SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após o apagão causado pelo temporal que derrubou árvores e deixou milhões de moradores de São Paulo no escuro, no mês passado, coube a Edson Aparecido, secretário de Governo da gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), cobrar um plano de contingência da Enel para evitar novas crises no abastecimento de energia na cidade.

No mesmo gabinete de onde saíram os ofícios enviados à concessionária, ocorrem as reuniões que determinam as principais ações sobre a cracolândia. Os encontros acontecem com frequência, sempre a portas fechadas, com o secretário-executivo de Projetos Especiais, Edsom Ortega, responsável pelo tema na esfera municipal.

A secretaria comandada por Aparecido aparece também como coordenadora da comissão responsável pelo Carnaval de rua 2024, outro assunto considerado sensível para a cidade a menos de um ano das eleições municipais. Nunes é pré-candidato à reeleição.

Atrelada ao gabinete do prefeito, a secretaria de Governo incorporou a secretaria de Gestão no fim de 2020, segundo decreto do então prefeito Bruno Covas (PSDB), morto em maio de 2021. A pasta sempre teve papel atuante na administração da cidade e funciona como uma espécie de braço executivo do gabinete do prefeito, mas foi a partir de novembro do ano passado, quando Aparecido passou a chefiá-la, que assumiu papel central na gestão Nunes.

Apesar de terem contato constante com Nunes em grupo de WhatsApp, alguns secretários reclamam de esperar dias para despachar com o mandatário, o que é feito de forma indireta por Aparecido.

Inaugurações de obras e visitas a eventos dominaram a agenda oficial do prefeito em novembro. O prefeito esteve em 11 inaugurações, visitou dez obras, concedeu nove entrevistas e acompanhou dois cultos evangélicos.

Ex-secretário municipal de Saúde durante a pandemia de Covid-19, Aparecido passou a integrar a gestão Nunes após perder as eleições para o Senado pelo MDB. Para concorrer ao cargo, ele saiu do PSDB, seu partido por 40 anos, em meio às negociações para concorrer ao governo paulista como vice na chapa de Rodrigo Garcia (PSDB). O posto ficou com o União Brasil, e Aparecido concorreu como postulante ao Senado.

Antes dele, a secretaria era comandada por Rubens Rizek, homem de confiança de Covas. Com perfil mais técnico, Rizek também atuava a frente das principais questões da cidade, mas Covas mantinha contato direto no dia a dia com os secretários, o que acontece de maneira menos frequente atualmente.

A Folha de S.Paulo pediu entrevista com Aparecido, mas não foi atendida. Em contrapartida, a gestão Nunes enviou uma nota. O texto afirma que a organização do Carnaval de rua está sob comando das Subprefeituras e que a comunicação da gestão municipal com a Enel se dá de forma multisecretarial. Em relação à cracolândia, diz que o trabalho é feito em conjunto com o governo estadual.

Depois que Aparecido assumiu, o comando da cracolândia deixou as mãos de Alexis Vargas, então secretário-executivo de Projetos Especiais, e passou para Edsom Ortega, atual titular da secretaria ?e apontado como homem de confiança de Aparecido.

Sob Aparecido, houve mudança também na secretaria de Habitação, atualmente comandada por Milton Vieira, após desentendimentos do antecessor, João Farias, com o prefeito a respeito do programa Pode Entrar. O projeto é tido como uma das vitrines da gestão Nunes para fazer frente ao adversário político Guilherme Boulos (PSOL), liderança do movimento sem-teto.

Enquanto Nunes alça o colega de partido a homem forte da administração municipal, ele poupou outra emedebista integrante de seu secretariado: Aline Torres, chefe da pasta de Cultura.

A gestão do Carnaval de rua passou para a secretaria de Subprefeituras após dois anos sob tutela da Cultura. Nesse período, Torres enfrentou uma série de embates com os organizadores dos blocos, que acusaram a gestão municipal de abandono e desmonte da festa de rua na capital paulista.

No início deste ano, a pouco mais de uma semana para o início dos desfiles, associações de blocos publicaram uma carta em que reclamavam de ausência de diálogo e falta de planejamento.

Apesar de a organização do Carnaval de rua ser das Subprefeituras, decisões estratégicas, como trajetos dos blocos e horário de encerramentos dos desfiles, devem ser submetidas a um comitê intersecretarial chefiado pela pasta de Aparecido e criado via decreto do Executivo em setembro.


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