RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - "Conheço quem teve e ainda quem morreu de dengue. Agora me sinto mais segura e estou na expectativa de receber a segunda dose", disse a autônoma Pauliana Soares, 32, a primeira pessoa a se vacinar contra a Qdenga no Rio de Janeiro, nesta sexta-feira (16).

O imunizante começou a ser aplicado em moradores da região de Guaratiba, na zona oeste da capital fluminense, para um estudo inédito sobre a efetividade do imunizante fabricado pelo laboratório japonês Takeda e recém-incorporado pelo Ministério da Saúde ao PNI (Programa Nacional de Imunizações). A vacina será aplicada em duas doses com intervalo de 90 dias.

Para a pesquisa, serão vacinados 20 mil adultos entre 18 a 40 anos de idade, para verificar a eficácia da vacina nessa faixa etária. Essas pessoas serão monitoradas por dois anos pelos pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), que vão observar a diferença de comportamento do vírus entre vacinados e não vacinados.

No final de fevereiro, o município vai começar a vacinar crianças de 10 a 14 anos. A cidade recebeu 354 mil doses do governo federal para o início da campanha.

A participação no estudo é voluntária. Os nomes são sorteados entre usuários cadastrados nas unidades de atenção primária de saúde de Guaratiba. Não poderão participar gestantes e lactantes. Quem já teve dengue não está impedido de participar da pesquisa, exceto se contraído a doença nos últimos seis meses, além de pessoas com problemas de imunodepressão.

O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz explicou que o local foi escolhido por conta da alta incidência de casos e pela facilidade de controle populacional.

"Guaratiba foi escolhida por ser uma das regiões de maior incidência de dengue do Rio, além de ter um perfil de população com pouca migração e ter 100% da área coberta pela atenção primária de saúde", disse o secretário. No Rio, as áreas da cidade com maior incidência da doença são os bairros de Guaratiba e Campo Grande.

A proposta do estudo foi apresentada ao governo federal pela Secretaria de Saúde do município que, por sorteio, selecionou os meses de nascimento maio, agosto, outubro e novembro como critério de definição dos participantes.

"É um momento histórico para a gente. Esperamos produzir artigos científicos para que possamos olhar com mais segurança os próximos passos da vacinação", afirmou Soranz.

O estudo terá duração de dois anos, com resultados parciais nos períodos de seis, 12, 18 e 24 meses. Nesse tempo, os pesquisadores colherão informações sobre casos, hospitalizações e mortes relacionadas à doença. O objetivo é comparar a incidência de infecção sintomática de dengue em um grupo vacinado com um grupo da mesma região que não recebeu as doses.

Coordenador do estudo, o médico infectologista da Fiocruz José Cerbino Neto disse que os dados colhidos vão oferecer novas evidências científicas para a tomada de decisão na vacinação dos demais públicos aprovados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

"Precisamos entender essas informações da vacina no nosso contexto. Principalmente para, na hora de tomarmos decisões de saúde pública, entender o que ela vai trazer de custo-benefício", afirmou.

"No primeiro momento vamos confirmar os dados de segurança e, depois, o quanto ela protege essa população que tem diferentes perfis, como diversos históricos de exposição à dengue e outras arboviroses", completou o especialista.

O estudo envolve também pesquisadores da Universidade de Brasília, sob a coordenação do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas.

A ação se associa a pesquisa já desenvolvida em outras regiões pelo Brasil que avaliam a efetividade da vacina no mundo real. É o caso da pesquisa em Dourados, no Mato Grosso do Sul, que teve início em 3 de janeiro.

"Há ainda uma pesquisa nacional de efetividade da vacina em desenvolvimento pela Fiocruz Bahia e outros estudos em fase de análise pela Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, do Ministério da Saúde", disse Ethel Maciel, responsável pela pasta.

A secretária afirmou ainda que, ao todo, serão distribuídos para os estados, que farão repasses para os municípios, 6 milhões de doses para 3 milhões de pessoas na faixa de 10 a 14 anos. A campanha de vacinação contra a dengue deve começar ainda neste mês.

As doses começaram a ser distribuídas na última semana, e a oferta já começou pelo Distrito Federal, onde a primeira remessa de doses chegou na quinta-feira antes do Carnaval.

A proteção será destinada em âmbito nacional a jovens de 10 a 14 anos de 521 cidades selecionadas pelo Ministério da Saúde por terem maior incidência da doença.

No Rio, a vacinação para este público está prevista para iniciar na capital entre o final de fevereiro. "Provavelmente dia 28, e a primeira semana de março, de forma escalonada, começando por meninos de meninas de 10 e 11 anos", afirmou Soranz.

A imunização deve avançar gradativamente para as demais faixas de idade, conforme forem chegando as 354 mil doses que serão destinadas pelo Ministério da Saúde para o Rio.

A capital fluminense já acumula 21 mil casos de dengue em 2024. O número já é quase o mesmo de ocorrências em todo o ano de 2023, que totalizou 23 mil ocorrências. A cidade, que já registrou duas mortes pela doença neste início de ano, está em situação de emergência desde o dia 5 deste mês.

Em todo estado, são quatro óbitos em 2024: dois na capital, um em Mangaratiba e um em Itatiaia.


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