejudicadas quando em contato com partículas nocivas. Pode também, a longo prazo, aumentar o risco de infarto e provocar câncer, como o de pulmão", diz Borges. A fumaça pode também agravar casos de rinite, alergias e infecções de repetição.
Estudos nos Estados Unidos associaram a fumaça de incêndios florestais a maiores taxas de ataques cardíacos, derrames e paradas cardíacas, além de significativo aumento de visitas a pronto-socorros por problemas respiratórios e baixas imunológicas.
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) Norte Americano destaca também crianças e gestantes como grupo de risco, sendo que um estudo feito na Califórnia concluiu que gestantes expostas à fumaça de incêndios florestais tiveram comprometimento da função placentária por alteração das células Hofbauer fetais e do estado imunológico.
O pneumologista Salge diz que usar máscara não traz grande proteção em caso fumaça. "Esse material particulado é dissolvido no ar e essas partículas estão muito pequenas, então as máscaras não são uma barreira para esse tipo de material, talvez para partículas maiores. O ideal é umidificar os ambientes tanto quanto possível e evitar a exposição nos horários mais críticos", afirma o médico.
A geriatra Borges reforça a importância também de manter a hidratação e o tratamento de doenças prévias, bem como evitar atividades fora de casa. Se não houver como evitar a saída ou a fumaça estiver muito próxima do local em que se está, a médica sugere o uso de máscaras N95, para ao menos reduzir o dano.
Segundo a CDC dos EUA, após aspirar fumaça de incêndio, a pessoa deve estar atenta a sintomas como tosse, chiado no peito, olhos ardentes, seios da face e nariz irritados, cansaço, dor de cabeça, batimento cardíaco rápido e dor no peito.
Vale lembrar que os efeitos da exposição à fumaça podem persistir por anos. Uma pesquisa australiana demonstrou que as taxas de doenças cardíacas após contato direto com fumaça podem permanecer elevadas durante dois anos e meio e que, para doenças respiratórias, o risco sobe para cinco anos.
Para Salge, encerrar a fonte da poluição seria a medida urgente mais eficaz a se cobrar em termos de prevenção.
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