MOSSORÓ, RN (FOLHAPRESS) - Investigações apontam que a penitenciária federal de Mossoró (RN), da qual dois presos fugiram neste mês, não estava fazendo revistas diárias nas celas ou nos detentos. As buscas completam uma semana nesta terça-feira (20).

Segundo pessoas que acompanham as investigações, esse é considerado um erro de procedimento, tendo em vista que essas atividades devem ser realizadas diariamente. Mesmo as celas desocupadas no presídio federal também deveriam receber inspeções regulares.

Esse é mais um elemento que ajudaria na segurança dentro do sistema penitenciário, além de rondas, iluminação e monitoramento por câmeras. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, já havia mencionado uma série de falhas e erros na construção do presídio.

Isso porque a luminária por onde os presos fugiram não estava protegida por concreto -apenas por alvenaria. Além disso, o ministro afirmou que algumas câmeras de vigilância não estavam funcionando adequadamente, assim como algumas lâmpadas.

Investigadores também já afirmaram que há relatórios de inteligência que alertaram o Ministério da Justiça sobre problemas na penitenciária.

O primeiro, de 2021, teria apontado que mais de cem câmeras estavam inoperantes em Mossoró; o outro, de 2023, teria alertado sobre a possibilidade de fuga pela luminária, exatamente como ocorreu com os dois fugitivos.

Além disso, pessoas que tiveram acesso ao presídio disseram que a unidade estava mal conservada. Uma das hipóteses para que isso acontecesse foi a descontinuação do contrato de manutenção predial entre os anos de 2020 e 2022.

De acordo com as investigações, os fugitivos estavam em celas distintas e conseguiram sair através dos buracos das luminárias de cada cela.

A investigação aponta que os dois fugitivos usaram uma barra de ferro retirada da estrutura da própria cela para escavar o buraco da luminária pelo qual conseguiram escapar.

Ao adentrarem em um shaft (espaço ao lado das celas destinado à manutenção do presídio, onde estão localizadas máquinas e tubulações), alcançaram o teto do sistema prisional, que não tinha grade, laje ou um sistema de proteção.

Segundo o ministro da Justiça disse em entrevista coletiva, o presídio estava passando por uma reforma interna, havendo operários e ferramentas que possivelmente estavam espalhadas e ao alcance dos fugitivos. Na sua visão, as ferramentas não estavam devidamente acondicionadas.

A fuga dos detentos chegou ao sétimo dia nesta terça-feira (20). Policiais que trabalham na procura pelos dois detentos têm enfrentado diferentes desafios, como buscas em cavernas e matas, presença de animais peçonhentos e chuvas frequentes.

Segundo agentes que atuam na área operacional, as buscas continuam em um raio de 15 km, com o empenho integrado de todas as forças de segurança federais e estaduais. Nas áreas de rodovia que dão acesso a divisas, há barreiras em pontos mais distantes.

Os policiais afirmam usar fiscalização, inteligência e equipamentos. Helicópteros também estão sobrevoando a região.

A avaliação é que a equipe está bem alinhada, diferentemente do que ocorreu nos dois primeiros dias. A zona rural de Mossoró não tem sinal de celular, e nem todos os rádios comunicadores estavam na mesma frequência, por serem de forças diferentes. Após esses percalços iniciais houve também uma organização para que cada força ficasse responsável por uma área.

Novos policiais têm chegado quase todos os dias à região. Já são cerca de 500 envolvidos, segundo o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski. A Polícia Militar de Pernambuco, por meio da Ciosac (Companhia de Operações e Sobrevivência na Área de Caatinga), por exemplo, começou a operar no domingo (18).

Nesta segunda (19), o ministro autorizou o emprego de mais 100 homens da Força Nacional nas buscas. As forças policiais embarcaram na tarde desta terça-feira (20) para Mossoró.

A Folha de S.Paulo acompanhou na noite de sábado (17) e madrugada de domingo (18) parte das buscas aos dois fugitivos da penitenciária federal de segurança máxima.

Ao longo de aproximadamente três horas, a equipe percorreu rodovias e áreas rurais. Além dos policiais nas vias, havia o barulho constante de um helicóptero da polícia que sobrevoava a região.

Durante as abordagens, os policiais, vestindo uniformes pretos e portando armas de grosso calibre, solicitavam a abertura dos vidros dos veículos e realizavam revistas nos porta-malas.

Os bandidos fugiram do sistema prisional na madrugada de quarta-feira (14) e teriam furtado roupas e alimentos no período da noite na comunidade Rancho da Caça. Eles foram identificados como Rogério da Silva Mendonça, 36, conhecido como Tatu, e Deibson Cabral Nascimento, 34, o Deisinho. Segundo as investigações, eles são ligados ao Comando Vermelho.

Os dois detentos foram vistos pela primeira vez após a fuga na noite de quinta-feira (15). Eles fizeram uma família refém na sexta (16), tendo levado dois celulares e carregadores.

Os fugitivos se alimentaram na casa invadida e partiram cerca de quatro horas depois, levando com mantimentos. Não houve violência.


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