SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Enquanto tentavam chegar ao trabalho nesta terça-feira (28), passageiros divergiam sobre a paralisação de funcionários do metrô e da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) contra os planos de privatização do governo de São Paulo. Uns diziam ser legítimo reclamar, outros não viam propósito no movimento.

A greve não afeta as linhas privatizadas do metrô (4-amarela e 5-lilás) e de trens (8-diamante e 9-esmeralda). No início da manhã, as linhas 1-azul, 2.verde e 3-vermelha operavam parcialmente, e a linha 15-prata estava parada. Na CPTM a operação também era parcial.

Vanderleia Pereira, 51, trabalha em um cartório na praça da Sé, no centro. Normalmente usa o metrô, mas aguardava na estação Itaquera (zona leste) a chegada de um amigo para irem de trem até a Luz, na região central. Dali, usaria a linha 4-amarela do metrô, privada.

"Acho que privatizar não é a solução", disse, em referência às pautas da greve. "A gente teve essa experiência com o apagão da Enel. Fiquei 24 horas sem luz, mas teve gente que sofreu muito mais. Eles reduziram as equipes, não tinha gente para atender", afirmou.

Para Vanderleia, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) parece empenhado na decisão de conceder serviços à iniciativa privada. "Tanto a Sabesp quanto o metrô e a CPTM", disse.

Já para Tiago Silva, 31, o debate vai além de privatizar ou não os serviços de transporte. Ele conta que mora em Guaianases (zona leste) e trabalha em um call center na Barra Funda (zona oeste).

"Não é só transporte. Você tem a [população da] zona leste que atravessa a cidade para trabalhar porque não tem uma estrutura de emprego", afirmou. "Se não tem uma opção de trampo a 30 minutos de casa, a pessoa enfrenta duas horas de locomoção."

No fim da madrugada, o auxiliar de logística José Roberto Santos, 36, esperava a abertura da estação de trem. Ele trabalha em Osasco. "Não tenho como chegar e o patrão não quer saber de nada."

Interpelado por participantes da greve que distribuíam panfletos na estação, ele respondeu que era melhor privatizar tudo e pagar mais caro para "não ter palhaçada".

Poucos minutos depois, às 4h30, as escadas foram liberadas com o início da operação na linha 11-coral, e Santos embarcou para tentar chegar ao trabalho. Os trens circulam entre as estações Guaianases e Luz.

O pedreiro Genivaldo Ribeiro, 52, estava na dúvida sobre como chegar a Osasco. Normalmente, vai de trem até o Brás para chegar à Barra Funda e, de lá, ir até Osasco, para chegar às 5h40 no trabalho.

"Eu estava sabendo da greve, mas a gente precisa vir para mostrar ao patrão que tentou", disse. Após avaliar que não seria possível chegar no horário, Genivaldo desistiu.

"O problema é que privatizar não vira benfeitoria para nós", afirmou, sobre a motivação dos protestos. "Era melhor não mexer, deixar como está."

Na estação Jabaquara da linha 1-azul do metrô, com suas entradas bloqueadas por seguranças do Metrô e manifestantes dos sindicatos, poucos desavisados sobre a greve chegavam. Reginete de Lima, 48, era uma. Ela ia ao médico, em Santo Amaro, zona sul. Ao saber da greve, a qual achou absurda, cancelou o compromisso. "Que palhaçada. Só sabem atrasar a vida dos outros."

Pouco depois chegou Graziela Souza, 23. Atendente em uma loja no shopping Center 3, na avenida Paulista, ela sabia da paralisação e marcou de encontrar colegas em frente à estação para dividirem o valor de um carro por aplicativo. Mesmo com o prejuízo, a jovem afirma apoiar a greve.

"Vejo problemas na linha 9-esmeralda [administrada pela concessionária ViaMobilidade] todos os dias, não quero isso para todas as linhas", diz. "O governador só escuta quem nunca pisou num transporte público."

O primeiro colega de Graziela a chegar na estação foi Carlos Augusto, 27. Transpirando, ele relatou ter enfrentado um ônibus lotado para chegar ali. "O dia já começou ótimo, né? Imagine o restante dele", disse com ironia.

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