SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O tiro que partiu da arma de um soldado da Polícia Militar e que atingiu o olho da vendedora de flores Daiane Cristina Santos, 34, foi acidental, segundo relataram agentes que apresentaram a ocorrência na Polícia Civil, sete horas depois do ocorrido. A vítima foi baleada na noite de quinta-feira (6), enquanto mexia no celular ao tomar conta de um estabelecimento comercial da família em Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo.

De acordo com o boletim de ocorrência, Santos foi atingida por volta das 19h30, mas a comunicação para os investigadores ocorreu apenas às 2h30 de quinta-feira (7).

Segundo familiares disseram à reportagem na tarde de quinta, médicos que atenderam a vítima disseram que ela perdeu a visão do olho direito.

Conforme o registro da ocorrência, uma equipe de PMs foi acionada pelos seus superiores depois de uma dupla de policiais inserida no programa Atividade Delegada se envolver em um caso com disparo de arma de fogo.

A dupla, ainda conforme o relato, patrulhava um ponto de tráfico na rua Dona Eloá do Valle Quadros, quando, ao desembarcar da viatura em uma via íngreme, um soldado efetuou um disparo acidental. A vítima estaria na calçada, em um ponto mais baixo da rua, de acordo com o documento.

O disparo, que acertou o olho e transfixou a bochecha de Santos, ainda teria atingido o pé de uma outra mulher que passava pelo local. Ela teve ferimentos superficiais, foi atendida em um hospital e liberada.

O boletim detalha ainda que o autor do tiro, um PM de 35 anos, compareceu ao 49º DP (São Mateus) com seu advogado, que o orientou a permanecer em silêncio.

O delegado Braulio Teixeira de Almeida registrou o caso como disparo de arma de fogo e lesão corporal.

Santos continuava internada nesta sexta-feira em um hospital municipal na zona leste. Seus familiares contaram que ela deve passar por uma cirurgia na próxima terça-feira (12) em uma outra unidade médica.

De acordo com Edna Aparecida Santos, 57, mãe da vítima, a filha relatou que assistia a vídeos pelo celular, dentro da loja, quando foi atingida.

Conforme o relato de familiares, testemunhas tiveram que insistir aos PMs para que socorressem Santos. Um vídeo mostra a mulher sendo amparada por outras pessoas enquanto um policial acompanha a ação a distância. Ela então é colocada por testemunhas dentro da viatura, que deixa o local com a sirene ligada.

"É mais um trabalhador que a polícia atinge. É mais um trabalhador que pela misericórdia de Deus não morreu, porque ela nasceu de novo. É mais uma mulher negra que sofre com essas coisas. É muito triste, porque a gente tem polícia para proteger a gente, não para matar a gente. E ultimamente eles só têm nos matado, matado os pais de família. Matam nossos filhos, nossas filhas, é o que está acontecendo", disse Edna à reportagem, chorando.

Em nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública), pasta do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) chefiada pelo secretário Guilherme Derrite, afirmou que foram abertas duas investigações, uma pela Polícia Civil e outra pela Militar.

A arma do PM foi apreendida e foram requisitados exames periciais. O caso é investigado pelo 54º DP (Cidade Tiradentes) como disparo de arma de fogo e lesão corporal.


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