PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) - Quase dois dias após o forte temporal que atingiu Porto Alegre e outras cidades do Rio Grande do Sul na noite de terça-feira (16), 407 mil clientes das duas concessionárias de energia elétrica ainda estavam sem luz na tarde desta quinta (18).

Também faltava água, devido à ausência de geradores nas estações de tratamento e casas de bombeamento, e sinal de internet.

Conforme a Defesa Civil do estado, 60 municípios registraram estragos em decorrência das chuvas. Um homem morreu após a marquise de um supermercado desabar sobre ele, em Cachoeirinha.

Revoltados com a falta de energia, moradores de ao menos dez bairros da capital gaúcha realizaram protestos exigindo manutenção da rede elétrica, segundo a Brigada Militar. Em julho, após a passagem de um ciclone pelo RS, houve clientes no interior que ficaram 15 dias sem luz.

A CEEE-Equatorial, que atende majoritariamente Porto Alegre, tem 135 mil clientes sem luz. Segundo a concessionária, o número corresponde a 22% dos pontos afetados no dia 16 -78% foram restabelecidos.

O superintendente da CEEE-Equatorial, Sergio Valinho, afirma que, devido à complexidade dos danos na rede elétrica, o restabelecimento pode ser concluído somente no domingo. A empresa diz que deslocou funcionários de outras regiões do país para Porto Alegre, onde centenas de árvores caíram sobre os fios.

O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), chegou a pedir empréstimo e doação de motosserras.

A insatisfação com as respostas da CEEE Equatorial às sucessivas intempéries climáticas que afetam o RS desde 2023 levou a Câmara Municipal e a Assembleia Legislativa a se mobilizarem por CPIs (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a atuação da empresa após sua recente privatização. A distribuidora da CEEE, a CEEE-D, foi privatizada em 2021 e arrematada pelo Grupo Equatorial, que pagou R$ 100 mil e assumiu um passivo de R$ 7 bilhões. Os setores de geração e transmissão de energia foram vendidos separadamente.

Na Câmara, a vereadora Cláudia Araujo (PSD) disse já ter o dobro das 12 assinaturas necessárias para investigar a concessionária na volta do recesso parlamentar, em fevereiro. Na Assembleia, deputados do PT comandam a tentativa de abrir uma CPI, mas a possibilidade de desgaste para o governador Eduardo Leite (PSDB) pode fazer com que a base governista rejeite a ideia.

Na quarta (17), o governador disse que a empresa "precisa melhorar sua relação com as autoridades e com a sociedade". Caso não mude sua postura, continuou Leite, "ao longo do tempo ela [CEEE Equatorial] poderá enfrentar um processo de retirada da sua concessão".

Na manhã seguinte ao temporal, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), reclamou, em entrevistas e nas redes sociais, da dificuldade em contatar um representante da empresa. Ironicamente, ao citar a empresa em seu perfil no X, Melo recebeu respostas automáticas.

A RGE, por sua vez, disse que 272 mil clientes da sua área de cobertura estavam sem energia até as 17h30 desta quinta, 200 mil deles na região metropolitana de Porto Alegre. As demais regiões afetadas foram a central (19 mil clientes) e os vales do Rio Pardo (23 mil), dos Sinos (9.000) e do Taquari (27 mil).

SHOPPINGS LOTADOS PARA USAR TOMADAS

Em Porto Alegre, tomadas de shoppings e supermercados viraram pontos disputados para carregar celulares e outros equipamentos, com filas e pessoas sentadas no chão próximas aos pontos de energia, muitas com réguas e extensões. Nos mercados, faltam velas e gelo.

Atendidas por geradores de luz e diesel e com sinal de internet, a rede de hotéis Master, que tem sete unidades na cidade, registrou aumento de 300% nas reservas.

Nesta quinta (18), a Defensoria Pública do RS encaminhou ofício para a CEEE Equatorial solicitando informações e providências. O documento cita a resolução normativa da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) que determina, em caso de interrupção do abastecimento devido a condições do tempo, que a distribuidora tem 24 horas para normalizar o serviço em zonas urbanas e até 48 horas em zonas rurais.

Segundo a Sala de Situação do Governo do RS, o fenômeno meteorológico que atingiu Porto Alegre e região foi uma supercélula. Trata-se de um evento considerado raro com nuvens de desenvolvimento vertical com uma rotação intensa capaz de causar grandes estragos em pouco tempo com pancadas de chuva e rajadas de vento em torno de 100 km/h.

Porto Alegre passou por evento semelhante em 29 de janeiro de 2016, quando a cidade foi atingida por ventos de até 120 km/h, causando grandes danos materiais.


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