SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Para marcar o primeiro ano da tragédia que deixou 64 mortos na cidade de São Sebastião, litoral norte de São Paulo, a gestão Felipe Augusto (PSDB) programou dois shows sertanejos para a manhã desta segunda (19). A comemoração gerou diversas críticas nas redes sociais.
Para o "Show da Reconstrução", como foi nomeado o evento pela prefeitura, foram contratados shows da dupla Henrique & Diego e da cantora Fernanda Costa. O evento acontece a partir das 10h, no bairro Baleia Verde, onde serão entregues 518 moradias, com a presença do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
"Amanhã (hoje), é um dia marcante para nossa cidade. Contudo, precisamos celebrar a vida, a reconstrução de São Sebastião e as 518 famílias que neste dia, iniciam um novo capítulo da sua história, com sua casa própria", traz publicação de domingo (18) no perfil da Prefeitura de São Sebastião.
"Trabalhamos incansavelmente em obras de de saneamento, pavimentação, drenagem, construção de novas escolas, novas unidades de saúde, na tentativa de levar dignidade para os brasileiros que aqui vivem", completa a publicação.
A iniciativa gerou diversas críticas e reclamações.
"Comemorar o que? A morte de mais de 60 pessoas porque o prefeito -que agora quer lucrar com a tragédia- deixou de fazer o que devia?", questionou Eduardo Magossi.
"Quanta ignorância fazer barulho onde o silêncio é símbolo de respeito. Respeito as vitimas, aos familiares que perderam seus entes, amigos? A população que hoje (a maioria) sofre de estresse pós traumático. Vocês erraram, e erraram feio", afirmou Julia Tavares.
"Fazer festa no dia que muitos choram pela perda de familiares e amigos. Reconstrução? Noção pra que né?", criticou Pâmela Sena.
Adriana Santos disse que a ideia foi infeliz.
"Show???? Quanta falta de respeito com as famílias das vítimas. Amanhã [hoje] a lembrança é de dor de tristeza, não há motivos para 'Festa' muito infeliz essa ideia."
"Show da reconstrução? Vocês são doentes? Gente. Morreu + de 60 pessoas e vocês vão comemorar o que?", perguntou Stéfan Pitelli.
A gestão Felipe Augusto foi questionada na manhã desta segunda sobre a decisão de promover os shows e o valor investido, e respondeu que é preciso celebrar a vida.
"Sabemos que é um momento marcante para as vítimas das chuvas, contudo também precisamos celebrar a vida, a reconstrução de nossa cidade e das 518 famílias que neste dia 19/02/2024 iniciam um novo capítulo em sua história, com sua casa própria", afirmou.
"Trabalhamos incansavelmente em obras de saneamento, pavimentação, drenagem, construção de novas escolas, novas unidades de saúde, na tentativa de levar dignidade para os brasileiros que vivem em São Sebastião. Sabemos que ainda há muito a se fazer, e continuaremos trabalhando. Celebrar a vida e o recomeço é a nossa intenção", completou a resposta.
CHUVA HISTÓRICA DEIXOU 64 PESSOAS MORTAS
Na madrugada de 19 de fevereiro de 2023, mais de 600 milímetros de chuva desabaram sobre a cidade. O maior volume já registrado em uma única precipitação no país dissolveu encostas na Serra do Mar que caíram sobre estradas e casas, deixando 64 mortos na cidade e muitos desabrigados.
Um ano depois da tragédia, a resposta do poder público à crise, apesar de bilionária, acumula atrasos, recuos e desacertos quanto a oferta de moradia, desocupação de locais sujeitos aos efeitos de eventos climáticos extremos e conclusão de obras preventivas.
É no ponto crítico da tragédia que ficam evidentes os obstáculos para a conclusão de obras estruturantes que podem preparar uma cidade para eventos climáticos extremos. Liderada pela gestão Tarcísio, a transferência de moradores para 704 unidades em dois conjuntos habitacionais nos bairros Baleia Verde e Maresias é, ao mesmo tempo, uma das mais avançadas ações de enfrentamento ao problema e também o mais visível exemplo de dificuldade na gestão da crise.
O atraso de seis meses para a conclusão dos dois conjuntos da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo) -o de Baleia Verde será inaugurado nesta segunda (19)-, porém, nem é o problema central. Obras desse porte levam até 36 meses, diz o governo. A questão é que muitos dos residentes da Vila Sahy não foram convencidos a trocar seus imóveis pelos apartamentos e permanecem na encosta. Querem ter prejuízos indenizados após anos pagando impostos para viver ali.
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