SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Embora a maioria da população brasileira disponha de banheiros dentro de casa, cerca de 2,4 milhões de pessoas dependiam, em 2022, de buracos ou sanitários simples ?em cômodos sem instalações para banho. Ainda, em 367 mil domicílios não havia nenhuma dessas estruturas.

A presença de banheiros tem aumentado no Brasil, mas a rotina de 1,2 milhão (0,6%) de brasileiros sem essa estrutura indica abismos no saneamento e riscos à saúde. Ainda, 0,5% da população do país, cerca de 1 milhão de pessoas, tinha um banheiro compartilhado com mais de um domicílio.

A maior ampliação da presença de banheiros foi registrada no Norte e no Nordeste do país, regiões que ainda têm as menores proporções entre as regiões, com 90,5% e 95,3%, respectivamente, de moradores com banheiro de uso exclusivo.

É o que mostram dados das características de domicílios do Censo Demográfico 2022, publicados nesta sexta-feira (23) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Considerando a ausência de banheiros, o estado que lidera entre as unidades federativas é o Piauí (5%), seguido por Acre e Maranhão, ambos com 3,8% de suas populações afetadas.

As informações consideram os moradores de domicílios particulares permanentes ocupados, que representam 99,5% da população registrada no recenseamento do ano retrasado, ou 202.083.020 pessoas.

O número de banheiros em domicílios também cresceu entre os registros do Censo de 2010 e 2022. De acordo com o IBGE, no registro anterior, havia 71,5% de domicílios com apenas um banheiro de uso exclusivo. No último Censo, esta parcela caiu para 66,3%.

No recorte de cor ou raça, indígenas representam a parcela com menos acesso a banheiro exclusivo no domicílio (61,7%). Amarelos e brancos lideram com 99,6% e 99,3%.

A ausência de banheiro, segundo o IBGE, pode indicar a defecação a céu aberto. Além do impacto na dignidade, o problema está ligado a contaminações e doenças, segundo Jaime Oliveira, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, vinculada à Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).

"Uma comunidade que deposita isso no solo pode contaminar a água que vai puxar em um poço. Dependendo da profundidade, pode pegar excreta diluída. Esse é o drama."

Para o epidemiologista e pesquisador da Fiocruz Amazônia Jesem Orellana, a precariedade da cobertura no saneamento básico é a causa de mortes evitáveis ou internações por leptospirose, diarreia e gastroenterite, entre outros problemas.

O aumento risco, diz ele, ainda está associado ao aumento de eventos extremos, como ondas de calor e chuvas. "Isso precisa ser colocado no contexto de crise climática. Os desastres vão acontecer com frequência maior, e a precariedade de infraestrutura de saneamento e distribuição de água tem impacto desigual. Os mais debilitados são os mais sensíveis."

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