RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - "Lugar de mulher é onde ela quiser." É com esse enredo que a primeira escola de samba feminina do Brasil vai estrear no Carnaval da Intendente Magalhães, no subúrbio do Rio de Janeiro.

O desfile que acontecerá no próximo dia 17 é esperado há mais de dez anos por centenas de mulheres que formam a Turma da Paz de Madureira, conhecida como TPM.

Para brindar esse momento, a escola vai contar na avenida a luta, o empoderamento e as conquistas de mulheres que atravessam os tempos, com a reedição de um samba do Império Serrano -este do Grupo Especial do Carnaval do Rio.

"A luta e exemplo destas mulheres, como Dandara Palmares (guerreira negra do período colonial do Brasil) e Tereza de Benguela (líder quilombola), são o combustível para as nossas lutas de hoje, dando vozes àquelas que foram caladas por muito tempo. Uma luta ancestral", afirmou a presidente, fundadora e carnavalesca da TPM, Bárbara Rigaud.

"É por isso que precisamos levar este samba para a avenida e mostrar que podemos vencer esta guerra", completou, referindo-se ao machismo no Carnaval.

A escola foi fundada como bloco carnavalesco em 20 de janeiro de 2012, na festa de São Sebastião, na quadra da Portela, em Oswaldo Cruz, na zona norte do Rio.

"A gente reunia um grande número de amigas para festejar o dia do padroeiro da cidade do Rio. Naquele ano, tivemos a ideia de formar um bloco somente de mulheres. A nossa turma era tão grande que resolvemos fundar um bloco que usava muito roupas na cor branca, trazendo a pomba da paz como símbolo. Daí o nome Turma da Paz de Madureira, que acabou casando com a sigla TPM", contou a presidente.

O que era uma brincadeira, com o tempo passou a ser encarado com mais seriedade, à base de muito sacrifício por parte das mulheres: "Choramos muito neste processo. É uma luta cansativa e dolorosa", disse Bárbara.

Em 2023, a agremiação passou pela peneira do Grupo de Avaliação, organizado pela Superliga para avaliar as escolas candidatas a se apresentar na Intendente Magalhães.

Conhecida como Passarela Popular do Samba, o Carnaval da Intendente é o local por onde passam as agremiações das séries Prata, Bronze e grupo B do Rio. As escolas disputam uma vaga na elite do samba carioca.

A apresentação do ano passado foi decisiva para a TPM, que conquistou o terceiro lugar e se classificou para desfilar, pela primeira vez, na Série Bronze do Carnaval de 2024, passando de bloco carnavalesco para escola de samba oficial. Mas o sonho de alçar outros voos já bate forte no coração da escola.

"Nosso objetivo é chegar à Marquês de Sapucaí. E iremos chegar", disse a presidente da agremiação.

Hoje, a escola, cuja bandeira é nas cores azul e branca com fundo em arco-íris (símbolo do movimento LGBT), representa o empoderamento feminino.

"É uma escola que não está só preocupada em ganhar título de Carnaval, mas principalmente de fazer com que nós, mulheres, possamos vencer as batalhas diárias. É isso que a TPM faz, te empodera, coloca pra cima, valoriza o seu potencial", afirmou a diretora de Carnaval Gisele Rosires.

Da presidência às alas de compositoras e ritmistas, a escola conta com 600 mulheres ou por qualquer pessoa que se identifique com o gênero. A exceção são os mestre-sala, por exigência dos regulamentos das ligas.

A diretora afirma que, diante de tanto trabalho para colocar um desfile na avenida, a principal dificuldade para a TPM é o preconceito. "A gente faz tudo o que uma escola de samba formada por homens e mulheres faz, mas a estrutura do Carnaval não está preparada para uma agremiação só de mulheres. Mas a gente transforma isso em ritmo, amor, na cadência e na forma de fazer Carnaval diferenciado", afirmou Gisele.

"É uma escola que não está só preocupada em ganhar título de Carnaval, mas principalmente de fazer com que cada uma de nós possa vencer as batalhas diárias; ganhar nosso troféu a cada dia. É isso que a TPM faz, te empodera, coloca para cima, valoriza o seu potencial", completou.

Gisele se aponta como próprio exemplo do que diz. "Foi aqui que me reergui quando passei por momentos muito difíceis, e me desenvolvi. Hoje estou no cargo de diretora, mas faço de tudo. Já me aventurei nos adereços, também sou ritmista. E não tem cansaço porque me dá um prazer gigantesco estar no lugar que me acolheu, enxugou minhas lágrimas. Agora, o que a TPM fez por mim, eu estou fazendo por outras mulheres", disse.


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