MOSSORÓ, RN, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, afirmou neste domingo (18) que só soube pela imprensa dos relatórios produzidos por autoridades policiais que identificavam, em 2021, falhas na vigilância do presídio federal de Mossoró (RN).
"Na administração pública, isso (produção de relatórios) é comum. É preciso avaliar a qualidade dos relatórios, se foram sanados os problemas avaliados, e tudo isso será analisado pelo doutor André [Garcia, secretário de Politicas Penais] na sindicância que foi aberta", disse o ministro.
"Não vamos deixar nenhum defeito, falha de procedimento ou nenhum problema de equipamento para trás. Daqui para frente, como sempre tivemos presídios muito seguros, eles serão ainda mais seguros", completou.
Em entrevista coletiva, Lewandowski ainda confirmou que os criminosos usaram uma barra de ferro da própria cela para abrir um buraco no vão da luminária, por onde saíram. "Essas falhas estruturais que são mantidas a são porque os presídios foram construídos em 2006", justificou.
Lewandowski chegou a Mossoró (RN) neste domingo para acompanhar as buscas pelos fugitivos da penitenciária federal da cidade. Ele deve voltar na tarde do mesmo dia a Brasília.
Já são cinco dias de buscas pelos dois detentos. Eles chegaram a invadir uma casa e fizeram um casal de refém na noite de sexta-feira (16), tendo levado dois celulares e carregadores.
Na casa dos reféns, eles obrigaram as vítimas a cozinharem e assistiram televisão e fizeram ligações. A dupla deixou o local após cerca de quatro horas.
Em um primeiro rápido pronunciamento após o desembarque em Mossoró, Ricardo Lewandowski disse que a fuga é uma "dificuldade momentânea" que será superada em breve.
"A minha presença aqui é, antes de mais nada, [para] mostrar que o governo federal está presente", disse Lewandowski. Segundo ele, o problema na penitenciária de Mossoró não afeta a segurança das cinco penitenciárias federais do país.
As fugas, fato inédito em presídios federais, ocorreram na passagem de terça (13) para quarta-feira (14), mas os agentes da penitenciária só detectaram a ausência dos homens na manhã de quarta, quando as buscas começaram a ser realizadas.
Os fugitivos foram identificados como Rogério da Silva Mendonça, 36, conhecido como Tatu, e Deibson Cabral Nascimento, 34, chamado de Deisinho. Segundo as investigações, eles são ligados ao Comando Vermelho.
Eles chegaram a ser vistos por moradores de Mossoró na manhã de sexta-feira (16), de acordo com investigadores, ocasião em que forças de segurança encontraram pegadas e roupas dos fugitivos.
A gestão das penitenciárias federais é de responsabilidade do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Trata-se da primeira crise enfrentada pelo ministro Lewandowski após 13 dias de sua posse. A fuga foi a primeira registrada nesse sistema desde sua implantação, em 2006.
A fuga provocou uma crise no governo e causou medo na população local. O juiz federal Walter Nunes, corregedor da Penitenciária Federal de Mossoró , disse à Folha que, "sem dúvidas", esse foi o episódio mais grave da história dos presídios de segurança máxima do país.
Os dois presos estavam em RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), onde as regras são mais rígidas que as do regime fechado. Nesse tipo de ala há um local para o banho de sol para que os detentos não tenham contato com outros presos.
Os investigadores concluíram que os dois fugitivos usaram uma barra de ferro, retirada da estrutura da própria cela, para escavar um buraco no vão da luminária. Com a abertura do espaço, os presos conseguiram escapar.
Os detentos teriam conseguido a barra de ferro, de cerca de 50 centímetros, descascando parte da cela que já estava comprometida, devido a infiltração e falta de manutenção.
A dupla conseguiu alcançar o teto do presídio e se depararam com ferramentas que eram utilizadas na reforma interna do prédio. Com um alicate para cortar arame, eles conseguiram passar pela grade que impedir o acesso ao lado externo do complexo.
De acordo com Lewandowski, algumas câmeras não estavam funcionando de forma adequada; lâmpadas, que poderiam ter ajudado na detecção da fuga, também estavam com defeito.
Os dois detentos haviam sido transferidos do Acre para o presídio em Mossoró, cidade localizada a 281 quilômetros de Natal (RN), após uma rebelião que deixou cinco pessoas mortas em julho do ano passado.
De acordo com o governo acreano, Tatu e Deisinho, que se declaram integrantes do Comando Vermelho, estavam entre os 14 presos transferidos para o sistema federal, em setembro passado, suspeitos de liderarem a matança. Eles cumpriam penas de 74 anos e 81 anos, respectivamente, no presídio de segurança máxima Antônio Amaro, destinado a abrigar chefes do crimes.
Ambos foram condenados a crimes envolvendo roubo à mão armada, ainda conforme informações do Governo do Acre.
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