SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, determinou na manhã desta quarta-feira (21) uma série de trocas na cúpula da Polícia Militar. As mudanças, publicadas no "Diário Oficial", incluem a exoneração do número 2 da corporação, o coronel José Alexander de Albuquerque Freixo.
A medida, que enfraquece ainda mais o comandante-geral da PM, Cássio Araújo de Freitas, revoltou grande parte dos oficiais superiores da corporação. Em um movimento inédito, o coronelato paulista promete retaliações e, agora, diz nos bastidores trabalhar para a queda do próprio Derrite -no cargo desde o início da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos).
O motivo da revolta seria, entre outros, a forma como as mudanças foram feitas. Os oficiais mais prejudicados afirmam que ficaram sabendo das movimentações pelo "Diário Oficial", algo considerado desrespeitoso no trato com quem está em função de comando e vem se dedicando à PM há décadas.
Derrite e a Secretaria da Segurança foram procurados pela reportagem, mas não se manifestaram sobre as mudanças até a publicação deste texto.
Oficiais ouvidos pela reportagem disseram não saber explicar qual tipo de política de segurança o secretário quer implementar com essas mudanças, até porque não houve diálogo sobre isso. A mensagem mais clara, segundo eles, é colocar pessoas da confiança nos cargos de interesse dele.
É rara a troca de um subcomandante durante a gestão de um comandante. Oficiais ouvidos citaram apenas um episódio em que isso aconteceu, mas o subcomandante, na ocasião, havia sido obrigado por lei por conta do seu tempo no posto de coronel.
Além disso, os policiais também ficaram muito descontentes porque Freixo é considerado um dos mais respeitados coronéis paulistas. É visto como o principal defensor da PM contra as interferências políticas na instituição e o avanço da "mentalidade bolsonarista" em postos chave.
O subcomandante, que é o responsável pela implantação das políticas de segurança na PM, teria se recusado a cumprir medidas consideradas políticas e, com isso, desagradado o secretário. Conforme disse a amigos, a intenção dele era manter a corporação como uma polícia de estado e não de governo.
Freixo também é, segundo oficiais ouvidos, um dos críticos das operações letais na Baixada Santista e, por outro lado, um dos defensores da ampliação do programa de câmeras corporais na tropa. No lugar dele, Derrite coloca o comandante do Choque, coronel José Augusto Coutinho, supostamente mais alinhado com a política de enfrentamento do secretário.
Em um grupo fechado no WhatsApp, Freixo agradeceu às manifestações de apoio e deu o tom do sentimento dele com essa troca. "Bom dia! Hoje encerro mais um ciclo. Saio com a consciência e mãos limpas. Deus proteja a nossa querida PMESP [Polícia Militar do Estado de São Paulo]!".
A possibilidade de mudança vinha sendo acompanhada pela Folha desde a semana passada, quando Derrite passou a comentar abertamente sobre o assunto. Em resposta aos recados enviados, conforme coronéis ouvidos pela reportagem, o secretário teria sido avisado da possível rebelião.
Assim, para os oficiais ouvidos, a medida é vista com um "aposta tudo" de Derrite no braço de ferro com os coronéis -que nunca esconderam o descontentamento com a escolha desse secretário. Agora, a análise deles é que ou Derrite é derrubado do cargo pelo coronelato ou sai ainda mais fortalecido, especialmente na base da corporação.
Isso seria importante nas pretensões políticas do secretário, tido como virtual candidato ao Senado.
Entre as possíveis medidas de retaliação estariam a permanência de um grupo de cerca de 30 coronéis na ativa, que deveriam ir para reserva com a assunção de Coutinho.
Como na PM antiguidade é considerado posto, esses policiais não poderiam, em tese, ser comandados por alguém com menos tempo de polícia. Com a aposentadoria, seriam abertas vagas para os tenentes-coronéis serem promovidos. A escolha dos novos chefes seria feita, na prática, por Derrite.
Com pedidos de licença, férias e outros tipos de afastamento, o grupo de coronéis impediria o secretário de fazer essas escolhas. Uma saída de Derrite seria publicar uma medida para obrigar esses coronéis mais antigos e irem para reserva, algo cogitado.
Outra possibilidade dessa rebelião é a de os novos indicados não assumirem as funções. Isso criaria um vácuo inédito na instituição. Entre os coronéis que os colegas diziam esperar esse comportamento está o próprio Coutinho que, internamente, teria manifestado o desejo de não assumir o comando até por temer uma "implosão" da PM. Com isso, Tarcísio teria de agir.
Essa não foi a primeira vez que Derrite faz mudanças pelo "Diário Oficial" e desagrada os coronéis. No ano passado, ele mudou três nomes desta forma. Na época, o coronel da reserva José Vicente da Silva criticou esse comportamento do secretário e alertou para o silêncio dos colegas para caso tão grave.
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