Segundo Fernando D’Oxum, é difícil verificar o número de umbandistas no Brasil. “As pessoas, em um censo, por exemplo, não dizem que são umbandistas, elas se dizem espíritas, e aí já começa uma grande confusão. Esta tem sido uma batalha nossa para que o umbandista se reconheça como umbandista e não como espírita. Fora os que no censo se dizem católicos, porque têm um acesso mais facilitado.
Para o pai Fernando D’Oxum, a Umbanda é uma religião que nasceu na cidade de São Gonçalo e foi anunciada pelo médium Zélio Fernandino de Moraes, no dia 16 de novembro de 1908, embora, na véspera, o médium tenha feito uma manifestação na cidade vizinha Niterói, data que acabou sendo marcada como Dia da Umbanda.
“É uma religião brasileira que a gente entende como 100% brasileira, com influências do povo indígena, dos hindus e de várias vertentes da religiosidade brasileira e, logicamente, do catolicismo. É uma religião que se predispõe à caridade, à prática de ajuda ao outro e que hoje está presente em quase todos os continentes. Uma religião que avançou mundo à fora”, disse pai Fernando.
Sincretismo
Na visão do babalorixá, a umbanda toma um pouco a vertente da matriz africana do candomblé quando começa a reconhecer e adaptar os orixás, que são os guias, e que chegaram com os negros do povo da áfrica no Brasil.
Além disso, tem o sincretismo, que surgiu da necessidade das pessoas escravizadas associarem um orixá a um santo da igreja católica. Foi assim que São Sebastião é Oxossi, São Jorge é Ogum, Nossa Senhora dos Navegantes e Iemanjá, Nossa Senhora da Conceição é Oxum e Santa Bárbara é Iansã, entre outros. Assim, os escravizados podiam professar a sua fé nas fazendas onde viviam.
De acordo com pai Fernando, o sincretismo vem se modificando ao longo dos anos e, atualmente, algumas casas não fazem mais altares com santos católicos. “Algumas casas de Umbanda não fazem mais sincretismo nos altares, ou seja, os santos católicos em algumas casas já não estão mais presentes nos altares.”
Por considerar São Gonçalo como o berço da umbanda, que é muito poderosa na cidade, diante dos desafios desta religião, o babalorixá propõe a criação de uma lei municipal que determine a inclusão dela no calendário oficial da cidade.
Preservação
Pensando em preservar o patrimônio histórico, a tenda espírita criou o projeto do Museu da Umbanda, que ainda não tem uma sede física, mas vem avançando desde 2009. Pai Fernando destacou que uma peça importante desse patrimônio foi perdida com a demolição da casa do médium Zélio Fernandino de Moraes, em Neves, bairro de São Gonçalo, onde a Umbanda foi anunciada em 1908. A prefeitura da época não realizou a desapropriação do imóvel.
Renovação
A Tenda Espírita São Lázaro não faz iniciação de crianças e adolescentes. Lá, somente aos 18 anos podem ser iniciados, mas antes disso, a partir dos 13 anos podem participar do grupo jovem Bala e Pimenta onde recebem informações sobre a Umbanda e a doutrina espírita.
“A missão do grupo é sempre difundir a nossa doutrina. O que a Umbanda é realmente com seus preceitos tudo que realmente prega até mesmo para nós, jovens, espalharmos no nosso meio o que é a Umbanda realmente e tirar um pouco do preconceito. O grupo é para expandir a nossa doutrina entre os jovens do nosso terreiro”, afirmou o estudante Samuel Salustiano da Costa, 17 anos, o coordenador do grupo.
“Nesse momento, de descobrir o que eu quero ser, qual o caminho que vou seguir na minha vida, a umbanda me ajuda muito nessa fase de jovem, O que a religião passa e mais me representa é a inclusão, o estender a mão a todos, o amor incondicional e a caridade”, revelou Samuel.
O contato do pai Wilker com a umbanda foi com a própria família que seguia esta religião. Com 16 anos ele começou a desenvolver a mediunidade e com 19 anos fez a coroação para babalorixá. “Sempre foi permitido a mim olhar, ter contato com outras crenças religiosas, mas eu já nasci umbandista. Sempre gostei desde pequenininho. Não me lembro com interesse em outras. Pela minha criação e o que meus pais me passaram sempre respeitei, visitei Igreja Católica, protestante por convite, mas a minha convicção sempre foi umbandista”.
Celebrações
A umbanda tem também muito a celebrar pelos seus 115 anos. Para isso, foi elaborada uma longa programação para comemorar sua participação entre as representações religiosas no Brasil.
Em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio, a prefeitura, por meio da Comissão da Semana da Umbanda, criada para organizar as celebrações, preparou uma agenda que começou na segunda-feira (13) com o debate Legalização e Justiça - um caminho possível para o fim das violências contra os povos de terreiro. O evento foi realizado na Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), naquele município.
A programação tem ainda a exposição Pelos Caminhos da Umbanda, no hall principal da Câmara Municipal de São Gonçalo, promovida pelo Instituto Carta Magna da Umbanda. A ideia da mostra, que vai até amanhã (16), foi apresentar a construção da religião brasileira de matrizes africanas e indígenas, a partir de suas práticas, ritos, territórios e historicidade.
Também amanhã, às 17h, durante uma sessão solene em homenagem às lideranças da umbanda na Câmara Municipal de São Gonçalo, os homenageados receberão a medalha Zélio Fernandino de Moraes.
Na sexta-feira (17), haverá um show do cantor e compositor gonçalense Altay Veloso, no Teatro Municipal de São Gonçalo, às 19h. A apresentação vai terminar com a bateria da escola de samba Porto da Pedra. Os shows serão gratuitos e sujeitos à lotação.
Encerrando a programação da semana, no sábado (25), será o momento do Encontro dos Povos de Terreiros de São Gonçalo, das 14h às 20h, na Praça Zélio Fernandino de Moraes, Marco Zero da Umbanda, no bairro de Neves. Lá, as homenagens serão dirigidas a lideranças religiosas, com o Banda com Banda, cerimônia de hasteamento da bandeira da umbanda e uma feira de artesanato e gastronomia.
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