SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Pais de um aluno de sete anos da Fundação Instituto Tecnológico de Osasco (Fito), instituição particular localizada no Jardim das Flores, em Osasco, acusam a escola de omissão e negligência em episódios nos quais o filho teria sido vítima de racismo. Em nota, o colégio diz repudiar qualquer conduta discriminatória e afirma que apura o caso.
A família diz que os problemas começaram no início do ano letivo, quando a criança ingressou no colégio. Os pais afirmam que o filho vinha sendo isolado dos colegas e que a professora afirmava que ele tem problemas psicológicos e de aprendizado.
Segundo a mãe da criança, o menino relatava não ter companhia para brincar ou fazer trabalhos e dizia que os alunos brancos "não eram legais" com ele. Ela classifica o caso como racismo estrutural.
Após as alegações da professora -que havia dito, por exemplo, que a criança tem TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade)-, os pais do garoto contrataram uma psicóloga para avaliar o comportamento dele. No laudo, segundo os pais, a profissional diz que o menino não possui nenhum problema e afirma que ele é excluído na escola.
A mãe denunciou o caso nas redes sociais no início de novembro e tirou o filho da escola. Segundo ela, a criança vem recebendo aulas particulares em casa.
A família também levou o caso à polícia. Uma denúncia foi registrada no dia 13 de novembro no Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância) e encaminhada ao 1° DP de Osasco, onde o caso é investigado sob sigilo. A SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirma que diligências estão em andamento para esclarecer os fatos.
A Secretaria de Educação de Osasco, com quem a escola tem um convênio, afirma que a direção do colégio afastou a professora e a coordenadora denunciadas até que seja realizada uma sindicância interna. Vídeos gravados nas salas de aula e nas áreas de convivência, por exemplo, serão analisados.
Em um depoimento publicado nas redes sociais, o pai do menino diz que a experiência no colégio prejudicou a autoestima do filho. "Ele se sente preterido de tudo, ele se questiona em relação à cor dele, diz que não quer estudar em um colégio de branco porque nenhum branco gosta dele", afirmou no post. A reportagem não divulga o nome dos pais para preservar a identidade da criança.
A mãe conta que o filho relatava que, quando a professora perguntava quem queria fazer o trabalho com ele, ninguém queria. Ela diz que chegou a questionar o filho se a professora não tentava reverter o cenário, e o garoto respondeu que não. A mãe afirma, ainda, que por diversas vezes ouviu o filho dizer que fazia as atividades sozinho e que quando realizava tarefas com outros colegas os mesmos não o deixavam falar.
Em post publicado no dia 10 de novembro, a direção disse estar consternada.
"A fundação repudia veementemente qualquer ato de racismo ou conduta discriminatória em nossa escola e reforça o seu compromisso em combater com todo rigor qualquer suspeita ou indício deste tipo de conduta", disse.
O colégio afirma, ainda, que os pais da criança foram chamados para uma reunião.
"A direção pretende acolher os pais e colocar psicólogos à disposição. A direção da unidade não compactua com comportamentos de exclusão. Ao contrário disso, atua pela integração de seus estudantes, professores e demais funcionários."
A mãe afirma que a escola é reconhecida na região em que ela mora e que os irmãos do seu filho mais novo também estudam lá. Por isso decidiu matricular o garoto na instituição.
Este não é o primeiro caso de racismo na escola. No ano passado, uma sobrinha da mãe estava saindo do colégio quando alunos começaram a imitar sons e gestos de macaco. O caso foi registrado em um boletim de ocorrência, ao qual a reportagem teve acesso.
Ela afirma que agora vai buscar um colégio que promova uma educação antirracista, ainda que seja fora de Osasco. "Vou levar mais tempo para levá-los para a escola, vou ter que mudar toda a logística de casa. Não tem o que fazer."
Segundo ela, o objetivo ao expor o caso é tentar evitar que situações como essa se repitam.
"As crianças não têm culpa [de promover isolamento], quem tem culpa é quem está à frente de um cargo e não consegue ter a capacidade de entender que é preciso dar letramento racial a essas crianças."
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